Genebra, Suíça, 16/5/2011 – O mundo assiste a uma mudança na distribuição geográfica das enfermidades. Tradicionalmente, as doenças infecciosas, causadoras de grande mortalidade de mães e crianças, afetavam os países pobres, e as não transmissíveis, como diabetes, doenças cardíacas e câncer, os países ricos. As últimas estatísticas divulgadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) demonstram que agora já não importa tanto o nível de renda das nações, pois todas devem enfrentar o peso das duas variedades de doenças.
“Com frequência tínhamos a tendência de identificar as doenças não transmissíveis como os males da opulência, limitadas, portanto, aos países de alta renda”, disse à IPS o diretor de Estatísticas da Saúde e de Sistemas de Informação da OMS, Ties Boerma. As mudanças ocorridas no envelhecimento da população, as melhorias proporcionadas pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), as variantes na fertilidade e outros fatores indicam que corresponda aos países em desenvolvimento combater as doenças não transmissíveis, afirmou.
Boerma alertou que o fenômeno começou nas áreas urbanas das nações em desenvolvimento, entre suas populações mais educadas, mas já se expande com rapidez. Esta é a conclusão fundamental que os especialistas da OMS tiram da análise das estatísticas mundiais de saúde publicadas em 2011 e apresentas no dia 13. O estudo confirma que os progressos foram importantes para melhorar os principais indicadores de saúde, lutar contra a pobreza e a indigência, para a igualdade de gênero, educação e outros aspectos sociais incluídos nos oito ODM – o plano idealizado em 2000 pelos governos da Organização das Nações Unidas (ONU) com metas até 2015 –, disse Boerma.
Nos últimos dez anos, o ritmo de melhoria nos índices de mortalidade infantil e materna, um dos ODM, duplicou o sucesso conseguido na década anterior, a de 1990. Muitos países ainda estão atrasados, às vezes marcando passo, e, portanto, será preciso um enorme esforço nos próximos cinco anos para alcançar as Metas do Milênio, reconheceu Boerma, ressaltando que os progressos aumentam o ritmo.
No caso da mortalidade infantil, apenas chegou-se à metade da pauta estabelecida pelos ODM, enquanto na mortalidade materna chega a apenas um terço da meta, disse o especialista da OMS. A situação da mortalidade infantil voltará a ser avaliada em setembro, quando a OMS e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) atualizarão os dados. No momento, continuamos com o índice de 8,1 milhões de meninos e meninas com menos de cinco anos mortos em 2009, acrescentou Boerma. Em 1990, esse número chegava a 12,4 milhões de mortes entre crianças nessa faixa etária.
Quanto à situação na América, Boerma afirmou que as estatísticas analisadas mostram progressos excelentes em muitos países. Por exemplo, no Brasil, Chile e Argentina houve reduções constantes e relativamente rápidas da mortalidade infantil, somadas a uma elevada cobertura de intervenção sanitária. Essas nações também reduziram a desigualdade entre os mais pobres e os mais ricos. O México também deu provas de ter feito o mesmo, acrescentou. No outro extremo está o Haiti, mas também registram indicadores preocupantes a Bolívia e o Peru, embora tenham feito progressos e ainda falte um bom caminho pela frente.
Boerma comentou o caso de Cuba, país que não é muito rico, mas que investe consideravelmente na saúde e o faz de maneira muito equitativa, o que faz com que toda a população tenha acesso gratuito aos serviços médicos. Assim, Cuba apresenta altos índices com relação à expectativa de vida, tem baixa mortalidade infantil e apresenta alta cobertura de intervenção. Portanto, obtém muito retorno em saúde, resumiu.
O especialista da ONU disse que os Estados Unidos não figuram na cabeça das estatísticas da região. Aparece nessa posição quando se trata das quantias de dinheiro gastas em saúde, mas desaparece quando se avalia os bons resultados por suas intervenções nessa área, explicou. Uma das causas deste comportamento é que a cobertura da saúde nos Estados Unidos é insuficiente. Grande parte do gasto é voltado a curas relativamente raras ou para tratamentos que beneficiam uma pequena parte da população de alta renda, destacou Boerma.
Por outro lado, o estudo da OMS ressalta que a expectativa de vida da população mundial passou de 64 anos, em 1990, para 68, atualmente. Nos países mais pobres, este índice cai para 56 anos, enquanto nas nações de alta renda chega aos 80 anos. Índia e China estão atualmente entre os países de renda média alta. As mulheres superam, em média, em cinco anos a expectativa de vida dos homens. Essa diferença variou entre quatro e cinco nas últimas duas décadas.
Os números apresentados pela OMS mostram que existem enormes diferenças entre o gasto com saúde dos países de baixa renda, que é, em média,de US$ 32 por pessoa, e os US$ 400 investidos no mesmo item e mesmo período pelas nações ricas. Envolverde/IPS