Arquivo

De país doador a receptor de ajuda

[media-credit name=”Suvendrini Kakuchi/IPS” align=”alignleft” width=”300″][/media-credit]
Uma menina escreve uma mensagem de solidariedade às vítimas durante o Festival de Cinema de Okinawa.
Tóquio, Japão, 14/4/2011 – No Japão, abril é tradicionalmente a época do Hanami, festividade em que milhões de pessoas em todo o país celebram o florescimento das cerejeiras em parques e ruas. Porém, depois do terremoto e do tsunami de 11 de março, que deixou quase 30 mil mortos e desaparecidos, o espírito festivo em Tóquio e outras grandes cidades foi substituído por um propagado sentimento de solidariedade.

“O terrível desastre na região de Tohoku levou a nação a lançar um movimento de caridade”, disse à IPS o escritor e crítico social Kyoichi Kobayahsi. “É uma experiência totalmente nova para o povo, acostumado a um estilo de vida marcado pelo poderio econômico japonês do pós-guerra”.

De fato, da Ilha de Hokkaido, no Norte, até Okinawa, a ponta Sul do arquipélago, centenas de grupos de voluntários locais, companhias e organizações lançaram projetos de ajuda ou trabalham como voluntários para ajudar as populações afetadas nas áreas do desastre. Por exemplo, o festival de cinema internacional organizado anualmente em Okinawa pela Yoshimoto Kogyou, uma importante empresa de entretenimento, este foi ano destinado a expressar apoio às vítimas.

O governador de Tóquio, Shintaro Ishihara, pediu à população que suspendesse este ano as celebrações do Hanami e mostrasse sua solidariedade com Tohoku. “Não é momento para as pessoas beberem enquanto observam as flores das cerejeiras”, afirmou.

O Japão passou de país doador a um que necessita desesperadamente de ajuda, disse Kyoichi. A grande destruição e a crise nuclear no complexo de Fukushima deixaram evidente a falta de preparo, apesar de sua vulnerabilidade diante dos terremotos, acrescentou. “O caos que presenciamos em Tohoku é uma grande lição. Milhares de pessoas ainda estão perdidas em centros de evacuação, há carência de comida e água”, afirmou. O Japão passou, “em poucos segundos”, de principal país doador a “um receptor” de ajuda.

O sentimento de solidariedade com o Japão foi bem descrito pelo próprio primeiro-ministro, Naoto Kan, que, no dia 11, mandou publicar uma mensagem em jornais de todo o mundo. Agradeceu aos laços de amizade demonstrados por mais de 130 nações depois do desastre e prometeu que seu país “se recuperará com seus próprios esforços e a ajuda da comunidade internacional. O Japão voltará mais forte, para corresponder a atenção que recebeu”, afirmou.

O especialista em relações internacionais, Takeshi Inoguchi, destacou que o Japão recebeu doações de países como Ruanda e Sri Lanka, que lutam contra suas próprias dificuldades. “Os japoneses veem esta generosidade como um sinal importante de estímulo durante sua dor, e estão muito gratos”, afirmou. As doações de 117 países foram canalizadas por meio da Cruz Vermelha japonesa e superaram os US$ 33 milhões, segundo informou Tóquio.

Takeshi também disse que, fora as calorosas expressões internacionais de apoio e a chegada de voluntários a Tohoku, há outros sinais animadores. E um dos mais importantes é o apoio da China. Antes do terremoto, as relações entre Tóquio e Pequim eram tensas especialmente por questões territoriais. Agora, os líderes comunistas chineses lideram a ajuda ao Japão. O jornal Asahi disse, no dia 12, que a China reagiu com “calma” à propagação de material radioativo de Fukushima até o mar e próximo de suas fronteiras.

Também chega ajuda de Moscou, cujas relações com Tóquio estavam tensas desde novembro, quando o presidente russo, Dimitry Medvedev, visitou os Territórios do Norte, ocupados pela Rússia e reclamados pelo Japão. O governo russo enviou 161 trabalhadores e também prometeu apoio energético, em um momento em que o Japão sofre vários apagões.

Entretanto, Mokoto Torri, morador de Tóquio, disse à IPS que decidiu não participar das celebrações do Hanami este ano porque “o desastre foi terrível”. No entanto, ao ver a fila de cerejeiras na rua disse: “De todo modo, pergunto se estou fazendo o correto”. Envolverde/IPS