Arquivo

Egito constrói democracia enquanto sua economia cai

[media-credit name=”Victoria Hazou/IPS” align=”alignleft” width=”145″][/media-credit]
A pobreza no Egito disparou para 70%.
Cairo, Egito, 7/6/2011 – Funcionários do governo do Egito alertam que esse país, que começa uma etapa democrática após a queda do regime de Hosni Mubarak, pode sofrer uma profunda crise econômica por falta de ajuda internacional e investimento estrangeiro. O general Mahmoud Nassr, membro do Conselho Militar Supremo, que governa interinamente este país, informou em uma conferência sobre economia, no Cairo, que o investimento estrangeiro direto (IED) parou, enquanto as agências de avaliação de crédito ocidentais rebaixaram a qualificação da dívida soberana e a pobreza disparava para 70%.

 

A Autoridade Geral para Investidores e Zonas Livres, cuja tarefa é atrair capitais estrangeiros, disse que a IED no Egito diminuiu US$ 500 milhões no primeiro quadrimestre de 2011, em relação a igual período do ano passado, caindo de US$ 1,7 bilhão para US$ 1,2 bilhão. O Ministério das Finanças também prevê déficit orçamentário de pelo menos 9,4% este ano, enquanto o crescimento do produto interno bruto será inferior a 2%, quando se previa, antes da revolução, uma expansão de 5,8%.

O gasto do Egito em subsídios para alimentação e energia aumentará 40% este ano em relação a 2010, o que fará mais pressão no orçamento, adiantou o governo. Outros indicadores negativos são a perda de US$ 8 bilhões da reserva de divisas apenas nos últimos três meses. As reservas agora somam US$ 28 bilhões. O que sobra é suficiente apenas para o fornecimento de alimentos básicos importados como açúcar, trigo e óleo vegetal. Os 86 milhões de egípcios dependem fortemente deste tipo de produtos do exterior.

Desde o começo do ano, a libra egípcia desvalorizou 2,5% frente ao dólar. O Egito também sofre forte queda na entrada de divisas, principalmente no setor do turismo, bem como nas remessas do exterior. Antes que eclodisse a crise na vizinha Líbia, cerca de 1,5 milhão de egípcios trabalhavam no país e enviavam milhões de dólares às suas famílias a cada ano. Além disso, devido à lenta atividade industrial, o Egito também está exportando muito menos, o que reduz ainda mais a entrada de divisas.

A antes florescente indústria turística egípcia perde US$ 1 bilhão por mês, já que muitos estrangeiros deixam de visitar este país diante da instabilidade política desde a revolução de 25 de janeiro. “Os efeitos são graves”, disse à IPS Omayma El Husseini, porta-voz do Ministério do Turismo. O Egito previa receber 16 milhões de estrangeiros este ano, antes do levante popular de janeiro, mas em poucos dias um milhão de turistas fugiram, de volta aos seus países de origem, deixando vazios os sempre lotados hotéis e restaurantes do Cairo, Luxor, Aswan e os balneários no Mar Vermelho de Hurghada e Sharm el-Sheikh.

O Egito recebeu 14,5 milhões de turistas em 2010, o que fez do setor o maior contribuinte em divisas, depois das remessas, segundo dados do governo. “É óbvio que estamos em má situação econômica”, disse Rashad Abdou, professor de economia na Universidade do Cairo. “A instabilidade política disparou golpes em todas as direções”, acrescentou.

Para atrair investidores estrangeiros, preocupados pelas crescentes investigações sobre casos de corrupção no Egito, o governo anunciou que facilitaria as atividades das empresas internacionais. Ahmed Al-Saman, porta-voz do gabinete egípcio, informou que o Ministério da Justiça prepara um projeto de lei que penalizaria funcionários do governo envolvidos em corrupção, enquanto seriam absolvidos os investidores que foram obrigados a entrar em acordos fraudulentos.

A lei será polêmica, mas se for aprovada permitirá que os investidores mantenham seus projetos, suas propriedades ou terras obtidas em transações ilegais, desde que “acertem sua situação com o atual governo”, talvez pagando modestas multas, explicou. O jornalista Mamdouh al-Wali, editor da seção econômica do jornal Al Ahram, afirmou que os novos incentivos não seriam suficientes e que a principal falha do novo governo é não atender a situação de segurança e o panorama político. “Os investidores estrangeiros primeiro olham para a estabilidade política, a segurança e o império da lei. E isto não foi totalmente estabelecido depois da revolução”, afirmou.

O Egito suporta uma onda de crimes e violência nas ruas, depois que as forças policiais do regime de Mubarak libertaram milhares de presos enviados para atacar os partidários da revolução. Muitos destes ex-presidiários ainda estão ativos nas ruas. “Este país está governado por militares, sem presidente nem parlamento. Quando a situação política melhorar, então poderemos falar de uma nova campanha de incentivos para reavivar a economia”, afirmou Al Wali.