Nova Délhi, Índia, julho/IPS – A sétima Cúpula do Grupo dos 20 países industrializados e emergentes (G-20), realizada em Los Cabos, no México, passou sem apresentar resultados animadores no curto prazo e com definições que trazem implícitos riscos adicionais no futuro.
É certo que houve uma mudança nas posições, já que da ênfase na consolidação fiscal e do equilíbrio macroeconômico se passou a promover o crescimento e o emprego.
Isto poderia levar, ao menos temporariamente, à recuperação econômica e a um crescimento nas economias industriais avançadas. Contudo, também poderia implicar um posterior adiamento da inquestionável necessidade de enfrentar os graves desequilíbrios estruturais que levaram à atual crise financeira e econômica.
A economia global aumentou maciçamente a liquidez. Isto não levou a uma rápida recuperação, já que os bancos continuam sendo reacionários a dar créditos, e as companhias, sentadas sobre enormes montanhas de dinheiro, são cautelosas na hora de investir.
Uma vez que a recuperação realmente comece, haverá o perigo de toda esta liquidez armazenada desencadear um recrudescimento da inflação.
Com se previa, a crise na zona do euro dominou nas sessões de Los Cabos, como já ocorrera na cúpula anterior, em Cannes, na França.
A diferença entre ambas está na maior especificidade das medidas para enfrentar a crise. Daí surgem uma referência ao Pacto Fiscal da União Europeia (UE), o estabelecimento de um Mecanismo Europeu de Estabilidade, o movimento para uma integração maior dos bancos e os amplos depósitos de seguros da zona do euro.
A declaração final de Los Cabos também se refere ao papel do Banco de Investimento Europeu na promoção do crescimento e do financiamento de projetos de geração de emprego.
Isto reflete uma maior pressão política sobre a Alemanha, que foi a campeã da austeridade e da disciplina fiscal dentro do euro. Porém, Angela Merkel cedeu quanto ao crescimento, mas somente com a adoção de um compromisso paralelo para alcançar uma maior integração e coerência política europeias.
A cúpula da União Europeia, prevista para o final deste mês, dará indicações mais claras sobre se o movimento para uma maior integração conseguirá consenso e com que rapidez poderia ser implantada.
Para vários países do bloco, incluindo a França, seria difícil conseguir o consenso político interno a favor da perda de soberania e de autonomia nas decisões que implicariam maior integração.
Pode-se dizer que o G-20 fez uma importante contribuição para estimular a confiança internacional ao dispor de um significativo aumento de recursos para resgate à disposição do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Graças às promessas feitas pelos países do Brics (Brasil, Índia, China e África do Sul), o FMI pode anunciar aumento adicional de US$ 430 bilhões em suas reservas.
Esses fundos adicionais e o argumento prévio de seus membros deu ao FMI um poder muito maior para enfrentar a crise de liquidez, tanto entre os países da zona do euro como em outras nações.
Neste caso, foram os principais países emergentes os que se colocaram à frente, como foi o caso da Índia, que contribuiu com US$ 10 bilhões, enquanto os Estados Unidos se mantiveram à parte.
É verdade que as promessas feitas para aumentar as reservas do FMI somente terão um impacto marginal em vista da escala das dívidas soberanas acumuladas na Europa. Entretanto, se essas promessas se unirem às medidas anunciadas pela UE a iniciativa do G-20 poderá contribuir par criar confiança nos mercados.
Em cúpulas prévias, os líderes dos países emergentes, em particular o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, defendeu um aumento significativo do fluxo de capitais para financiar infraestruturas nos países do Sul, o que promoveria o muito necessário desenvolvimento e, ao mesmo tempo, contribuiria para a recuperação das nações industrializadas.
Embora isto tenha se refletido nas declarações anteriores ao encontro, agora ocupa um lugar de maior destaque.
Como os fluxos de investimentos privados estão atualmente deprimidos, o desenvolvimento de infraestrutura exigirá aumento dos fundos à disposição nos bancos multilaterais de desenvolvimento, para facilitar um incremento nos empréstimos aos países do Sul. Porém, falta ver se isso acontecerá na prática.
No G-20 de Seul, foi convocada uma cúpula paralela de negócios, que se chamou B-20. Em Cannes, uma L-20 com representantes de organizações sindicais também se reuniu paralelamente.
Um fato interessante então foi o de um comunicado conjunto B-20/L-20 no qual se pedia aos líderes do G-20 para darem passos mais urgentes e significativos para promover a recuperação e o emprego na economia global. A incomum iniciativa conjunta de representantes do comércio e dos trabalhadores reflete a gravidade da crise em curso.
Comparada com as cúpulas anteriores, a de Los Cabos parecer ter resgatado algo da credibilidade do G-20. Por exemplo, com o autodesignado comitê de direção para a governança econômica global.
Entretanto, ainda falta atuar contra a inevitável tendência desses fóruns em tratar de uma agenda sobrecarregada e perder-se em um emaranhado de detalhes técnicos. Seu futuro pode depender de sua capacidade para resistir a um claro deslizamento para o vácuo verbal.
As economias emergentes têm o maior interesse no êxito do G-20 e cabe a elas assegurar que os líderes coloquem o foco em uma agenda mais limitada e cheguem a resultados substanciais expressos em uma linguagem curta e simples Envolverde/IPS
* Shyam Saran foi secretário de Relações Exteriores da Índia e atualmente é presidente do Serviço de Investigação e Informação (RIS) e membro superior do Centro para Pesquisa Política (CPR).