Washington, Estados Unidos, 8/4/2011 – Apesar de a Organização Mundial da Saúde (OMS) dedicar o Dia Mundial da Saúde, celebrado ontem, à luta contra a propagação da resistência aos antimicrobianos, especialistas temem que seja muito tarde. Segundo pesquisadores, este ano já se percebe a sombra do fracasso dos antibióticos para deter a expansão das enfermidades.
Ao longo dos anos, organismos como bactérias, vírus e inclusive alguns parasitas ganharam resistência a medicamentos como antibióticos, antirretrovirais e antimaláricos, que se tornaram totalmente obsoletos, permitindo que as infecções persistam e se propaguem em populações de alto risco.
Segundo a OMS, “a resistência aos antimicrobianos é consequência do uso – particularmente do mau uso – dos medicamentos, e se desenvolve quando um micro-organismo sofre mutação e adquire um gene de resistência”. Embora isto não seja novidade, os fatos e os números que surgem este ano são, sem dúvida, preocupantes, e lançam luz sobre uma epidemia que a maioria do mundo ignora.
A OMS informou que cerca de 440 mil novos casos de tuberculose resistente a várias drogas são registrados a cada ano, o que provoca mais de 150 mil mortes anuais. Foi constatada a resistência a medicamentos contra tuberculose em 64 países até agora. O panorama é mais perturbador no caso da aids, onde a resistência aos tratamentos se converteu em verdadeira praga.
Como os mercados da África e Ásia foram inundados por remédios sem regulações nem controle na última década, a resistência se propagou. “Mais de 6% de todos os pacientes com HIV sofrem com cepas resistentes aos medicamentos”, disse à IPS a assessora sobre resistência antimicrobiana e controle de infecções da Organização Pan-Americana de Saúde, Pilar Ramón-Pardo. “Isto deixou o tratamento ainda mais caro”, afirmou.
Embora não seja muito divulgado, praticamente todos os laboratórios farmacêuticos suspenderam de forma indefinida a pesquisa de antibióticos no ano passado, disse Stuart Levy, professor de biologia molecular e microbiologia, diretor do Centro de Adaptação Genética e Resistência a Medicamentos, da Universidade de Tufts.
Por sua vez, Stephen Buhner, autor de mais de 15 livros sobre natureza, medicamentos à base de ervas e culturas indígenas, disse que atualmente não chegam ao mercado novos antibióticos. O último desenvolvido estará pronto no próximo ano. Segundo o amplo estudo de Stephen sobre as bactérias resistentes às drogas, em dez anos estas “se tornarão tão espertas no combate aos antibióticos que nada poderá enfrentá-las”. E Stephen não está sozinho em seu diagnóstico sobre a gravidade da situação.
“Estamos perdendo nossos remédios de último recurso”, escreveu Brad Spellberg, professor associado de medicina na Escola David Geffen da Universidade da Califórnia, em seu livro “Rising Plague: the Global Threat from Deadly Bacteria and our Dwindling Arsenal to Fight Them” (Praga Emergente: a Ameaça Global da Bactéria Mortal e Nosso Minguante Arsenal para Combatê-la). “Centenas de países na América do Sul, Ásia, África e partes do bloco oriental da Europa começam a abandonar os medicamentos farmacêuticos como ferramenta principal da atenção médica”, afirmou o autor à IPS.
“A pesquisa sobre o período de dez anos de efetividade antibiótica agora é indiscutível. Talvez, por isso a OMS finalmente sobe no trem do conhecimento que cientistas reuniram durante anos”, acrescentou. Em sua campanha na mídia para este ano, a OMS apresentou inúmeros fatores que amparam a resistência aos antimicrobianos no Sul em desenvolvimento, como pesquisas ruins, falta de participação dos clientes e da comunidade, ineficazes sistemas de vigilância e uso irracional de remédios, sobretudo na criação de animais.
Embora a OMS reconheça a importância de trabalhar com governos e empresas farmacêuticas e inclusive com representantes da imprensa, não menciona a participação de grupos indígenas ou curandeiros tradicionais das comunidades do Sul, algo que, à luz de esmagadora pesquisa científica, tornaria praticamente inúteis seus próprios planos.
“Uma multidão de organizações ao redor do mundo busca alternativas nas plantas e ervas que trabalham contra bactérias resistentes”, disse Stephen à IPS. “A Iniciativa de Pesquisa sobre Métodos Tradicionais Antimaláricos, uma associação entre a Iniciativa Global para Sistemas Tradicionais, da Universidade de Oxford, e centenas de pesquisadores de mais de 30 países, está conseguindo impressionantes avanços nesse sentido”, ressaltou.
“A Ação pela Natureza e a Medicina é uma rede que distribui sementes de remédios naturais a aldeias de toda a África, devolvendo soluções antiquíssimas às comunidades locais que já não são dependentes das farmacêuticas”, acrescentou Stephen. Inclusive nos Estados Unidos, vários grupos tentam promover os tratamentos tradicionais e à base de ervas. Entre eles estão a United Plant Savers, que protege as populações de plantas indígenas norte-americanas; a Horizon Herbs, que pesquisa e ensina como cultivar ervas medicinais, e a Herb Research Foundation, vinculada com redes da África.
O último livro de Buhner, “Antibióticos à Base de Ervas: Alternativas Naturais para Tratar Bactérias Resistentes às Drogas”, serve como um completo manual sobre várias doenças. Inclusive em nível nacional, os políticos promovem soluções radicais, longe das ações sugeridas pela OMS. Na Nigéria, pesquisadores que estudam uma planta chamada “Sida Acuta”, que seria eficaz na luta contra bactérias resistentes, garantem que seria “um benefício adicional a todo o sistema nacional de saúde”. Envolverde/IPS