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Doadores voltam as costas para o Talibã

Em Peshawar, capital de Khyber Pakhtunkhwa, doadores e ex-partidários do Talibã voltaram as costas para o movimento islâmico neste Ramadã. Foto: Ashfaq Yusufzai/IPS

 

Peshawar, Paquistão, 23/8/2012 – Durante cinco anos, o médico Sharifullah Shah, da atribulada província paquistanesa de Waziristão do Norte, entregou US$ 500 ao movimento islâmico Talibã no mês sagrado do Ramadã. Mas estes tempos acabaram. Este ano preferiu colaborar com o Centro de Bem-Estar Edhi, porque sabe que sua contribuição chegará aos mais necessitados. “Sei que o Centro usa o dinheiro para educar e cuidar de crianças órfãs, enquanto os insurgentes do Talibã o destinam às suas ações violentas”, disse Shah à IPS, explicando que dar ao Talibã equivale a “ajudar o terrorismo”.

Em todas as áreas controladas pelo Talibã, ex-partidários lhe dão as costas, descontentes com sua violência implacável. “Durante dez anos entregamos 2,5% de nossos ganhos ao Talibã porque queríamos que nosso dinheiro servisse a Alá, mas este ano acabou, porque mata pessoas em atentados terroristas com nosso dinheiro”, disse Umar Gul, vendedor de roupa em Peshawar, capital da província de Khyber Pakhtunkhwa. Assíduo contribuinte do Talibã, Gul desejaria nunca ter feito essas doações.

No final de 2001, quando uma coalizão de forças internacionais liderada pelos Estados Unidos derrubou o governo do Talibã no Afeganistão, as pessoas se amontoavam nos acampamentos de doações criados por partidos religiosos em nome do movimento islâmico, pelo qual tinham grande estima acreditando que fosse defensor do Islã. “Agora se tornaram sequestradores e assassinos da humanidade”, ressaltou Gul.

Uma autoridade religiosa local disse à IPS que o Talibã foi um dos grandes beneficiários de doações durante o mês de jejum do Ramadã. Mas, como não cessam seus ataques nem mesmo durante o Ramadã, as pessoas se mostram cada vez mais reticentes em fazer doações a favor da violência. “Os muçulmanos têm a firme convicção de que o Ramadã traz uma série de bênçãos para os seres humanos, e os que recorrem a assassinatos e a outras ações danosas nesta época não têm relação com o Islã”, explicou.

“Meus seguidores costumavam entregar mais de US$ 1 mil a um grupo de jihadistas que operavam sob o guarda-chuva do Tehreek Taliban Pakistan (TTP) em cada Ramadã, mas já não querem continuar fazendo isso”, afirmou o religioso. Mian Iftikhar Hussain, porta-voz do governo do Partido Nacional Awami nesta província, e cujo único filho foi morto por combatentes islâmicos em julho de 2010, concorda com ele. “O Islã prega fraternidade e paz, mas o Talibã faz exatamente o contrário. Pedimos que renunciasse à sua beligerância durante o Ramadã, mas todas as súplicas caíram em ouvidos surdos”, lamentou.

Diminuindo as doações, os insurgentes do Talibã roubam bancos e praticam extorsão por meio de sequestros, contou Hussain. O jornal Dawn informou, no dia 21 de junho, que o policial Raja Tahir dissera que ladrões de banco deram dinheiro ao Talibã. “Seguimos a pista de 34 ladrões do distrito de Kohatem Khyber Pakhtunkhwa, que financiaram o Talibã”, afirmou.

Comerciantes desta cidade disseram à IPS terem notado um importante aumento de doações para organizações de beneficência. “Agora temos que esvaziar a caixa de doações para o centro de pesquisa sobre câncer Shaukat Khanum Memorial todos os dias”, disse à IPS Imran Ali, gerente da Imperial Stores, em Peshawar. Ele acrescentou que muitos comerciantes não permitem que sejam colocadas caixas de doações para o Talibã em suas lojas porque “se tornou sinônimo de terrorismo”.

O religioso Maulana Mohammad Sattar, ex-simpatizante do Talibã, acredita que o mais deplorável de sua selvageria é o orgulho que seus membros sentem de cada atentado terrorista. Recordou o ataque contra um ônibus escolar cometido em outubro nesta cidade, que deixou três crianças mortas e dez feridas, e que o Talibã assumiu de imediato. “O assassinato de crianças simplesmente é desumano e nenhuma pessoa em sã consciência o aprovaria”, opinou.

Ao cruzar essa linha, o movimento islâmico diminuiu de forma significativa sua própria base de apoio. Na oração do dia 19, algumas autoridades religiosas condenaram o Talibã e pregaram que lhe dar doações não é servir ao Islã nem à humanidade. “Devemos pensar antes de fazer doações porque o Talibã adotou o caminho do terrorismo e não é apropriado lhe dar dinheiro”, afirmou Maulvi Tabriz Khan em um sermão dominical por ocasião da festa muçulmana de Eid al-Fitr.

Khan disse, ainda, que o Paquistão tem uma grande quantidade de filantropos, mas que é um desperdício dar dinheiro ao Talibã. Este movimento se tornou o pior inimigo da humanidade e o dinheiro só o fará mais poderoso, ressaltou. “As pessoas que dão dinheiro ao Talibã não receberão a benção de Alá, mas enfrentarão a ira divina”, afirmou. Envolverde/IPS