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É hora de dar o passo para a igualdade de gênero

Trabalhadoras da construção civil do Rio de Janeiro. No ritmo de progresso atual, somente dentro de 75 anos as mulheres receberão o mesmo que os homens por trabalho igual. Foto: Fabiana Frayssinet/IPS
Trabalhadoras da construção civil do Rio de Janeiro. No ritmo de progresso atual, somente dentro de 75 anos as mulheres receberão o mesmo que os homens por trabalho igual. Foto: Fabiana Frayssinet/IPS

 

Nações Unidas, 6/3/2015 – Se lermos as manchetes ou assistirmos ao último clip aterrador no YouTube neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher, não parece ser um bom momento para celebrar a igualdade das mulheres.

Entretanto, junto com as histórias de atrocidades extraordinárias e violência cotidiana, também existe outra realidade, na qual, como nunca antes, há mais meninas frequentando a escola e obtendo um diploma, a mortalidade materna situa-se nos níveis mais baixos da história, e as mulheres ocupam cargos de liderança e se põem de pé, se fazem ouvir e exigem ações.

Em setembro completará 20 anos que milhares de delegadas e delegados partiam da histórica Quarta Conferência Mundial sobre a Mulher de Pequim com grandes esperanças.

A sensação esmagadora era que as mulheres haviam conseguido uma grande vitória. E, de fato, assim era: 189 líderes mundiais haviam comprometido seus países com uma extraordinária Plataforma de Ação que tinha promessas ambiciosas, mas realistas, em áreas fundamentais, e um mapa do caminho para cumpri-las.

Se os países tivessem cumprido todas essas promessas, hoje estaríamos observando muito mais avanços em matéria de igualdade do que as pequenas conquistas que celebramos em algumas áreas. Estaríamos falando de igualdade para as mulheres em todos os âmbitos e poderíamos estar falando de um mundo mais saudável, com uma prosperidade mais uniforme e sustentavelmente mais pacífico.

Ao observar o progresso lento e irregular para a igualdade de gênero, parece que tivemos a expectativa ambiciosamente exagerada de em 20 anos acabar com um regime de desigualdade e opressão absoluta, que em alguns casos havia durado milhares de anos.

E era pedir muito? Que tipo de mundo é este que condena metade de sua população a uma condição de cidadania de segunda classe, no melhor dos casos, e à escravidão absoluta, no pior deles? Quanto custaria, na realidade, liberar o potencial das mulheres do mundo? E quanto se poderia ter ganho! Se as líderes e os líderes do mundo verdadeiramente viram na Plataforma de Ação de Pequim um investimento no futuro de seus países, porque não a cumpriram?

Phumzile Milambo-Ngcuka, diretora-executiva da ONU Mulheres. Foto: Cortesia da ONU Mulheres
Phumzile Milambo-Ngcuka, diretora-executiva da ONU Mulheres. Foto: Cortesia da ONU Mulheres

 

Algumas mulheres estão ocupando lugares nos principais centros de tomada de decisões. Em 1990, as chefes de Estado ou de governo eram 12. Em 2015, são 19, mas o restante são homens. Oito em cada dez parlamentares em todo o mundo ainda são homens.

A mortalidade materna diminuiu 45%, mas a meta para 2015 era redução de 75%. Ainda há 140 milhões de mulheres sem acesso ao planejamento familiar moderno, mas a meta para 2015 era a cobertura universal.

Mais meninas estão começando a escola e mais meninas estão completando sua educação. Os países, em grande parte, eliminaram a “brecha de gênero” na educação primária. Muitas outras meninas estão ingressando no ensino secundário, mas há uma ampla brecha entre os níveis educacionais alcançados pelas meninas e pelos meninos.

Há mais mulheres trabalhando: há 20 anos, 40% das mulheres tinham emprego remunerado e assalariado. Hoje essa proporção aumentou e chega a cerca de 50%, mas, neste ritmo, levará mais de 80 anos conseguir a igualdade de gênero no emprego e mais de 75 anos para alcançar a igualdade salarial.

Este ano representa uma grande oportunidade para as e os líderes do mundo, e também um grande desafio. Quando se reunirem nas Nações Unidas em Nova York, em setembro, terão a oportunidade de repassar e voltar a se comprometerem com os objetivos de Pequim.

Hoje exortamos esses líderes e essas líderes a unirem-se às mulheres em uma grande aliança a favor dos direitos humanos, da paz e do desenvolvimento. Os exortamos para que deem um exemplo de sua própria vida sobre o modo como a igualdade beneficia cada pessoa: homem, mulher, menino e menina. E os exortamos a encabeçarem e investirem em uma mudança no âmbito nacional, que enfrente as disparidades de igualdade de gênero que sabemos ainda persistirem.

Devemos ter na mira um resultado final. Nosso objetivo é uma ação substancial imediata, focada de forma urgente nos próximos cinco anos e na igualdade antes de 2030.

Há uma necessidade imperiosa de modificar o ritmo atual. A baixa representação das mulheres na tomada de decisões políticas e econômicas ameaça o empoderamento das mulheres e a igualdade de gênero, de cuja abordagem os homens podem e devem fazer parte.

Se no próximo mês de setembro os e as líderes mundiais unirem-se às mulheres do mundo, se genuinamente redobrarem seus esforços pela igualdade a partir das bases fundadas durante os últimos 20 anos, se puderem realizar os investimentos necessários, forjar alianças com as empresas e a sociedade civil e se responsabilizarem pelos resultados, isso poderia ser conseguido antes.

No final, as mulheres obterão a igualdade. A única pergunta é por que devemos esperar? Por isso estamos celebrando neste 8 de março o Dia Internacional da Mulher com confiança na expectativa de que teremos ainda mais motivos para comemorar no próximo ano e nos vindouros. Envolverde/IPS

* Phumzile Mlambo-Ngcuka é diretora-executiva da ONU Mulheres.