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Diante da tempestade, o Caribe olha para o Sul

Castries, Santa Lúcia, 10/7/2012 – A crise na zona do euro e a crescente influência de economias emergentes como Brasil e China levam os países do Caribe a reverem sua dependência de seus tradicionais doadores e sócios comerciais. Após a cúpula, no final de semana, da Comunidade do Caribe (Caricom), o primeiro-ministro de Barbados, Freundel Stuart, propôs que se deve procurar relações mais diversas e ativas com outros potenciais sócios, especialmente do Sul em desenvolvimento. Também exortou no sentido de se desenvolver “uma nova sensibilidade sobre a necessidade de se levar mais a sério a política externa”.

Os líderes caribenhos coincidiram que, sem deixar de lado as históricas relações com a Europa e a América do Norte, é hora de reavaliar a posição vulnerável da região frente a desafios como comércio e mudança climática, e buscar novos aliados estratégicos.

“A economia global passa por rápidas mudanças estruturais incluindo o fato de que o comércio é conduzido hoje por novos centros emergentes de atividade econômica. Entre estes há países geograficamente próximos a nós, como o Brasil, e outros com os quais temos fortes relações, como a China”, destacou o presidente da Guiana, Donald Ramotar. “Nossa região deve responder a estas realidades desenvolvendo vínculos mais estreitos com esses países e também explorando novas fronteiras de oportunidades para o benefício das relações bilaterais”, acrescentou.

Por sua vez, o primeiro-ministro de Santa Lúcia, Kenny Anthony, afirmou que aproveitaria seu período de seis meses como presidente do Caricom para dar um novo giro à política externa do bloco, formado por 15 países, diante da realidade econômica mundial, agora também fortemente determinada pelas decisões tomadas em Pequim. Anthony disse que a China caminha para ser a maior economia mundial nos próximos anos.

A Ásia abriga 60% da população mundial e responde por 22% do produto interno bruto do planeta, sendo, então, lógico que o Caribe comece a olhar nessa direção. América Latina e África também oferecem oportunidades para o Caribe em áreas como comércio, turismo, educação, tecnologia e cultura. A nova estratégia caribenha, talvez, também esteja motivada pelo fato de a União Europeia estar considerando racionalizar sua ajuda internacional ao desenvolvimento.

O secretário-geral da Caricom, Irwin La Rocque, alertou que muitos países caribenhos poderiam ficar sem a tão necessitada assistência europeia. “Os fluxos de assistência ao desenvolvimento para os países do Caribe diminuíram, e pelo menos no curto prazo continuarão caindo”, afirmou. “Todos estamos conscientes de que a Europa enfrenta uma crise econômica sem precedentes. A Europa nunca será a mesma outra vez. Não devemos ser ingênuos sobre os prováveis impactos que isto terá na futura assistência da UE”, observou, por sua vez, Anthony.

Os líderes caribenhos receberam o secretário-geral do grupo de países de África, Caribe e Pacífico (ACP), Mohammad Ibn Chambas, que afirmou que a “agenda para a mudança”, lançada no ano passado pela UE, estabelece um novo contexto para sua ajuda ao desenvolvimento. “O objetivo é racionalizar a ajuda ao desenvolvimento e garantir maior efetividade e maior impacto à luz das últimas mudanças econômicas e geopolíticas”, afirmou.

Chambas explicou que a maior preocupação é o novo critério de “diferenciação” da União Europeia, pelo qual o bloco procura eliminar alguns países de renda média-alta (média-alta?) beneficiados por seu Instrumento de Cooperação ao Desenvolvimento. “Estamos conscientes de que a Europa enfrenta uma crise fiscal sem precedentes. Parece claro que estão decididos a racionalizar as transferências financeiras para países em desenvolvimento de uma maneira que poderia prejudicar significativamente o fluxo de recursos para as nações de renda média-alta, muitas das quais estão no Caribe”, apontou.

“Na Secretaria nos esforçamos para explicar aos nossos colegas europeus que os números puros do PIB não dão a imagem completa da pobreza em nossos países”, contou Chambas, acrescentando que este indicador “tampouco faz justiça a cruciais desafios como a mudança climática e a vulnerabilidade estrutural de muitas de nossas nações”. Há um velho ditado africano que diz que “quando a música muda, também muda a dança. Claramente, a música está mudando não apenas na Europa, mas em nível mundial”, ressaltou. Envolverde/IPS