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Desemprego difícil de reduzir

Buenos Aires, Argentina, 1/4/2011 – Apesar do acelerado ritmo de crescimento da economia argentina, o desemprego é uma variável que não diminui. A diferença no mercado de trabalho entre oferta e demanda qualificada está entre as principais causas que paralisam este indicador, afirmam especialistas. Dados oficiais mostram que o produto interno bruto cresceu 9,2% no ano passado, após o impacto da crise internacional que em 2009 freou abruptamente o progresso a taxas acima de 7%, em média, iniciado em 2003 neste país de 40 milhões de habitantes.

O PIB subiu, em 2009, apenas 0,9% e para 2010 era projetada melhora substancial, e finalmente o fechamento das contas mostrou uma recuperação que foi o dobro do previsto pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). Porém, esta recuperação “parece ser refletir com certo atraso no mercado de trabalho” diz o artigo “Pobre desempenho do mercado de trabalho diante da recuperação econômica”, publicado pelo Centro de Estudos para o Desenvolvimento Argentino (Cenda).

O levantamento feito pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), no final do ano passado, mostra uma taxa de desocupação plena de 7,3% da população economicamente ativa, quase igual à do final de 2008, antes do impacto da crise financeira global iniciada nos Estados Unidos.

“Em 2010, indicadores oficiais davam conta de que uma importante recuperação da economia argentina aconteceria depois de a crise mundial fazer sentir seus efeitos. Entretanto, o impacto desse dinamismo sobre o mercado de trabalho é fraco”, afirma a publicação do Cenda. Os analistas ouvidos pela IPS concordam que o desemprego mostra clara tendência decrescente desde o final de 2002, após o colapso econômico do país, quando o desemprego pleno chegou a 24,1% da população economicamente ativa.

Também observam preocupados as dificuldades enfrentadas pelo modelo de desenvolvimento para continuar aprofundando essa tendência até alcançar o pleno emprego, que é a meta expressa pelos governos centro-esquerdista do falecido Néstor Kirchner (2003-2007) e de sua sucessora e mulher, Cristina Fernández.

O sociólogo Ernesto Kritz, especialista em emprego/desemprego da empresa de consultoria SEL, explicou à IPS que o mercado de trabalho mantém um setor com demanda insatisfeita e outro grande setor sem a qualificação adequada para obter uma colocação. “A maior parte dos desempregados provém da economia informal e, embora exista uma demanda de emprego, é difícil que eles possam ser contratados. Isto se vê assim, sem mudanças significativas, desde 2007”, ressaltou. Para Ernesto, o fenômeno se agravou nos últimos quatro anos pelo aumento do custo trabalhista sem relação com a produtividade.

Em seu boletim de março, Ernesto informa que o salário dos trabalhadores se recupera, mas cai a geração de emprego. Desde 2007, acrescenta, os salários se recuperaram em relação à alta de preços, mas a contrapartida é que aumenta o custo trabalhista e cresce a brecha entre retribuição e produtividade, o que apresenta dúvidas sobre a sustentabilidade do salário. Este especialista teme que para responder ao aumento desses custos as empresas estejam ajustando o crescimento de pessoal. “Na indústria se vê claramente, mas ocorre em todos os lados, as empresas se acertam com os funcionários que têm”, ressaltou.

Claudio Flores, diretor da consultoria em recursos humanos Agein, tem uma visão coincidente a respeito do problema. “O desemprego baixa, sem dúvida, desde 2002, mas não ao ritmo em que a economia cresce”, disse à IPS. Em seu escritório acumulam-se pedidos de empresas para cobrir postos técnicos em indústrias químicas, petroleiras, metalúrgicas, de mineração, engenheiros e desenvolvedores de software, mas “não há” pessoal qualificado nessas áreas para contratar, destacou.

“Só na área de sistemas informatizados, calcula-se que existam cerca de 50 mil vagas abertas e, por outro lado, existe grande quantidade de desempregados que não têm as qualificações, por isso o crescimento não mantém relação com o desemprego”, explicou Claudio. Diante de uma grande massa de trabalhadores que buscam emprego sem ter formação, nesse setor a taxa de desemprego é praticamente zero e há mais demanda do que candidatos.

Nos últimos seis anos, esta indústria aumentou sua produção em quase 280%, e também suas exportações, mas faltam trabalhadores, e as empresas têm de oferecer aos estudantes contratos de trabalho antes mesmo que estes terminem seus estudos específicos. Envolverde/IPS