Eduardo Coutinho: sempre presente!
Um dos grandes desafios de qualquer ser humano é descobrir quais são os temperos mais adequados para nutrir, a cada segundo, a vontade e a delícia de viver.
Um dos grandes desafios de qualquer ser humano é descobrir quais são os temperos mais adequados para nutrir, a cada segundo, a vontade e a delícia de viver. Em mundo tão diverso de possibilidades e de escolhas díspares, Eduardo Coutinho optou por rechear a sua atividade profissional com um dos ingredientes mais comuns: cidadãos com verdadeiras histórias para contar.
Nesse exercício de descobrir “pérolas” de gente do povo ele nos presentou com documentários inesquecíveis, como “Cabra marcado para morrer”, iniciado em 1964, e concluído apenas vinte anos depois. A sua sensibilidade apurada e o jeito simples de trazer à tona a luz e a vitalidade de cada entrevistado, produziu obras essências para quem vai ao cinema à procura de consistência e não de efeitos especiais.
Cinco são as produções que completam a filmografia desse diretor octogenário e muito ativo: “Santo Forte” (1999), “Edifício Master” (2002), “Peões” (2004), “Jogo de Cena” (2007) e “As Canções” (2011). Uma coleção de obras magníficas, sempre atuais e deliciosas para rever a qualquer momento.
No exercício de sua atividade Coutinho soube, como poucos, identificar as pessoas certas para o que queria contar. Por mais que saibamos ser a morte o destino certo é difícil imaginar que ela possa emergir de dentro da própria casa e pelas mãos de um filho querido.
Sem qualquer julgamento, essa tragédia que colocou fim à existência do cineasta, segundo depoimento do suposto assassino divulgado pela mídia, tinha como objetivo “libertá-lo”, sabe-se lá do que. Humanista à procura de boas experiências do cotidiano é provável que Coutinho tenha, de alguma forma, “compreendido” a atitude de Daniel, que também tentou “libertar” a sua própria vida, como a de sua mãe, Maria Oliveira Coutinho. Até o momento, ambos permanecem hospitalizados.
Quando bem temperada, a vida não tem fim. Tudo o que foi realizado permanece para que seja apreciado por muitas e muitas gerações. Antes de escrever essa crônica um amigo me ligou lembrando que eu o apresentei para o Eduardo Coutinho há quinze anos, e que os depoimentos contundentes dos personagens reais de “Edifício Master” o sensibilizam até hoje. Tempero bom, dura para sempre. Viva, Eduardo Coutinho, sempre presente! Por aqui, fico. Até a próxima.
* Leno F. Silva escreve semanalmente para Envolverde. É sócio-diretor da LENOorb – Negócios para um mundo em transformação e conselheiro do Museu Afro Brasil. É diretor do IBD – Instituto Brasileiro da Diversidade, membro-fundador da Abraps – Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade, e da Kultafro – rede de empreendedores, artistas e produtores de cultura negra. Foi diretor executivo de sustentabilidade da ANEFAC – Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade. Editou 60 Impressões da Terça, 2003, Editora Porto Calendário e 93 Impressões da Terça, 2005, Editora Peirópolis, livros de crônicas.




