Barcelona, Espanha, novembro/2011 – Danielle Mitterrand, uma das mulheres mais notórias dos últimos anos, faleceu após longa e frustrada vida a favor dos humildes.
Exemplar no cumprimento de seu compromisso vital em favor da emancipação de todos os seres humanos e de sua igual dignidade.
Formada no pensamento de uma família liberal, sua vida foi de compromisso e resistência, primeiro em Cluny onde viveu sua infância, depois em qualquer lugar do mundo onde sua presença era necessária.
Estava na primeira linha de fogo quando se tratava de defender as liberdades mesmo com risco da própria vida, como em Souäimaniyah, na Turquia, naquele 6 de julho de 1992 em que morreram sete pessoas, e o destino achou por bem salvá-la. Pouco antes da explosão de um carro-bomba ela mudou de veículo por razões de organização. Nunca conseguiu esquecer aquela tragédia sobre a qual dizia que “deveria ter morrido com meus companheiros”.
Era uma mulher serena, de olhar expressivo, amorosa. Guardava em seu interior recordações que nunca virão à luz. Foi digníssima primeira-dama durante os 14 anos nos quais François Miterrant foi presidente da França.
Dedicou sua vida à Fundação France Libertés, que no mês passado completou 25 anos. Seu trabalho na Educação para a Paz tinha ultimamente uma dedicação especial para conseguir que todos os seres humanos do planeta tivessem acesso a água.
Há mais de 15 anos lutava pela necessidade de uma mudança radical para enfrentar a “ditadura econômica e financeira”.
Fez tudo que esteve ao seu alcance não só para ajudar mas para criar um amanhã mais de acordo com as qualidades desejadas por todos os seres humanos. “Espero que todos compreendam e participem da urgente e indispensável metamorfose da sociedade humana para uma nova civilização.”
Rebelde, obstinada, defendeu seus princípios a todo momento. Sempre soube observar o conjunto e a individualidade, para atender os que estão excluídos da sociedade próspera materialmente, destes 20% dos habitantes da Terra que, com frequência, não sabem (ou não querem) olhar para os mais de cinco milhões de pessoas – todas iguais em dignidade – que vivem, em uma crescente progressão de precariedades, fora do recinto acomodado da aldeia global.
Danielle Mitterrand foi um farol que iluminava o céu tenebroso deste mundo que não é o que desejamos. Continuaremos sua luta, a favor da humanidade e dos povos. Seu exemplo nos dá coragem. Nunca a esqueceremos. Envolverde/IPS
* Federico Mayor Zaragoza, ex-diretor-geral da Unesco, é presidente da Fundação Cultura de Paz e presidente da agência IPS.