Nova York, Estados Unidos, 15/12/2011 – Enquanto Washington começa a retirar seus últimos 50 mil soldados do Iraque, pondo fim a uma ocupação de quase nove anos, o presidente deste país do Oriente Médio faz um último pedido: milhares de milhões de dólares em armas para suas incipientes Forças Armadas. O Iraque, durante o regime de Saddam Hussein (1979-2003), foi aliado da União Soviética e a seguir da Rússia, e, assim, não conta com uma sólida história de relações militares com os Estados Unidos. Agora, Bagdá está renovando seu arsenal, abandonando equipamentos em sua maioria russos e franceses, e obtendo novas armas norte-americanas.
Ontem, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, fez um discurso perante soldados que participaram da ocupação do Iraque, anunciando oficialmente o fim das operações nesse país. Por sua vez, ao visitar a Casa Branca, no dia 12, o presidente do Iraque, Nouri Al Maliki, recebeu a promessa de uma segunda entrega de 18 sofisticados aviões de combate F-16 para ajudar a reconstruir a dilapidada força aérea de seu país, cujos helicópteros e mísseis foram destruídos pelos próprios norte-americanos durante a guerra iniciada em março de 2003.
Bagdá já indicou que necessita de 96 aviões de combate F-16 em quatro pedidos separados. Maliki disse a Obama que seu país dependeria dos Estados Unidos não só para obter novos sistemas de armas, como também para treinar suas forças dentro do Programa Internacional de Educação e Treinamento (Imet), patrocinado por Washington.
Dan Darling, analista sobre Oriente Médio para a companhia de mercados de defesa e aeroespacial norte-americana Forecast International, disse à IPS que as forças iraquianas estão muito interessadas nos equipamentos militares dos Estados Unidos. Nas primeiras fases de reconstrução das forças iraquianas, segundo Darling, Washington forneceu pequenas armas de segunda mão herdadas da União Soviética e equipamentos doados por nações que integraram o Pacto de Varsóvia, já que os soldados do Iraque estavam familiarizados com esse tipo de armamento.
Entretanto, a partir de 2005, explicou, o objetivo passou a ser equipá-las com mais e mais armas do Pentágono, canalizadas pelo seu escritório de Vendas Militares Externas (FMS). Um pacote de venda de armas no valor de US$ 10,9 bilhões, concretizado em agosto de 2008, incluiu seis aviões de transporte Hércules C-130J, 24 helicópteros armados Bell com mísseis Hellfire, 140 tanques de guerra Abrams, 160 veículos blindados Guardian M1117, 329 veículos leves e 26 armas leves antitanque M72.
Em outubro de 2010, o Departamento da Defesa dos Estados Unidos, anunciou um segundo pacote militar por US$ 4,2 bilhões, que incluiu 18 aviões de combate F-16 e mísseis ar-ar Sidewinder AIM-9, junto com bombas guiadas por laser e equipamentos de ressonância. O departamento disse que o pacote de armas convertia o Iraque em um “sócio mais valioso” e que apoiaria “as necessidades legítimas desse país”.
Porém, Washington também tem uma agenda oculta em armar as forças iraquianas para que constituam um contrapeso diante da influência do Irã, país agora próximo ao governo de Maliki. Durante o regime de Hussein, a força aérea, o exército e a marinha foram equipados principalmente com helicópteros Aerospatiale e Mi-17, e com tanques de guerra T-55 e T-72. Contudo, o número de soldados iraquianos caiu de 900 mil durante o governo de Saddam para os atuais 250 mil.
Graças à crescente entrada de divisas com o petróleo, Bagdá está agora em condições de completar a formação de suas forças. Segundo os últimos números do Serviço de Investigação do Congresso norte-americano, as compras totais de armas do Iraque entre 2002 e 2005 somaram US$ 8,1 bilhões. Os Estados Unidos foram o primeiro fornecedor, com aproximadamente US$ 5,2 bilhões.
Darling disse à IPS que grande parte dessas vendas foi feita com créditos do Fundo do Pentágono para as Forças de Segurança Iraquianas (ISFF). Estes recursos foram usados para comprar equipamentos, construir infraestrutura, treinar e manter as forças iraquianas, a guarda de fronteira, a polícia e os serviços de inteligência. Entre 2005 e 2011, o Pentágono destinou US$ 20,6 bilhões ao ISFF.
Quando as instituições estatais iraquianas começaram a tomar forma e o governo de Maliki cresceu em confiança (e os cofres do Estado começaram a receber divisas do setor energético), mais pedidos foram feitos ao FMS. Apenas em 2008 houve pedidos de US$ 16 bilhões em diversos equipamentos, construção de infraestrutura e serviços.
Darling citou informes da imprensa iraquiana informando que novos pedidos podem chegar aos US$ 26 bilhões. Afirmou que as forças iraquianas previam sua reconstrução em três fases: 2006-2010, 2011-2015 e 2016-2020. A primeira etapa tem o objetivo de aumentar os efetivos, a segunda obter equipamentos e a terceira discernir outras necessidades. “Projetamos que o Iraque será um dos principais mercados no Oriente Médio, atrás de Arábia Saudita, junto com Israel, Irã e Emirados”, previu Darling. Envolverde/IPS