Como a maioria dos leitores deve saber, a Folha de S. Paulo conseguiu censurar o blog Falha de S. Paulo, dos irmãos Mário e Lino Bocchini, que fazia uma paródia do jornal. Censura mesmo, não aquela que o Estadão diz sofrer. O blog está fora do ar há 368 dias. Não perderemos tempo aqui a comentar como a defesa da liberdade de expressão no Brasil é seletiva. Ela só vale para proteger os amigos.
Curiosa, porém, foi a decisão do juiz Gustavo Coube de Carvalho, da 29ª Vara Cível de São Paulo, que manteve o blog fora do ar. Carvalho acatou os principais pontos da defesa dos irmãos Bocchini, mas arranjou uma forma de manter a censura. Apegou-se a um argumento nonsense. Como em qualquer blog, o Falha de S. Paulo mantinha uma lista de favoritos da qual constava um link para o site de CartaCapital. Além disso, por livre e espontânea vontade, os Bocchini criaram uma promoção no twitter. Haveria um sorteio de assinaturas semestrais da revista para os seguidores. Frise-se: a promoção foi criada por livre e espontânea vontade da dupla, que pagaria do próprio bolso as assinaturas.
Mas o juiz entendeu que, ao parodiar a Folha e criar a promoção no twitter, os Bocchini teriam o intuito de favorecer um concorrente (quem? Nós?) do jornal.
O engraçado é que CartaCapital entrou no imbróglio pelas mãos do próprio juiz. Nas quase cem páginas da ação redigida pelos advogados da Folha ou nas outras tantas da defesa dos irmãos, o nome da revista sequer havia sido mencionado.
Em consequência do envolvimento involuntário no episódio, resta fazer um esclarecimento didático (em homenagem ao juiz Carvalho): o blog Falha de S. Paulo não tem nenhum vínculo com CartaCapital. Os irmãos Mário e Lino Bocchini nunca prestaram nenhum tipo de serviço à editora responsável pela publicação desta revista. Lino, para quem não sabe, trabalhou anos no Grupo Folha e hoje labuta na revista Trip, que igualmente não mantém qualquer ligação conosco.
* Publicado originalmente no site da revista Carta Capital.