Dois pesquisadores brasileiros da M.D. Anderson Cancer Center, em Houston, nos Estados Unidos, descobriram um novo mecanismo para combater a obesidade.
Wadih Arap e sua mulher Renata Pasqualini, fundadores da companhia, aplicaram diariamente injeções de uma droga chamada adipotide em macacos obesos durante 28 dias. Resultado: os macacos perderam em média 11% de peso.
“Isso pode não parecer muito, mas qualquer tratamento contra a obesidade requer dieta, exercícios e uma perda de 10% de peso entre seis meses e um ano”, diz Arap na entrevista exclusiva para o site de CartaCapital.
No entanto, seus macacos não somente não fizeram exercício, como também não deixaram de tomar sorvetes.
Além disso, houve reduções no índice de massa corporal, na circunferência da cintura. Mais: “a quantidade de insulina que os macacos obesos precisaram no final do tratamento foi em média 53% inferior àquela necessária no início do tratamento”, explica Arap.
De que forma o novo tratamento contra a obesidade se diferencia dos outros? “Tipicamente os tratamentos contra a obesidade suprimem o apetite ou aumentam o metabolismo periférico”, responde Arap. Ou fazem as duas coisas.
O novo mecanismo desenvolvido por Pasqualini e Arap é inovador. “Trata-se da destruição dos vasos sanguíneos que servem o tecido adiposo branco”, diz Arap. O médico emenda: “Ao destruir esse tecido, a gordura é liberada, cai na circulação e é metabolizada de novo – e lentamente – no fígado. É por isso que os macacos perdem peso.” Segundo Arap, ocorre ainda uma diminuição do apetite “provavelmente isso acontece quando a gordura cai no sistema circulatório e há uma interação com o hipotálamo”.
As pesquisas do casal tiveram início em 2004, quando conseguiram reduzir de forma significativa o peso de camundongos tratados com adipotide.
Por que eles resolveram usar macacos obesos?
“A obesidade em primatas é muito mais similar à obesidade humana nos planos psicológico e metabólico”, observa Arap. Segundo o médico, numerosas drogas contra a obesidade falham provavelmente porque foram desenvolvidas em sistemas de roedores. Pasqualini e Arap têm 900 macacos nas cercanias de Austin, no Texas. Cerca de 2% deles são espontaneamente gordos – e são estes a representar a população do estudo.
Testes clínicos com humanos envolverão obesos com câncer de próstata. Isso porque a clínica M.D. Anderson lida, segundo Arap, “inteiramente com doenças de câncer na próstata”. Arap levanta a seguinte questão: “Se melhorarmos o perfil metabólico desses pacientes também melhorará o câncer?”
O remédio contra a obesidade, cujos direitos foram licenciados para a Ablaris Therapeutics Inc., deverá ser usado para outros fins. Por exemplo, pacientes morbidamente obesos poderiam tomar a droga antes de serem submetidos a cirurgias bariátricas. Numerosos pacientes, vale exprimir, são inoperáveis. A adipotide também poderia ser usada no tratamento da diabetes tipo 2.
E quando a droga estará disponível nas farmácias?
“Todo mundo me faz essa pergunta, mas o processo regulatório é bastante complicado”, responde Pasqualini. De acordo com a médica, foram realizados numerosos estudos em várias espécies por toxicologistas. No entanto, é impossível prever se e quando o remédio chegará às farmácias.
Pasqualini observa que houve efeitos colaterais nos rins. “A toxicidade realmente parece exclusiva a um fragmento da droga que acaba sendo liberado nos rins e produz uma série de lesões não sérias, mas que afetam um pouco sua função”, observa. Contudo, esses problemas foram resolvidos com a interrupção do tratamento.
Arap quis ser transparente ao dizer que ele e sua mulher são investidores da Ablaris Therapeutics. Os royalties gerados pela comercialização do remédio serão de Pasqualini e Arap.
* Publicado originalmente no site da revista Carta Capital.