Falta de financiamento, de legislação específica e de acesso a tecnologia são apontados como principais entraves para o reúso da água nos processos produtivos.
Desde as primeiras civilizações, a disponibilidade de água é requisito essencial para a fixação humana. Povos como egípcios e mesopotâmicos, que habitaram regiões áridas do planeta e lá desenvolveram algumas das mais importantes civilizações da Antiguidade, já testemunhavam a essencialidade do recurso para a manutenção da vida e das atividades econômicas.
Com o passar dos anos, o gradativo e vertiginoso crescimento demográfico mundial, aliado à intensificação e dinamização das práticas econômicas, principalmente após a Revolução Industrial, tornou a água num recurso cada vez mais escasso em determinadas regiões.
Igualmente essencial para a conservação da vida humana, a água é elemento fundamental na garantia da regularidade das práticas industriais. Relevada sua importância, o painel Água na Indústria, durante o EIMA 8, contou com a presença de profissionais e especialistas referências no tema. Foram discutidos pontos de conflito, soluções e diretrizes acerca do uso racional do recurso. Participaram dos debates a subcoordenadora de Tratamento de Águas Residuais do Instituto Mexicano de Tecnologia da Água (Imta), Gabriela Morales, a especialista em Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Anícia Baptistello Pio, o gerente da Braskem, Fernando Eduardo Haddad, e o engenheiro da Associação Iberoagua, Ignácio Martín.
Um dos principais assuntos debatidos foi a chamada água de reúso. Reaproveitamento ou reúso de água é o processo pelo qual o recurso, tratado ou não, é reutilizado para o mesmo ou para um fim diverso. Segundo Anícia Pio, o setor industrial deve assumir um papel de comprometimento com a conservação dos recursos naturais, internalizando as demandas ambientais, e acrescenta que várias empresas brasileiras já têm investido nessas práticas. “Temos o desafio de investir no reúso da água sem perder a competitividade no mercado. As indústrias já vêm percebendo os ganhos, tanto na redução dos custos dos processos produtivos quanto na receptividade por parte dos consumidores”, explica.
Quando não tratada, a água residual dos processos industriais resulta em perdas, tanto ambientais quanto econômicas. Diversos setores, a exemplo da agricultura e do turismo, sofrem os efeitos diretos dessa prática ainda recorrente. Segundo Gabriela Morales, a experiência mexicana, principalmente nas regiões de grande concentração industrial, demonstra a relevância da reutilização e do devido tratamento da água. “Alguns resíduos são pouco biodegradáveis. A contaminação da água repercute na saúde da população, no aumento do consumo de medicamentos e em perdas de produtividade”, acrescenta.
Apesar da importância ambiental e econômica do reúso da água, a prática ainda é pouco difundida no setor industrial. A falta de políticas públicas, de legislações específicas, de financiamentos e de acesso à tecnologia ainda são alguns dos principais empecilhos. “A viabilidade para as grandes empresas é bem maior. Já as pequenas indústrias sofrem com a falta de crédito, com as multas e com a dificuldade para acessar pesquisas e implantar tecnologias. O aumento de impostos sobre a água e as ações apenas de comando e controle, sem incentivos ou políticas públicas, são medidas pouco eficientes”, explica a representante da Fiesp.
Para Ivanildo Hespanhol, diretor do Centro Internacional de Referência em Reutilização da Água da Universidade de São Paulo e moderador do debate, os investimentos em ciência e tecnologia para o setor ainda são escassos em comparação às demandas do mercado. “Sem uma mudança cultural, será difícil internalizar processos mais sustentáveis no âmbito das empresas e governos”, discorre.