Arquivo

Economia cubana diante da aliança interregional

Hotel Nacional de Cuba. O turismo é um dos setores mais atraentes para o capital estrangeiro. Foto: Jorge Luis Baños/IPS

Havana, Cuba, 19/2/2013 – A reforma econômica cubana pode traçar este ano mudanças mais profundas, integrada com maiores laços à sua região geográfica, um projeto que na semana passada recebeu a aprovação da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). “Cuba precisa duplicar seu nível de investimentos atual”, disse à IPS o pesquisador Ricardo Torres, do estatal Centro de Estudos da Economia Cubana. Para que isto aconteça, entende que deve haver uma “discussão sobre qual papel terá o investimento estrangeiro”, um passo imprescindível para o desenvolvimento nacional, e que provoca reações convergentes no país.

O capital que esta ilha demanda supera os volumes alcançados nos últimos 20 anos. Por isto, deve traçar uma “política com visão estratégica sobre quais tipos de investimentos convêm” e que vença obstáculos como o veto para Cuba ter acesso a créditos de entidades multilaterais como o Banco Mundial, devido ao bloqueio imposto pelos Estados Unidos desde o começo da década de 1960. A presença de associações internacionais em Cuba diminuiu a partir de 2002 e começou a crescer levemente em 2009.

Nos últimos anos se perfilaram como sócios importantes dos países da região latino-americana, Brasil e Venezuela, que junto de Espanha, Itália, Canadá e França constituem os investimentos mais relevantes. Na verdade, ambos participam das duas zonas especiais de desenvolvimento de maior potencial por causa do ajuste do governo de Raúl Castro. O capital venezuelano aposta no polo petroquímico de Cienfuegos, 232 quilômetros a sudeste de Havana, e o brasileiro no porto de El Mariel, vizinho à capital cubana.

Este projeto brasileiro é um passo para melhorar a infraestrutura que ampliaria o comércio intrarregional, segundo Alicia Bárcena, secretária executiva da Cepal, que no dia 15 encerrou uma visita ao país para identificar apoios à reforma e à presidência rotativa que Havana exerce atualmente na comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). Com a liderança deste bloco que reúne 33 nações da área, Cuba poderia propor maior intercâmbio entre países, sugeriu Bárcena em entrevista coletiva antes de deixar Cuba. Este indicador alcança hoje apenas 19% na região, enquanto na Europa chega a 66% da atividade comercial.

A reforma econômica cubana pode ser “um processo do qual saia ganhando também toda a América Latina e o Caribe”, assegurou a especialista mexicana. Com as mudanças, a ilha poderá aumentar seu produto interno bruto (PIB), no contexto de um crescimento regional que a Cepal projeta entre 3,8% e 4% para o ano em curso. Porém, especialistas como Ricardo Torres alertam que Cuba “só deu os primeiros passos” de um programa extenso de transformações iniciado em 2008, e que ainda enfrenta muitos desafios, como a deterioração do fundo habitacional, obtenção e oferecimento de mais créditos, envelhecimento da população e ampliação do setor agropecuário, entre outros.

A ilha não atingiu sua meta de crescimento de 3,4% em 2012, chegando a 3,1%, sobretudo por não cumprimento na área da construção, segundo fontes oficiais. Além disso, gastou aproximadamente US$ 1,8 bilhão na importação de alimentos que podem ser obtidos localmente. Este e outros fatores, como o impacto do furacão Sandy em outubro, fizeram com que Cuba não figurasse entre os países da região com maior dinamismo no último trimestre de 2012.

Tampouco a Cepal identifica o país entre aqueles com maior crescimento previsto para este ano, que terá Brasil e Argentina no topo. Bárcena observou que a Cepal pode contribuir para atender novas necessidades estatísticas, à luz da atualização do modelo econômico cubano, e compartilhar suas experiências sobre a importância de estabelecer encadeamentos produtivos em setores estratégicos. A Cepal obteve resultados a partir de estudos no Equador, Uruguai, El Salvador e na Argentina. Neste último país, houve ligações desde a criação “da vaca até a elaboração do sapato”, citou Bárcena, que se reuniu com o presidente Raúl Castro no dia 13.

A entrega de terras ociosas a título de usufruto, o auge da microempresa privada restrita principalmente aos serviços, a possibilidade de vender automóveis e moradias, aumentar a elaboração local de materiais para construção e ampliação do sistema tributário figuram entre as principais transformações realizadas até o momento. Vozes especializadas e da sociedade civil esperam que sejam abertas possibilidades para criar pequenas e médias empresas em Cuba.

Na Europa, América Latina e Caribe estas representam cerca de 99% do total das empresas, geram 67% do emprego e se orientam para os mercados locais, segundo um recente estudo realizado pela Cepal e pela Associação de Câmaras de Comércio e Indústrias Europeias. Entretanto, deve-se destacar que a economia regional atravessa um momento complexo, atento ao fato de o crescimento global de 2012 ter sido de 3,1%, abaixo dos alcançados em 2011 e 2010.

A Cepal insiste, em seu último informe, que um dos principais desafios para enfrentar esta situação é aumentar o investimento na infraestrutura básica, melhorar a eficiência nos serviços e obter bases mais sustentáveis. Por sua vez, o Fundo para a Alimentação das Nações Unidas alertou que a pobreza extrema continua afetando 11,4% dos habitantes da região, número que não variou em relação a 2011. Envolverde/IPS

* Com a colaboração de Patricia Grogg.