Plano prevê ampliação da jornada escolar em 50% das instituições da rede pública até 2020. Educação Integral demanda maior diálogo entre educadores e estudantes.
O Plano Nacional de Educação 2011/2020, em tramitação no Congresso Nacional, tem como meta implementar o ensino em tempo integral em 50% das escolas da rede pública do Brasil até 2020. Se a meta for aprovada, haverá muito trabalho pela frente. De acordo com o Censo Escolar 2010, no ano passado apenas 4,7% das matrículas da rede pública foram para a Educação Integral. Além da necessidade de estruturar as escolas para que elas possam oferecer atividades de qualidade com a ampliação da jornada, outro desafio é tornar as horas a mais na escola – e nos outros ambientes da Educação Integral – atraentes aos estudantes.
Para o coordenador geral de ações educacionais complementares do Ministério da Educação (MEC), professor Leandro Fialho, uma das formas de fazer com que os estudantes não vejam o tempo a mais na escola como algo chato, é criar espaços de diálogo, inclusive na hora de decidir quais atividades oferecer. “As políticas públicas são feitas para que haja um protagonismo das crianças, dos estudantes nas escolhas das atividades. Se elas não apresentarem consonância com os interesses deles, pode acontecer uma evasão alta”, afirma.
A importância da Educação Integral
Segundo a coordenadora do Programa de Educação do Unicef Brasil, Maria de Salete Silva, aumentar a jornada deve significar repensar o tempo da escola, o que a criança faz e como o professor articula a aprendizagem e todas as atividades que são ofertadas. Assim, a Educação Integral deve ser pensada de forma que complemente o aprendizado do estudante, proporcionando um amplo desenvolvimento humano, mas sem deixar de lado o currículo formal.
A diretora do Centro Pedagógico da Universidade Federal de Minas Gerais (CP/UFMG), Tânia Margarida Lima Costa, conta que o CP começou a implementar a Educação Integral este ano, e já é possível perceber algumas mudanças positivas nos estudantes. “Eu tenho percebido na conversa com alunos e pais que os estudantes estão mais envolvidos com a escola. Há uma mudança de comportamento no sentido de aproveitar as oportunidades de aprendizagem”, relata.
As atividades
Quando uma escola começa a implementar a Educação Integral, há uma mudança na rotina de todos os envolvidos. “O professor tem que planejar. Se ele tinha como ênfase a leitura de texto e aumentou a carga horária, não dá pra trabalhar só com a leitura, tem que pensar em atividades que são mais interativas”, explica Tânia Margarida Lima Costa.
Tânia conta que a escolha das atividades é baseada principalmente no que os professores percebem que os estudantes precisam, como reforço em determinada disciplina ou atividades de socialização para favorecer a interação entre os estudantes. “Nossa referência foi o que os professores apontaram sobre as necessidades dos meninos. O ideal é a gente fazer esse levantamento e trabalhar tanto com o que eles precisam, quanto com o que eles gostariam”, afirma.
Leandro Fialho considera fundamental a realização de atividades que abordem assuntos relacionados à comunidade e ao dia-a-dia dos estudantes. “Isso favorece a participação do estudante e influencia na sala de aula porque ele vai desenvolvendo a autonomia para debater as questões do cotidiano. Isso rompe com aquela escola que a gente não deseja, em que o aluno é um sujeito passivo. Ela dá autonomia para que eles passem a opinar sobre o que está acontecendo na sala de aula”, afirma.
Experiência em Escola Integrada
Quando perguntado quais atividades gostaria de ter durante o tempo a mais que fica na escola, Leonardo José, de 12 anos, já tem a resposta na ponta língua: “natação. Todo mundo ia entrar. Culinária ia ser bom também, eu chegava em casa e ia poder cozinhar”. Leonardo é estudante da sexta série da Escola Municipal Alcida Torres, no bairro Taquaril, em Belo Horizonte e, desde o ano passado, participa do projeto Escola Integrada.
A monitora da oficina de artesanato e auxiliar da professora comunitária da Escola Alcida Torres, Mércia Carneiro, reconhece que é difícil atender a todos os pedidos dos estudantes até por questão de estrutura para as atividades. Porém, ela garante que sempre há um diálogo com eles explicando porque uma proposta foi atendida ou não.
Mércia relata que já foram realizadas algumas atividades em virtude do interesse dos estudantes. “Sempre que os alunos reivindicam, a coordenadora passa para o oficineiro. A questão da sexualidade é muito aflorada na adolescência e as meninas estavam com muitas dúvidas. Aí a gente fez uma semana de trabalho com eles”, explica. Os oficineiros deixaram uma caixinha para que os estudantes colocassem as dúvidas anonimamente e, no final da semana, a caixa foi aberta e as perguntas respondidas.
* Publicado originalmente no site ANDI – Comunicação e Direitos.