Nova York, Estados Unidos, 27/9/2011 – Se as camponesas tivessem mais ferramentas e recursos, entre cem milhões e 150 milhões de pessoas poderiam deixar de passar fome no mundo. Esta mensagem foi difundida por Josette Sheeran, diretora-executiva do Programa Mundial de Alimentos (PMA) da Organização das Nações Unidas (ONU), em um encontro dedicado ao poder das mulheres rurais em matéria de segurança alimentar e nutrição, realizado no contexto da sua Assembleia Geral.
Na reunião da semana passada, que contou com o patrocínio da ONU Mulheres e do PMA, entre outros vários organismos, reuniram-se organizações comunitárias e representantes do setor privado e de governos com vistas a uma “nova coalizão que marque a diferença”, disse Sheeran. Em outubro acontecerá a reunião do Comitê de Segurança Alimentar Mundial na sede do Programa Mundial de Alimentos (PMA) em Roma, à qual se seguirá a 56ª sessão da Comissão sobre o Status das Mulheres, no próximo ano. São duas oportunidades para fortalecer o papel das camponesas no alívio à pobreza e erradicação da fome.
O diretor-executivo da companhia Unilever, Paul Polman, destacou a nova iniciativa Project Laser Beam, na qual o PMA e seus sócios corporativos, DSM, Aliança Global para a Nutrição Melhorada (Gain), Kraft Foods, se reuniram para combater a desnutrição infantil em Bangladesh e na Índia. “O programa se concentra em mulheres, agricultura, consolidação de produtores de pequena escala, saúde, higiene e escolaridade feminina. Não me surpreende porque descobrimos, como empresários, que seguramente obteremos mais benefícios com estes investimentos do que com outros que fazemos”, disse Polman.
A ONU Mulheres e a Coca-Cola também anunciaram um acordo para eliminar as barreiras que encontram as empresárias no terreno mediante programas de capacitação e serviços financeiros. O informe sobre o estado mundial da alimentação e da agricultura 2010-2011, realizado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), concluiu que quando as mulheres têm renda adicional investem mais do que os homens em alimento, assistência médica, vestimenta e ensino para os filhos. Isto tem consequências no crescimento econômico ao melhorar a saúde, a nutrição e a educação do país.
Elas costumam ter menos recursos produtivos, como educação, terra, gado, tecnologia, trabalho, serviços financeiros, entre outros, do que os homens, segundo a FAO. “Se as mulheres contassem com os mesmos recursos produtivos que os homens, a produção agrícola nos países em desenvolvimento cresceria entre 2,5%% e 4% e se reduziria a quantidade de pessoas com fome entre 12% e 17%”, diz o informe. “Há pessoas que não têm alimento suficiente e precisam de ajuda imediata”, disse a agricultora Anne Itto, ex-ministra interina da Agricultura e Silvicultura do Sudão do Sul. A ajuda deve estar bem dirigida para que os “alimentos não acabem no mercado local”, o que reduz os preços, destacou.
“Para quem tem capacidade e quer trabalhar no longo prazo, a primeira coisa é capacitação, fornecer conhecimento necessário e habilidades para as mulheres a fim de incentivar o acesso a insumos agrícolas como sementes otimizadas e melhores tecnologia e equipamento”, afirmou Itto. “Mas, não podem obtê-lo a menos que tenham acesso a serviços financeiros”, acrescentou. É importante relacionar as mulheres com o mercado, pois a “maioria dos grãos não pode ser armazenada mais do que dois ou três meses”, insistiu a ex-ministra.
Permitir que as mulheres solicitem empréstimos terá um impacto positivo na segurança alimentar porque poderão pagar por melhores sementes e ferramentas e produzir mais, prosseguiu Itto. “Creio que as mulheres fizeram seu trabalho. Agora é a vez do governo, de atores humanitários e do setor privado se associarem com elas para que possam continuar alimentando suas famílias e contribuindo para a construção do país”, concluiu. Envolverde/IPS