Desmatamento está voltando a crescer e desmatadores se mostram mais ousados. Voltam a usar agrotóxicos e correntões, os métodos de destruição em massa da flora e fauna. Sem repressão imediata e demonstração forte de que não haverá relaxamento da legislação florestal, o país pode perder o controle que vinha conseguindo pouco a pouco e com muito esforço. O desmatamento vinha caindo, mas ainda não estava controlado.
“Os produtos químicos estavam escondidos debaixo de uma lona. Na carga, foram identificados os agrotóxicos 2,4D Amina 72, U46BR, Garlon 480 e óleo mineral. Eles são comercializados legalmente como herbicidas para matar ervas daninhas em plantações de arroz e milho.” (Kátia Brasil, FSP)
É a primeira vez que o Ibama descobre agrotóxico em desmatamento no Amazonas, desde 1999. Não significa que não tenha sido usado mais vezes. Mas, certamente, a descoberta agora significa que voltou a ser usado mais abertamente.
Depois do agrotóxico, vem o fogo, para terminar de destruir a cobertura vegetal. Em seguida, vem a limpeza da área para formação de pastos.
[media-credit name=”Ibama/Divulgação” align=”alignleft” width=”300″][/media-credit]Não existem coincidências. O retorno do desmatamento detectado pelo Deter do Inpe, que já havia sido revelado pelas análises de imagens satélite feitas pelo Imazon, o retorno do “correntão” e, agora, essa descoberta da destruição tóxica ocorrem após a aprovação das mudanças no Código Florestal, com a emenda do PMDB. O relaxamento das regras de proteção florestal e a anistia irrestrita, que beneficia tanto a grileiros e desmatadores ilegais contumazes, como a produtores que não têm registro de ações ilegais, criou generalizada expectativa de impunidade. Impunidade não é caso excepcional no Brasil. É recorrente. A anistia pouco criteriosa e essa expectativa de impunidade desmoralizam a lei e alimentam uma nova onda de desmatamento. O fato de que o próprio Ibama vem driblando as regras para conceder licenças duvidosas a Belo Monte, claramente enfraquece sua imagem como órgão de fiscalização.
O perigo aumentou muito. Se não houver ação exemplar contra esses desmatadores, especialmente os que estão fazendo uso de métodos de destruição em larga escala como agrotóxicos e correntões, o governo vai perder o controle e voltaremos aos patamares mais altos de desmatamento. Se isso acontecer, apenas confirmará o padrão cíclico do desmatamento no país, que estávamos a caminho de interromper em definitivo.
Basta olhar os dados: o desmate começou a aumentar em 1991, para chegar ao pico de pouco mais de 29 mil km2, em 1995. Depois voltou a cair, em 1996 e, em 1997 se aproximou do ponto em que se encontrava em 1991. Em 1998, começou a subir ininterruptamente, até chegar ao pico de mais de 27 mil km2, em 2004. Volta a cair, em 2005, atingindo seu ponto mais baixo no ano passado, 2010: pouco mais de seis mil km2. Se voltar a crescer e o governo perder o controle, terá início novo ciclo de alta.
Como alerta Adalberto Veríssimo, do Imazon, em seu Twitter: “@betoverissimo Desmatamento Amazônia: tendência é fechar o ano fiscal (julho 2011) com forte aumento”.
Há outros fatores em ação, além do dano moral causado pela campanha para mudar o Código Florestal, vitoriosa na Câmara. O preço da soja está em alta. A demanda chinesa por soja e carne é muito forte. O risco de descontrole sobe na velocidade dos preços das commodities e com a amplitude dada pelas expectativas de relaxamento na lei e em sua aplicação.
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** Publicado originalmente no site Ecopolítica.