Desastre na refinaria da Venezuela: tragédia anunciada

O que está por trás da cortina de fumaça mortal? Foto: Reuters/Reprodução/Internet

A explosão de uma refinaria não vai ajudar Hugo Chávez.

Moradores de Los Taques, na costa oeste da península de Paraguaná, na Venezuela, há muito tempo viveram à sombra da segundo maior refinaria de petróleo do mundo. Muitos moradores afirmaram que por vários dias, no final de agosto, eles notaram um cheiro estranho. “Como um gás ou algo assim, doeram as narinas, e nos deixou tontos”, disse um deles, Ramón Salas. Na tarde de 25 de agosto, ele foi acordado por uma enorme explosão. A explosão arrancou grande parte do telhado de sua casa e destruiu as janelas.

Pelo menos 42 pessoas morreram e quase cem ficaram feridas. Mais de 200 casas e uma dezena de empresas foram severamente danificadas ou destruídas. O quartel dos soldados da Guarda Nacional, que fazia a segurança do local, foi totalmente devastado, matando pelo menos 20 soldados. Foi o pior desastre na história da empresa estatal Petróleo da Venezuela (PDVSA), e uma das piores explosões de refinaria da história. Os bombeiros levaram mais de três dias para extinguir o fogo de tanques de armazenamento inflamados pela explosão.

Na atmosfera carregada, seis semanas antes de uma eleição presidencial, as recriminações surgiram rapidamente. Rafael Ramírez, que é ao mesmo tempo ministro do Petróleo e presidente da PDVSA, culpou um vazamento de gás. Hugo Chávez, que está buscando um terceiro mandato consecutivo de seis anos, visitou o local, prestou solidariedade às vítimas e atacou os críticos que afirmavam que a culpa do desastre foi a negligência. Comentaristas pró-Chávez chegaram a alegar que a explosão foi uma sabotagem, planejada pela oposição.

Henrique Capriles, o candidato da oposição, ofereceu apoio às vítimas e pediu unidade. Ele também exigiu um inquérito, livre de “politicagem”. O Partido Comunista, aliado de Chávez, disse que os delegados sindicais devem participar da investigação. Iván Freitas, que lidera o sindicato dos trabalhadores do petróleo local, disse que o desastre poderia ter sido evitado. Ele afirmou que o sindicato se queixava de equipamentos danificados, vazamentos e falta de reparos.

Ramírez, presidente da PDVSA desde 2004, é um dos principais assessores de Chávez e foi recentemente confirmado em seu posto “para os próximos seis anos”. Ele se gabou de empregar apenas “chavistas”. Em sua administração, investimento e manutenção ficaram em segundo lugar para a receita do petróleo. No ano passado, a PDVSA pagou cerca de US$ 19 bilhões em impostos, royalties e dívidas. Apesar dos preços elevados do petróleo, a dívida da PDVSA aumentou para mais de US$ 40 bilhões. Em uma declaração anterior ao parlamento, Ramírez admitiu que a manutenção essencial foi adiada “devido à falta de verbas”.

O desastre da refinaria aconteceu logo depois de outros casos polêmicos: um tiroteio dentro da prisão de Yare em 19 de agosto, que deixou pelo menos 26 presos mortos, e o colapso, quatro dias antes, de uma ponte ligando Caracas ao leste da Venezuela. Será que tudo isso afeta a eleição? Algumas pesquisas continuam a mostrar o presidente com uma vantagem de dois dígitos, mas os outros candidatos estão chegando mais perto. O que está claro é que Capriles está ganhando terreno, e que a explosão não vai ajudar Chávez.

* Publicado originalmente no jornal The Economist e retirado do site Opinião e Notícia.