Helsinque, Finlândia, julho/2012 – As doenças cardiovasculares foram durante meio século a principal causa de morte nos países ocidentais e recentemente começaram a dominar as estatísticas médicas no sul do mundo. Na Índia, por exemplo, as afecções coronárias agora são as maiores assassinas de seus habitantes, enquanto os derrames cerebrais se aproximam do segundo lugar.
Atualmente, as doenças cardiovasculares matam cerca de 17 milhões de pessoas por ano no mundo e um número crescente sofre ataques do coração ou apoplexias entre os 40 e 50 anos.
A expansão da pandemia responde a uma série de causas complementares. As pessoas vivem mais anos, sua alimentação é pouco saudável, fumam mais e fazem menos trabalhos manuais. Cada vez mais cidadãos viajam em trem, ônibus ou automóvel em lugar de caminhar ou utilizar a bicicleta.
A maioria da população mundial está respirando ar seriamente contaminado. As pequenas partículas que inalamos nem sempre são exaladas.
Estas partículas podem se mover dos pulmões para outros órgãos, ou se converterem em parte das placas formadas por bactérias nas paredes de nossas artérias. Outro fator pode ser a reduzida exposição à luz solar, pois faz com que a pele converta menos colesterol em vitamina D.
Entretanto, o principal causador da epidemia cardiovascular pode ser o crescente uso de óleos e gorduras insalubres, cujo consumo mundial chega atualmente a 150 milhões de toneladas.
Um terço do total provém de uma única espécie, a palma africana (Elaeis guineensis), que é uma prolífica produtora de óleo vegetal.
Infelizmente, o óleo de palma contém quase 50% de ácido palmítico, que é, para coração e veias, um dos ácidos mais maléficos. E o óleo de coco, que fornece 5% dos óleos comestíveis, é ainda menos são.
Segundo previsões oficiais, o consumo mundial de óleos comestíveis aumentará para 300 milhões de toneladas até 2030. Estima-se que a maior parte do óleo produzido para atender este aumento da demanda virá de plantações de palma.
Na Malásia e na Indonésia, bem como em uma série de outros países, o desmatamento de enormes áreas nas florestas tropicais deu lugar a plantações de palma.
Na Indonésia já há nove milhões de hectares plantados com esta oleaginosa e as empresas pediram autorização para plantar outros 26 milhões de hectares.
Estas notícias horrorizaram os ambientalistas. Mas, não é tudo. Mais de dois milhões de hectares plantados com palma o são em solos profundos de turba, o que causa elevadas emissões de dióxido de carbono devido à oxidação do combustível.
Os efeitos sobre a saúde pública desta tendência recebem muito menos atenção do que deveriam. Se a humanidade triplicar ou quadruplicar seu consumo de óleo de palma, a atual pandemia cardiovascular se agravará, sobrecarregando os sistemas de saúde pública, dos quais desviará tempo e recursos para tratar as doenças das pessoas pobres.
O mundo precisa de vastas quantidades de óleos comestíveis mais sãos para prevenir algo que, de outro modo, pode se converter no pior desastre da saúde pública na história mundial.
Os óleos comestíveis mais sãos contêm poucos ácidos graxos saturados e uma alta porcentagem de monoinsaturadas.
As gorduras poli-insaturadas são, naturalmente, mais saudáveis do que as saturadas, mas são menos estáveis do que as monoinsaturadas.
Muitas plantas produzem óleo que tem uma quantidade de ácidos graxos monoinsaturados e apenas um pouco de gordura saturada, mas dois deles são especialmente importantes: os de oliva e de abacate.
Mais de 80% do óleo de oliva consiste em gordura monoinsaturada que ajuda a manter elevados os níveis do colesterol bom e baixos os do colesterol ruim. Segundo alguns estudos, o óleo de oliva poderia, inclusive, reduzir em 45% o risco das mulheres contraírem câncer de mama. Envolverde/IPS
* Risto Isomaki é ambientalista e novelista finlandês.