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Disputar com os homens o poder político e econômico

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Bineta Diop com a subsecretária-geral da ONU, Asha-Rose Migiro.
Dacar, Senegal, 26/7/2011 – Bineta Diop, fundadora e diretora da organização não governamental Femmes Africa Solidarité (Mulheres África Solidariedade), dedica-se à proteção de mulheres em zonas de conflito e à sua integração nos processos de paz. A revista norte-americana Time colocou, em abril deste ano, Diop entre as cem pessoas mais influentes do mundo e reconheceu sua participação em várias iniciativas de paz na África. As mulheres devem desafiar os homens para obter o poder político e econômico, afirmou em entrevista à IPS.

IPS: Vários governos africanos, americanos e europeus adotaram um plano de ação para implementar a Declaração Solene Sobre Igualdade de Gênero na África.

BINETA DIOP: A conferência internacional de Dacar não foi apenas mais uma. A Declaração Solene, adotada pela União Africana (UA) em 2004, já entrou em vigor em alguns países. Ruanda e África do Sul a estão implantando. Porém, se realmente queremos que seja realidade, precisamos de um contexto de execução com indicadores que possam ser medidos e um orçamento. A sociedade civil, os governos e a Organização das Nações Unidas (ONU) devem trabalhar em conjunto em um plano de ação que acelere a implantação da declaração. Os especialistas fizeram seu trabalho, agora é a vez dos políticos. Foi isso que impulsionou nosso trabalho na conferência de Dacar.

IPS: A luta para conseguir a igualdade de gênero é monumental. Quais são as prioridades?

BD: Trata-se de garantir que os assuntos femininos sejam considerados em políticas e programas. Não estou certa de que a representação dos homens tenha utilidade, nem que eles possam expressar as necessidades das mulheres. A liderança feminina deve estar refletida diretamente nos mecanismos de tomada de decisão. Para que isto ocorra, as mulheres devem falar de seus próprios assuntos. Este é o centro da luta pela igualdade de gênero. A prioridade é atender as mulheres com mais desvantagens e as que são vítimas da violência em zonas de conflito. Também é preciso ajudar a elevar a voz das que não podem ser ouvidas.

IPS: Acredita que, se as mulheres entrarem em setores como o militar, surgirão oportunidades para melhorar a prevenção e a resolução de conflitos?

BD: É importante que entrem no exército, é uma forma de garantir seu papel na segurança e possibilitar soluções para a insegurança e o conflito. Trabalhamos nos desafios que supõem integrar as mulheres à força militar e ajudar os países a desenharem planos de ação. Também nos dedicamos a projetos com vistas à implantação da Resolução 1325 da ONU, que exorta as mulheres a se colocarem no coração das estruturas militares, judiciais e políticas para transformá-las.

IPS: Quando se fala de igualdade de gênero costuma-se insistir na questão da representação feminina. Isto não ofusca as condições de vida das camponesas?

BD: A situação das mulheres da área rural está no centro da luta. É por elas, acima de tudo, que devemos atuar. Devem ter as mesmas ferramentas que os homens, como acesso ao crédito, à terra, aos serviços de saúde e proteção diante do casamento precoce. Este é o trabalho da Femmes Africa Solidarité. Trabalhamos com mulheres em zonas de conflito tentando fazer com que os países melhorem seus sistemas políticos e econômicos. Sem isso não creio que possamos realmente transformar a sociedade.

IPS: Apesar das muitas declarações e protocolos adotados, a representação feminina na tomada de decisões e sua situação não continuam sendo fracas?

BD: Se observarmos o progresso que houve entre a adoção da Plataforma de Pequim, em 1995, e agora, veremos os êxitos. Não se pode negar nem dizer que o documento foi ignorado. A Resolução 1325 permitiu às mulheres sentarem-se à mesa de negociações da ONU, dialogar com o Conselho de Segurança em questões fundamentais. Esse documento permitiu que mulheres como eu estejam no fórum mundial, com o secretário-geral, Ban Ki-moon, e falemos sobre paz e segurança. Junto com Mary Robinson, ex-presidente irlandesa, influímos no Conselho de Segurança. Claro, ainda há muito a ser feito. Concordo que as mulheres do campo continuam sofrendo apesar do duro trabalho feito para que mais da metade do parlamento de Ruanda fosse ocupado por mulheres. O avanço é muito lento. No entanto, as mulheres não esperam de braços cruzados, ainda que o poder econômico e político esteja nas mãos dos homens. É, precisamente, nesse campo que se deve lutar. E não o fazemos pegando em armas. Desafiamos os homens a compartilharem o bolo, o poder econômico e político. Envolverde/IPS