Divergências travam negociações do clima em Bangcoc

Agenda proposta pelo G77 mais a China cria desentendimento e países debatem qual seria o papel dessa primeira rodada climática das Nações Unidas de 2011, que até agora não conseguiu avançar com relação aos Acordos de Cancún.

 

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Os conflitos entre os representantes dos mais de 200 países reunidos na Tailândia podem ser grandes demais para que em apenas uma semana seja possível alcançar algum avanço, por menor que seja, com relação às propostas da Conferência do Clima (COP 16), realizada no final do ano passado em Cancún.

“Até agora não conseguimos nada aqui”, resumiu Sven Harmeling, da ONG Germanwatch.

Já era esperada muita dificuldade para debater temas como o futuro do Protocolo de Quioto e a consolidação das medidas anunciadas na COP 16, porém o clima está tão tenso em Bangcoc que até mesmo o que será o foco da discussão se torna um problema.

O grupo formado pelo G77 mais a China apresentou uma agenda com elementos que foram deixados de fora em Cancún e que precisam ser totalmente analisados e debatidos. Porém, os demais países afirmam que a atual rodada de negociações deveria ser utilizada para confirmar e detalhar os compromissos já formulados na COP 16.

“A esperança era de que aqui teríamos um debate mais focado e objetivo, construído sobre as bases da COP 16 e não termos que abrir de novo todo um leque de opções”, explicou à Reuters Oleg Shamanov, chefe da delegação russa.

Segundo Shamanov, Bangcoc serviria para traçar os contornos dos Acordos de Cancún e assim facilitar a construção de um tratado global na próxima COP, na África do Sul, no final de novembro.

“Ao invés disso estamos agora paralisados em questões puramente processuais de agenda que poderiam ter sido evitadas. Está sendo uma grande decepção este evento e estamos retrocedendo com relação ao que já havíamos conquistado”, afirmou o russo.

Estados Unidos

Quem também não está nada feliz é a delegação norte-americana, que engrossou o discurso e agora só aceita um acordo global para emissões se todos os países participarem, sem a distinção entre ricos e em desenvolvimento.

“Muitas nações, inclusive algumas das maiores do planeta, continuam querendo manter uma divisão que não existe na realidade. Isso é injustificável e incompatível com o problema climático atual. Não nos submeteremos a um novo acordo que seja feito baseado nessa distorção”, afirmou Todd Stern, chefe da delegação dos Estados Unidos.

A divisão entre países ricos e pobres aparece com bastante força no Protocolo de Quioto, que obriga apenas os países industrializados a cortarem suas emissões. Justamente por essa razão que os Estados Unidos nunca assinaram o Protocolo. Já para o Japão, Rússia e Canadá, Quioto não tem mais utilidade, porque deixa de fora os dois mais emissores do planeta, China e EUA.

Para Stern, a participação da China deveria ser obrigatória em qualquer futuro acordo. “Não podemos tratar a China como se fosse o Chade. Ela é hoje a segunda maior economia do mundo”, declarou.

A delegação dos Estados Unidos está pedindo a formalização de metas domésticas de cada país, seja ele rico ou em desenvolvimento. Depois desse passo é que seria formulado algum tipo de acordo global.

“Nós não somos contra compromissos de cortes de emissões, mas acreditamos que eles devem ser para todos os países que contribuem significantemente para as mudanças climáticas”, concluiu Stern.

Diante de todo esse imbróglio e levando em conta que já estamos no penúltimo dia da rodada de Bangcoc, parece claro que não haverá o que se comemorar no fim de semana.

*Publicado originalmente no site do Instituto CarbonoBrasil.