Por Dal Marcondes
Depois de muito tempo longe de seus afazeres mágicos, o duende voltou à sua velha árvore. Mais maduro, com o coração calejado pelas maldades que viu pela Terra, já não era mais o mesmo otimista de tempos atrás.
Olhou em volta e viu que cresciam muitas ervas daninhas em seu outrora lindo jardim. As rosas deram lugar a espinhos, a grama ao capim e muitas árvores haviam sido cortadas.
A relva não mais brilhava como diamante ao sol da manhã. Um fosco escuro dominava a paisagem. No ar o cheiro ocre do enxofre. No céu as nuvens das chaminés ocuparam o lugar do sol e do luar.
No tempo em que esteve fora, ocupado em não sentir, a escuridão da alma se ocupou em crescer. Para cada canto onde sua vista alcança a decrepitude cresce.
Então, como um furtivo fantasma, aproximou-se da porta dos amigos. Empurrou lentamente sobre as dobradiças resistentes. Um certo cheiro de mofo subiu-lhe às narinas. Teve medo de olhar.
No escuro, ouviu uma voz fraca que repetia em refrão:
“Eu acredito em ti,
Eu sei que voltaras.
Eu creio no sol,
Eu creio na lua.
Enquanto eu acreditar,
Um duende existirá.
Quando eu morrer,
Um duende morrerá”.
Então ele se lembrou. É verdade, os duendes existem pela fé humana. E ele se lembrou que é um duende. Que depois de tantos anos talvez consiga voltar a fazer sorrir.
E ele se aproximou daquela linda pessoa machucada refugiada na escuridão e agradeceu.
“Obrigado por me deixar existir”
E sua aura se espalhou para trazer de volta o sol, a lua, o sorriso…
(#Envolverde)