A discussão organizada pelo Eixo Economia Verde para a tarde desta terça-feira, segundo dia do EIMA 8, foi emblemática. Isto se torna perceptível quando se leva em consideração que a Fundação Getulio Vargas (FGV) é reconhecidamente uma escola de negócios de ponta, alinhada às tendências e formadora de líderes.
Ao realizar um encontro como esses, apoiando um debate que reuniu representantes da iniciativa privada, governos, organização civil e academia para discutir biodiversidade e empregos verdes, a instituição sinaliza que esse caminho de diálogo e busca de convergência entre preservação e produção vai ditar as relações corporativas daqui para frente.
Marcus Nakagawa, presidente da Associação Brasileira de Profissionais de Sustentabilidade, a Abraps, observando essa questão comentou: “Estarmos hoje aqui na FGV significa que alguns paradigmas estão sendo quebrados”.
Mas, afinal, quais são os empregos verdes? O que é a economia verde? É possível produzir e lucrar sem comprometer, ainda mais, os recursos naturais indispensáveis às nossas vidas?
Nesse momento de transição pelo qual a sociedade passa globalmente, foram trazidas algumas visões que apontaram respostas para essas perguntas.
Resumidamente, com relação à primeira e à segunda indagações, houve consenso por parte dos convidados. Se cada indivíduo assumir sua responsabilidade dentro do processo de construção dessa economia de baixo impacto ambiental, é possível dizer que os empregos verdes não são somente os ligados diretamente à preservação ambiental, como pesquisadores, biólogos e educadores ambientais. São todos aqueles que, em qualquer âmbito, colaboram para o fortalecimento da conscientização das pequenas ações, do poder de compra, da inserção da lógica sustentável para dentro das organizações, afinal, tanto governos quanto empresas são movidas por pessoas.
Já a economia verde pode ser definida como aquela que produz sem exaurir, que inclui no seu planejamento estudos sobre todo o ciclo de produção e suas consequências, na chamada análise holística, na qual há inter-relações a serem consideradas.
Nesse sentido, Fernando Alonso, gerente de Desenvolvimento Sustentável da Native, apresentou um case bastante interessante, demonstrando que há viabilidade na produção de cana e na preservação.
Apontando como ideal a produção canavieira de um lado, separada de área de proteção florestal por um corredor gramado, usado para redução do impacto dos transportes no solo, Alonso afirmou que a empresa possui atualmente áreas de plantio, planejadas dessa forma, que abrigam uma notável diversidade de fauna. “Começamos a notar a presença de aves, répteis e mamíferos que até então não apareciam nos canaviais. Então, após um levantamento zooecológico que encomendamos à Embrapa, fomos informados da presença de 255 espécies raras, algumas próximas da extinção, em nossas fazendas”, afirma.
O gerente acredita que esse resultado seja o reflexo da inserção do valor ambiental na gestão, que por sua vez, se traduziu no desenvolvimento de várias ações que trazem resultados melhores à empresa.
Uma delas, o uso de controle biológico de pragas, elimina o uso de defensivos químicos e protege nascentes a partir de monitoramento. “Nós cultivamos uma microvespa responsável pelo controle da broca da cana”, afirmou Alonso.
Essa nova maneira de pensar o negócio, trazendo a natureza como uma aliada importante do desenvolvimento econômico, quando somada ao fato de que o Brasil possui 60 milhões de hectares, cujo solo tem fertilidade média-alta e que é subutilizado pela pecuária, com um boi por hectare, mostra que o desafio da preservação sem prejuízos tem potencial a ser superado.
Fabio Scarano, diretor da ONG Conservação Internacional, com convicção, afirmou que, se o país transformar essas áreas improdutivas em produtivas, o desmatamento será zero. “Nós não defendemos que o Brasil diminua o desmatamento. Temos capacidade de reduzi-lo a zero”.
Outro dado alarmante trazido por Scarano foi que o mundo perde o equivalente a um PIB (produto interno bruto) do Japão, a cada ano, em degradação.
O caminho para evitar essa situação caótica seria, então, o de estabelecimento de processos de interação com a natureza, eliminando as linhas de conflito e transformando esses recursos em capital natural, prevê Guilhermo Castro, diretor acadêmico associado da Fundación Ciudad del Saber, do Panamá.
Por outro lado, ele aponta que é preciso cuidado com o reducionismo dessa questão complexa. “Temos a tendência de reduzir o impacto global do meio ambiente à crise financeira, isto é como reduzir tudo a uma conta de banco”, compara.
Diante disso, ele defende o vínculo da produção material com o conhecimento de uma maneira nova, sob essa ótica da economia verde, que atinja a elaboração de políticas públicas e que valorize a natureza.
Com o final das apresentações da mesa e o início dos debates, a plateia trouxe questões que enriqueceram muito o encontro.
Para surpresa de muitos, nos momentos finais, surgiu uma preocupação, por parte de um participante, com relação aos rótulos de cores que estão se tornando comuns nas mídias, nos congressos e nos debates. De acordo com essa ideia, já se fala em “a sustentabilidade é azul”, e então o biólogo participante comentou: “Me preocupo muito com rótulos de cores, se o emprego é verde, se é marrom, acredito que o importante disso tudo é que cada um se posicione, independentemente de qual trabalho exerça, cuidando do seu lixo e trazendo para si a responsabilidade que lhe cabe nessa realidade. Para mim, a cor é só uma convenção”.