Entre os casais, um era composto pela assistente de recursos humanos Regina e pelo consultor de vendas Sérgio, que pediram para ter seus nomes trocados para evitar discriminação. Há cinco meses, quando faziam o exame pré-nupcial descobriram que ele é soropositivo. “Em nenhum momento passou pela minha cabeça que eu não pudesse realizar meu desejo de ser mãe. A medicina está muito avançada”, relata Regina, de 38 anos.
Assim como ela, outras 117 mulheres, juntamente com seus parceiros, procuraram pelo Ambulatório de Reprodução Assistida do Centro de Referência e Treinamento (CRT) em DST/Aids , que completou um ano de existência nesta semana. Número abaixo do esperado, segundo Waldemar Pereira de Carvalho, ginecologista da unidade. “Poderíamos estar atendendo de 300 a 400 casais”, comenta.
Do total de casais participantes, 40 já começaram o processo de gravidez segura, ou seja, os homens tiveram seus espermatozóides “lavados” para retirar o HIV e inseminados artificialmente nas mulheres.
Até o momento, duas engravidaram. Uma gestação evoluiu para aborto e outra é considerada ótima pelos médicos. “Muito tempo se leva para a seleção e a orientação dos usuários. Por isso, apenas duas mulheres engravidaram”, alega Waldemar.
A infectologista e coordenadora do Ambulatório, Rita Sarti, lembra que há um consenso médico em relação a uma série de exigências para se fazer a inseminação. “É preciso ter boa adesão ao tratamento, analisar os antirretrovirais que estão sendo tomados para ver se não há risco para o feto, e não ter doenças oportunistas”, explica.
Como funciona o método
No caso de casais em que ambos são soropositivos ou apenas o homem possui HIV, é feita a lavagem de esperma para que o material apresente carga viral indetectável. Em seguida é realizada a inseminação artificial.
Já quando ela é quem vive com HIV, o que precisa ser feito é a inseminação vaginal.
O tempo do tratamento varia de acordo com cada caso, mas sempre o procedimento deve ser realizado quando a carga viral do soropositivo estiver baixa ou indetectável.
Além disso, é preciso ter acompanhamento específico para evitar a transmissão vertical do HIV, que pode acontecer de mãe para filho durante a gestação, parto ou amamentação.
A reprodução assistida é bastante segura e reduz a zero o risco de infecção ou reinfecção pelo HIV.
Expansão do serviço
De acordo com o Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, o CRT de São Paulo é o único serviço a oferecer a reprodução assistida a soropositivos pelo SUS.
Para o médico Waldemar Pereira de Carvalho, cada Estado deveria ter um centro como esse. “Hoje as pessoas com HIV têm grande expectativa de vida e querem ter filhos”, afirma.
* Publicado originalmente pela Agência Aids e retirado do site da revista Carta Capital.