O desmatamento é um fenômeno prejudicial não apenas à área em que ocorre, mas também às regiões adjacentes à derrubada de árvores. Pelo menos é o que indica a nova pesquisa de Luis Garcia-Carreras e Doug Parker, da Universidade de Leeds, no Reino Unido. Eles descobriram que áreas florestais convertidas em lavouras no oeste africano causavam uma redução na precipitação dos bosques vizinhos remanescentes.
O estudo, publicado no jornal científico Geophysical Research Letters, se baseou em um modelo de computador usado para simular a precipitação em diferentes condições do uso da terra. A pesquisa sugere que o desmatamento causa uma diferença na temperatura da região, o que por sua vez leva a uma mudança na precipitação.
“A diferença na precipitação é causada pela mudança de temperatura entre a área de cultivo e a floresta, o que produz ventos que convergem sobre a área de cultivo e formam nuvens”, explicou em um release a União de Geofísica dos EUA (AGU), que publica o Geophysical Research Letters.
Por isso, a quantidade de chuvas nas áreas de cultivo acaba aumentando, enquanto as florestas adjacentes ao desmatamento têm sua precipitação reduzida. “A precipitação foi quatro a seis vezes maior em áreas quentes (lavoura) do que em áreas em que nenhum desmatamento ocorreu, enquanto a precipitação nas florestas remanescentes foi de metade ou menos”, declarou a AGU.
Outras análises anteriores já indicavam esta relação entre o desmatamento e a precipitação, mas o experimento de Garcia-Carreras e Parker mostrou as causas desse fenômeno. “Já sabemos pelas observações de satélite que mudanças no uso da terra podem ter um grande impacto nos padrões de tempo locais. Aqui fomos capazes de mostrar por que isso acontece”, afirmou Garcia-Carreras.
O estudo também apontou que diferentes formas de desmatamento têm diferentes impactos sobre a precipitação florestal. “Nossas descobertas sugerem que não é apenas o número de árvores movidas que ameaça a estabilidade das florestas tropicais do mundo. O padrão de desmatamento também é importante”, esclareceu Garcia-Carreras.
O desmatamento em padrão ‘espinha de peixe’, por exemplo, tende a ser menos prejudicial do que ‘corte raso’, porque permite que a floresta acelere seu processo de recuperação, possibilitando a troca de sementes e de algumas espécies de animais entre as áreas florestais remanescentes. O ‘corte raso’, pelo contrário, por devastar grandes superfícies sem deixar áreas remanescentes entre elas, não permite tais trocas.
Apesar de ter sido executado no oeste africano, os cientistas garantiram que os resultados da pesquisa podem ser observados em outras regiões. “Embora nosso estudo tenha se focado apenas em uma pequena região da África, é razoável sugerir que esse mecanismo pode ser comum em outras florestas globais baseado em observações similares de precipitação na Amazônia”, afirmou Parker.
Eles lembraram também que o estudo poderá ajudar a desenvolver formas de desmatamento menos prejudiciais, ou reduzir os impactos do desmatamento. “Isso tem implicações para planejadores em termos de como o desmatamento é conduzido. Se a floresta deve ser removida para criar áreas de cultivo, precisamos pensar quais são as formas e distribuições do desmatamento que serão menos prejudiciais às florestas adjacentes e parques nacionais”.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.