Um assunto que é tabu para muita gente, ainda, o sexo e o desejo durante a gravidez é algo que muitas mulheres – e homens – ainda têm muita dúvida.

Antes de qualquer coisa: sim, o sexo durante a gravidez é permitido, não há contraindicações, e ter relações sexuais, mesmo durante o período de gestação, é sinônimo da saúde conjugal. É bom para o marido – que não se sente “deixado de lado” –, é ótimo para a autoimagem feminina – ser desejada independentemente das mudanças no corpo –, e a sensação de prazer pode trazer benefícios até para o bebê: os hormônios liberados na corrente sanguínea fazem bem a todos.

“Quanto ao fato da penetração de alguma maneira atingir o feto, isto é impossível. Para começar, existe o que chamamos de tampão mucoso, uma estrutura que o corpo forma para proteger o bebê de qualquer agente externo, incluindo, muitas vezes, as doenças que possam vir a se instaurar no órgão sexual. Ou seja, esse medo, em particular, é totalmente infundado”, afirma Carlos Borsatto, médico ginecologista e obstetra do Hospital Santa Catarina.

Mudança no corpo, mas não na vida sexual

“Se tem algo que muda são as posições sexuais, isso quando a barriga começa a se tornar mais protuberante. De resto, do ponto de vista médico, não há nada que possa comprometer a gestação, excetuando casos muito particulares, em que o obstetra atento tem condições de diagnosticar e alertar sua paciente”, completa o especialista.

O sexo, aliás, pode até ser mais prazeroso, pois os parceiros podem acabar relaxando mais após saber do início da gestação. Com o decorrer do tempo, a barriga maior pode atrapalhar algumas posições, mas isso está longe de ser um problema: o casal pode experimentar novas posições e sensações. A única interrupção, apesar de breve, é após o nascimento, quando os traumas fisiológicos durante o parto podem impor uma pausa na vida sexual do casal.

“No parto normal, esse tempo pode ser maior, pois o trauma é mais intenso. Mas depende de mulher para mulher. Antigamente, dizia-se que a mulher precisava resguardar a ‘quarentena’. Mas muitas vezes o corpo já se recuperou antes disso”, observa Borsatto.

O que pode acontecer, pontua o especialista, é que o estresse nas primeiras semanas – ou após o nascimento – pode alterar a rotina do casal. Mas após a fase de adaptação nesses dois extremos da gestação, dificilmente pode haver algo que interfira na saúde sexual do casal.

Desejo: não há mudança hormonal radical nesse ponto, mas pode haver afastamento por outros motivos

Outra dúvida que pode afligir algumas pessoas é sobre a variação hormonal durante a gravidez e sua influência no desejo. “Não existe na literatura médica nada que comprove isso. O que pode acontecer é a parceira fixar mais a atenção nos afazeres relativos à criança e ainda que inconscientemente na preservação do bem-estar da gestação, desviando-o um pouco do seu parceiro, mas influência hormonal no desejo é bastante improvável”, diz Borsatto.

A falta de desejo na gravidez, caso aconteça, pode ter outras causas. “Se era bom antes de se engravidar, é bom depois também. Mas se existe mudança no desejo é porque havia problemas anteriores”, explica Liliana Seger, psicóloga especializada em sexualidade e pesquisadora ligada ao Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso (Amiti) do Instituto de Psiquiatria (IPq) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Para a especialista, se a sexualidade estava desestruturada, travada, ou seja, já havia conflito, a gravidez pode acabar virando desculpa, escondendo o conflito por uma explicação plausível. “Tanto da parte da mulher, que cria um modo de afastar o parceiro, quanto do homem, que já não tinha desejo pela esposa e após as mudanças no corpo da mulher fica ainda mais distante.”

O estresse, para a especialista, é relativo. O dia a dia de vários casais é estressante e isso não necessariamente leva a uma interrupção do desejo. Mas uma situação que merece atenção é quanto aos casais que optaram pela reprodução assistida.

“Esse é o tipo de gravidez que pode levar a situações altamente estressantes”, observa Seger. Primeiro, diz a especialista, é preciso observar que esse tipo de opção de intervenção médica pode ser fruto de muito tempo de frustração, em que o casal tentou, mas não conseguiu, fazer de forma natural.

Antes da inseminação em si, o casal pode ter passado por uma rotina de dias e horários próximos à “janela de fertilidade” – perto do horário exato da ovulação da mulher. “Nesse caso, não há concentração no prazer da relação sexual, mas sim na reprodução, e isso pode ser péssimo para a relação”, observa Seger, que sugere, em situações que possam levar a esse afastamento do casal, o acompanhamento profissional para resolver questões que muitas vezes não têm relação com a gravidez, mas com a saúde do casal que está se preparando para ter um filho. E uma relação saudável leva a uma família mais feliz e realizada.

* Publicado originalmente no site O que eu tenho.