Este ano, o jornalista e consultor Adalberto (mais conhecido como Dal) Marcondes criou uma expressão para definir as relações formais e planejadas das organizações complexas com fins lucrativos com suas comunidades próximas: diplomacia social.
Parece eufemismo. Há até quem veja nessa expressão certa falácia, um viés de engodo. A mim parece muito adequada.
A diplomacia governamental internacional, um sinônimo de relações exteriores, tem se caracterizado, sobretudo por acontecer em momentos que antecedem ou durante conflitos de várias instâncias, sobretudo aquelas econômicas e sociais.
A diplomacia governamental tem sido chamada para administrar embates econômicos que envolvem importação e exportação de produtos como açúcar, carne, vinhos; e antagonismo étnico como costuma acontecer na Europa e na África.
A diplomacia governamental, quando se torna notícia, quase sempre está encarregada de resolver pendências graves.
E a diplomacia social, que tipo de atividade ela desenvolve?
Tenho trabalhado como consultor em questões de relacionamento de empresas com as comunidades próximas, sempre envolvendo conflitos ligados a meio ambiente. As comunidades reclamam, primeiro, diretamente com a empresa. Em seguida, vendo que seus apelos, mesmo quando são ouvidos, não são atendidos, recorrem aos órgãos oficiais de proteção do meio ambiente e mesmo ao Ministério Público.
Nesse momento, as empresas recorrem a consultores em comunicação organizacional. Evidentemente, nunca é tarde para se resolverem conflitos. Mas a resolução fica cada vez mais difícil quando o embate se transformou numa queda de braço.
Comumente, nesses casos, há um aspecto técnico envolvido: que equipamentos e processos são necessários para atender às exigências do órgão de controle da poluição? Em quanto tempo a empresa pretende adquirir equipamentos e implantar processos? Quanto tempo a comunidade está disposta a esperar?
Não são poucos os casos em que as empresas, ao se instalarem, constituíam-se nos únicos equipamentos urbanos no local. Aos poucos, a população foi adquirindo terrenos e construindo casas ao seu redor.
Mas há casos de empresas com potencial poluidor que se instalam em locais onde já se encontram residências.
Em ambos os casos, os conflitos poderiam ser eliminados, ou bastante reduzidos, se fosse desenvolvida alguma atividade de “diplomacia social”.
Mesmo empresas que cumprem religiosamente seus deveres de proteção do meio ambiente não podem esquecer-se de estabelecer um bom relacionamento com as comunidades próximas.
“Diplomacia social” é um bom nome para “relações com a comunidade”. Essas ações, contudo, não podem ficar apenas no nível ambiental. Assim como a escola precisa de interação estreita com os pais e a comunidade, também as empresas necessitam conhecer bem suas comunidades próximas.
Nos planos de comunicação organizacional integrada, deve existir uma expressão que deixe entrever a preocupação da empresa com as comunidades próximas. A isso deve ser dada uma especial atenção, porque prevenir conflitos é sempre melhor do que remediá-los. É mais barato e mais prazeroso, tanto para a empresa quanto para a comunidade.
Não importa que a expressão seja “relações com a comunidade” ou “diplomacia social”. É indispensável que ela exista e que suas ações sejam consequentes. E que a política empresarial em relação à comunidade esteja alinhada com sua política geral de relacionamento com todos os seus públicos, sejam eles internos ou externos.
Uma empresa transparente, preocupada com as questões socioambientais internas e externas e que demonstra essa preocupação por meio de ações, certamente terá melhores condições de resolver eventuais conflitos comunitários. E a melhor palavra para expressar a qualidade das “relações com a comunidade” ou a “diplomacia social” é diálogo, expressa por uma adequada e cordial convivência.
* Fernando Rios é jornalista, publicitário, antropólogo, consultor em comunicação organizacional integrada, poeta e artista plástico. E-mail: [email protected]. Site: www.fernandorioscom.art.br.