Planejamento e diversidade de fontes são essenciais para a segurança energética, apontam especialistas.
Para os especialistas reunidos no EIMA 8, diversificar as fontes de geração de energia é um dos maiores desafios dos próximos 20 anos. Durante o debate sobre energias renováveis, técnicos do Brasil e da Espanha reforçaram que o incremento do uso de fontes de energia renováveis não se restringe apenas ao desenvolvimento de novas tecnologias. Para eles, é preciso adaptar as tecnologias já existentes e implementar planejamentos energéticos de longo prazo.
A opção pelas fontes renováveis já é viável economicamente. A União Europeia reconhece a importância das novas matrizes para mitigar as mudanças climáticas e inclui esse tema entre os cinco objetivos que marcam sua Estratégia 2020 para estabelecer a direção do desenvolvimento no continente. No Brasil, estudos como Matriz Energética 2030, desenvolvido pelo MME (Ministério de Minas e Energia), reforçam a manutenção de uma matriz limpa para o país, além da inclusão de novas fontes de energia.
“Um país com as dimensões do Brasil, com as diferenças entre as suas regiões e com opções energéticas distintas, não pode deixar de ter um planejamento em médio e longo prazos”, afirma Jorge Henrique, engenheiro do Cepel/Eletrobrás.
Ao falar sobre a expansão do uso da energia eólica no país, o engenheiro destacou a importância que o Proinfa (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica) exerceu para colocar o Brasil no movimento internacional que pretende tornar essa matriz uma fonte primária de energia. Desde sua criação, a produção de energia eólica no Brasil aumentou de 22 MW em 2003 para 1.000 MW, em agosto de 2011. Até 2030, o governo brasileiro espera ter capacidade instalada de 2,3 GW nesse segmento.
Na Europa
Na Espanha, como explica Luiz Valero, diretor de Cluster de Energias Renováveis da Madrid Network, também é necessário estabelecer planejamento a médio e longo prazos para o modelo energético. Entre as preocupações de Valero está a necessidade de adotar objetivos quantificáveis, ambiciosos e alcançáveis que possam enfrentar os desafios da segurança e eficiência energética, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa.
“A Espanha tem uma posição de liderança tecnológica mundial em todas as energias renováveis. Mas precisamos ainda de marcos regulatórios mais favoráveis à implementação dessas estratégias e planejamentos para o setor”, afirmou.
A resposta frente ao chamado “desafio energético” não pode estar baseada na pretensão de aumentar a vida de processos insustentáveis, mas sim em construir e criar novos paradigmas energéticos e socioeconômicos capazes de possibilitar o bem-estar social, respeitando os limites da carga dos ciclos vitais da biosfera. A base do novo sistema energético, segundo os especialistas, deve estar estruturada na redução das emissões de CO2 e redução do consumo de energia.
Portanto, o desafio das energias renováveis passa não só pela obtenção de uma maior geração e distribuição de energia, como também pela racionalização do seu uso a partir de um plano de abastecimento energético compatível com os limites da natureza.
“As energias renováveis estão atravessando tempos de incertezas, devido à crise econômica, mas nada põe em dúvida que são chaves para o futuro. A aposta nessas fontes deve gerar benefícios econômicos e sociais”, destaca Valeriano Ruiz, presidente da Associação Industrial Solar da Espanha e da Plataforma Solar Concentra.
Biomassa
“O Brasil é primeiro no mundo em energias renováveis”, afirma Cícero Bley Jr., superintendente de Energias Renováveis da Itaipu. Para ele, o Brasil está diante da oportunidade de transformar milhões de toneladas de resíduos agropecuários, agroindustriais, de lixo orgânico e de esgotos urbanos em energia elétrica, térmica e automotiva, com o biogás.
Em sua apresentação, Bley Jr. destaca a importância da geração de energia em pequenas propriedades rurais. Ao citar o caso do Condomínio de Agroenergia do Ajuricaba – projeto apoiado pela Itaipu –, localizado no oeste do Paraná, o superintendente assinala que essa matriz tem servido de renda extra para os produtores que transformam os dejetos de sua produção agropecuária em biogás. “Este é um exemplo de que é possível levar uma nova economia ao meio rural”, destaca.
Para ele, este produto, gerado no processo anaeróbico de decomposição da matéria orgânica, é uma das fontes renováveis mais disponíveis no território nacional. É também a de melhor custo-benefício, pois utiliza como insumos resíduos e efluentes orgânicos que até agora vinham sendo tratados como subprodutos sem valor de mercado.