Japão encontra recursos em quantidade suficiente para dobrar as reservas mundiais, o que deve evitar uma guerra comercial em escala global que estava ganhando força depois da decisão chinesa de reduzir a exportação dos minerais.
Uma crise por recursos naturais envolvendo diversos países pode ter sido evitada devido ao anúncio da descoberta de novas reservas de terras raras em águas internacionais no Oceano Pacífico por pesquisadores japoneses no periódico Nature Geoscience.
Os depósitos estariam presentes em 78 locais que se estendem do Havaí até o Taiti com o potencial de exploração de até 100 bilhões de toneladas métricas, quase a mesma quantidade das reservas mundiais, avaliadas em 110 bilhões de toneladas métricas.
“Estimamos que apenas uma área de um quilômetro quadrado que encontramos seja capaz de sustentar 20% do consumo mundial por um ano”, afirmou Yasuhiro Kato, da Universidade de Tóquio.
Os minerais de terras raras são essenciais para a indústria eletrônica, pois são macios, maleáveis e bons condutores. Eles estão presentes em produtos como computadores, laptops, tablets e televisões de tela plana e são considerados estratégicos para países como Japão, Coréia do Sul, China e Estados Unidos.
A nova descoberta poderá evitar uma guerra, ao menos comercial, em escala global. Isto porque em uma ação criticada por governos de diversos países, a China, que responde por 95% da produção mundial, decidiu no dia 20 de junho aumentar suas reservas nacionais e limitar a exportação do recurso.
A alegação chinesa para a decisão foi a de regular os impactos ambientais da exploração das terras raras e garantir o fornecimento para suas próprias indústrias.
“A nova política está de acordo com as práticas aceitas pela Organização Mundial do Comércio (OMC) e estabelece um uso mais sustentável desse recurso”, declarou uma nota do ministério da Indústria e Tecnologia da Informação.
Assim que foi divulgada a decisão chinesa, os preços internacionais dispararam, levando a protestos oficiais do Japão e dos Estados Unidos. Segundo esses países, a China estaria utilizando seu monopólio para favorecer suas empresas.
Ainda será preciso esperar para saber se as novas reservas descobertas irão mesmo evitar que esses países adotem medidas de retaliação contra a China.
Quem está um pouco alheio a isso tudo é o Brasil, que apesar de ter um grande potencial para ser um exportador de terras raras – possui reservas estimadas em 3,5 bilhões de toneladas métricas -, não é ainda um produtor relevante.
O governo brasileiro começou recentemente a estudar a possibilidade de explorar de maneira mais eficiente esses minérios, com o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloísio Mercadante, reconhecendo que a produção está muito baixa.
Em um encontro com empresários em São Paulo no fim de junho, Mercadante afirmou que o governo fará “um grande esforço para mudar essa situação”.
Segundo o ministro, a produção nacional de terras raras pode ajudar o Brasil a atrair fabricantes internacionais de tablets, telas LCD e lâmpadas de LED.
Questões Ambientais
A exploração das terras raras traz diversos impactos negativos para os ecossistemas, principalmente se for realizada sem os devidos cuidados. Para começar, as reservas costumam ser levemente radioativas, resultado da presença de tório e urânio, e podem levar a contaminação do meio ambiente e das pessoas. Além disso, durante a fase de refino, são utilizados ácidos que se não forem descartados da maneira correta causam diversos problemas para o ecossistema.
A Malásia recentemente foi palco de uma decisão histórica envolvendo uma tragédia causada pela exploração de terras raras. Depois de comprovada que a contaminação do solo ao redor da mina Bukit Merah levou a casos de leucemia e defeitos de nascença em uma cidade de 11 mil habitantes, a Mitsubishi, que explorou a mina até 1992, teve que realizar uma limpeza do local ao custo de US$ 100 milhões.
Por toda a China casos semelhantes de contaminação podem ter acontecido sem o conhecimento da comunidade internacional. Mas diversas acusações já foram feitas, como os impactos ambientais na cidade de Batou, que apresenta diversos “lagos de resíduos”, onde ácidos e materiais radioativos não parecem receber a atenção devida das autoridades.
Para extrair os recursos encontrados do fundo do Pacífico será necessário trazer o material até a superfície onde navios especialmente preparados poderão realizar a separação dos minérios utilizando ácidos. Nesse modelo, os pesquisadores japoneses acreditam que em apenas algumas horas será possível separar 90% das terras raras presentes em cada coleta do leito do oceano.
A descoberta de novas reservas de terras raras anunciada pelo Japão pode significar uma maior estabilidade no comércio internacional de minérios que são hoje fundamentais para a economia mundial. Mas é preciso ter cuidado para não significar também uma ameaça para a vida marinha, e das populações que vivem nas paradisíacas ilhas do Pacífico.
As inovações trazidas pelas novas tecnologias muitas vezes nos encantam e ao mesmo tempo mascaram a verdadeira cadeia de exploração dos recursos naturais e passivos ambientais. Por isso, é importante trazer este assunto aos olhos da população, que então pode buscar informações sobre o ciclo de vida dos bens que consome e repensar a verdadeira necessidade deles.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.