Nova York, Estados Unidos, 6/7/2012 – “As drogas e a delinquência colocam em risco um de nossos objetivos mais importantes: garantir o desenvolvimento sustentável no mundo”, disse o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, perante a Assembleia Geral. No dia Internacional Contra o Uso Indevido e o Tráfico de Drogas, 26 de junho, o Escritório das Nações Unidas Contra a Droga e o Delite (Onudd) divulgou seu informe anual no qual defende um enfoque baseado no desenvolvimento para resolver problemas com drogas.
“As drogas continuam matando 200 mil pessoas por ano, destroçando famílias e causando sofrimento a milhares de outras pessoas e insegurança, e propagando o HIV” (vírus causador da aids), segundo o diretor-executivo da Onudd, Yury Fedotov. O último informe da agência estima que 5% da população adulta experimentou pelo menos uma vez em 2010 alguma droga ilegal. O especialista da Onudd, Thomas Pietschmann, conversou com a IPS sobre como o desenvolvimento sustentável, as sanções moderadas e uma segurança melhor podem ser ferramentas para combater o abuso.
IPS: Qual é o vínculo entre desenvolvimento sustentável e a redução no consumo de drogas ilegais?
THOMAS PIETSCHMANN: Dos estudos que realizamos fica muito claro que quando há desenvolvimento sustentável em uma região existe menos produção de drogas ilegais. Um exemplo é a Tailândia, onde no prazo de 20 a 30 anos acabamos por eliminar o cultivo de ópio dando aos agricultores verdadeiras alternativas mediante investimentos.
IPS: Para diminuir ainda mais a produção de drogas ilícitas, as sanções aumentarão?
TP: Simplesmente cortando e erradicando os campos não se resolve o problema. A erradicação deve intervir apenas quando já se tenha dado aos agricultores a oportunidade de ter um desenvolvimento sustentável. Não se deve começar eliminando os campos e depois ver se os camponeses morrem por não terem uma renda sustentável. Esse deve ser o último recurso. Antes é necessário garantir que os agricultores tenham a possibilidade de ter uma renda decente com outra atividade. Não se pode aumentar as sanções quando as pessoas vivem à margem.
IPS: A Onudd tem políticas diferentes segundo os países?
TP: Sim, e também segundo áreas dentro dos países. Por exemplo, o Afeganistão é muito diverso. No leste, os campos são muito pequenos, enquanto no sul costumam ser muito maiores. Por isso, na parte oriental do país a solução deve ser o desenvolvimento rural, isto é, apontar para serviços e manufatura básica para garantir que os agricultores realmente tenham outros insumos, porque com terras tão pequenas é muito difícil conseguir uma renda decente. Deve ser um enfoque personalizado.
IPS: A Onudd também destaca a importância da segurança em sua luta contra as drogas. Como estas duas questões se vinculam?
TP: A segurança é chave na luta contra as drogas ilegais. Em 2010, fizemos uma pesquisa que mostrou que, nas regiões onde há pouca segurança, 93% dos agricultores produziam ópio, enquanto onde havia mais representavam apenas 7%. A diferença é patente. Definitivamente, há uma correlação entre segurança e produção de drogas ilegais.
IPS: Qual a posição da Onudd sobre o uso médico da maconha?
TP: O uso médico da maconha, se feito de forma adequada, é e pode ajustar-se à Convenção Única sobre Estupefacientes, de 1961. No entanto, sabemos que em alguns lugares dos Estados Unidos o chamado uso médico costuma objetivar o recreativo. Há algumas condições. Primeiro, o cultivo de maconha deve ser adquirido por um organismo nacional, responsável pela distribuição antes que as instituições médicas a receitem. Contudo, em alguns casos se faz um uso completamente mau da maconha com fins médicos.
IPS: Como acredita que evoluirá a situação das drogas ilegais no futuro?
TP: Somos bastantes otimistas sobre a evolução desta situação nos países ricos. Há muitos elementos em jogo. Por exemplo, nesses países a população envelhece, e sabemos que o uso de drogas é importante entre os jovens, o que automaticamente leva à redução no consumo. Somos menos otimistas com relação aos países em desenvolvimento, onde há uma força maior para a urbanização, o que representa maiores níveis de consumo. Há uma clara evolução do consumo desde as nações ricas até as pobres, e nos preocupa particularmente a África, onde se conjugam todos os fatores de risco. Esse continente é particularmente vulnerável a um aumento do consumo nos próximos anos. Envolverde/IPS