EIMA 8: Oportunidades inteligentes para o setor elétrico

Especialistas de Brasil e Espanha apontam as vantagens do investimento em Smart Grid.

O setor elétrico está diante da oportunidade de evoluir e encontrar soluções práticas que reflitam a realidade dos consumidores e das empresas de energia do Século 21. O momento tem apontado para um rol cada vez mais extenso de possibilidades tecnológicas, mas ainda há muitos desafios a serem superados. Para a consolidação das práticas, especialistas reunidos no EIMA 8 apontaram o Smart Grid com uma importante ferramenta para a consolidação do novo sistema de geração e distribuição de energia.

Segundo os especialistas, a realidade do Smart Grid deve transformar o sistema elétrico em uma moderna rede que permita às concessionárias de energia e aos consumidores mudar a forma como disponibilizam e consomem energia.

Para Raul Sollero, pesquisador do Cepel (Centro de Pesquisas de Energia Elétrica), o Smart Grid caracteriza a rede elétrica desejada para o futuro e proporciona benefícios como autorrecuperação frente a distúrbios, participação ativa dos consumidores na gestão, imunidade contra eventuais problemas físicos ou cibernéticos, otimização da operação e eficiência energética, além da qualidade e convivência harmoniosa com outras fontes de geração e armazenamento.

“Esse novo ambiente proporciona uma visão que deixa de lado o modelo linear e impõe uma integração múltipla dos vários agentes e de novas tecnologias”, afirmou Sollero.

A geração e distribuição da energia elétrica a partir do Smart Grid proporcionam, segundo o pesquisador, uma nova estrutura de gerenciamento do SIN (Sistema Interligado Nacional), responsável pela produção e transmissão de energia elétrica do Brasil. Com o Programa Reger (Rede de Gerenciamento de Energia), o Operador Nacional do Sistema está sendo modernizado, integrando os quatro centros de operação regionais e o nacional para proporcionar comunicação e compartilhamento de dados entre as regiões.

“É um sistema de supervisão e controle integrado e distribuído que quebrou paradigmas dos sistemas hierárquicos, motivando a padronização e geração distribuída. Ou seja, uma resposta adequada para esses motivadores”, ressaltou.

A parte mais visível dessa evolução, atualmente, está no uso em larga escala dos medidores eletrônicos de energia, que permitirão, em curto prazo, exercitar novas modalidades tarifárias e novos comportamentos de consumo. Telecomunicações, sensoriamento, sistemas de informação e computação, combinados com a infraestrutura já existente, passam a constituir cada vez mais um arsenal poderoso que pode fazer a diferença.

Para se alcançar um novo patamar de eficiência, as tecnologias que até então eram empregadas para dar suporte à infraestrutura elétrica passarão a ser essenciais, como as TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação), que devem suportar a utilização em larga escala de medidores eletrônicos e sensores.

“Essa nova infraestrutura tecnológica permitirá a melhor administração do sistema elétrico – ativos, energia e serviços para o consumidor – resultando em uma maior eficiência técnica, econômica, social e ambiental”, afirmou Roberto Meira Jr., coordenador-geral de Fontes Alternativas Renováveis do Ministério de Minas e Energia (MME).

Oportunidades

O Smart Grid, segundo os especialistas, proporciona alguns benefícios. O primeiro é a eficiência, o que implica consumir menos energia da empresa concessionária de energia para fornecer o mesmo nível ou melhor da qualidade do serviço aos seus clientes. Reduz os custos de infraestrutura e as emissões de carbono, além de isolar o impacto das falhas.

“Queremos fazer com que a geração, independente de como seja, chegue com qualidade ao consumidor”, assinalou Meira Jr. Ele informou ainda que até o final do ano o MME vai instituir uma ação efetiva para consolidar o sistema de geração distribuída. O projeto deve entrar em vigor no próximo ano.

“Vamos reduzir as barreiras para a instalação da geração distributiva de pequeno porte a partir de fontes incentivadas, conectadas em tensão de distribuição. É uma proposta de adequação de regulamentações no âmbito da distribuição e que também deve alterar as taxas de descontos atuais”, destacou.

Valeriano Ruiz, presidente da Associação Industrial Solar da Espanha e da Plataforma Solar Concentra, ao falar de Smart Grid destaca o papel da eficiência energética. “O mais importante é fazer o uso inteligente e eficiente da energia e, para isto, é preciso diversificar as fontes de geração”, afirmou.

Para ele, outra importante ação é mudar o modo como os consumidores utilizam a energia. “O ser humano consome a energia quando e como quer, mas a produz apenas onde é possível”, ressalta.

Com a atual diversificação dos sistemas de abastecimento de energia e barateamento das novas fontes, além das novas tecnologias, o tema da cogeração ganha força. Gerada de forma mais simples, segura e barata, esse sistema passa a ser um atrativo para as indústrias por aliar economia e benefícios ambientais.

“Cogeração é também geração distribuída. Geração de eletricidade de pequena e média potência, localizada no ponto onde existe o uso”, explica Maurici Cruzate, diretor operacional da Energía Local. Na Espanha, mais de 6,6 mil megawatts são produzidos a partir da cogeração. O sistema acrescenta ao sistema cerca de 200 megawatts ao ano, e a maioria dessa energia é produzida a partir do gás natural.

Energia solar

O Brasil, devido à alta insolação nas cinco regiões, pode ser considerado uma futura potência na geração de energia solar térmica. Esta previsão se baseia no fato de que, além das condições naturais propícias, o país é detentor das matérias-primas necessárias para a fabricação dos dispositivos para a produção desse tipo de energia: cobre, alumínio, aço inoxidável, vidro e termoplásticos.

Para tanto, como aponta Mauro Passos, presidente do Instituto Ideal de Santa Catarina, a energia solar vive um momento de novas oportunidades. “Há possibilidades de bons negócios para a energia solar devido à situação econômica mundial. A curva de custo é decrescente e continua caindo e, no modelo convencional de produção, o custo deve continuar crescendo”, destacou.

Ocupando o sétimo lugar no uso da energia do Sol, com pouco mais de cinco milhões de metros quadrados de coletores solares instalados em 2009, o Brasil tem, segundo dados do Departamento Nacional de Aquecimento Solar da Abrava (Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento), 72% de sua energia térmica solar consumida por residências, 17% por piscinas, 9% pelo setor de serviços e 2% pela indústria.

Além disso, a energia solar conta com uma vantagem adicional em relação às outras fontes: é gerada exatamente onde é consumida, ou seja, nos telhados das casas, comércios, depósitos, ou edifícios, não necessitando uso de linhas de transmissão, o que se convencionou chamar de geração distribuída.

Do ponto de vista legal, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) está neste momento com uma audiência pública em curso que, entre outras coisas, vai regulamentar, até o final do ano, a chamada “conexão no grid”, ou seja, permitirá a um consumidor final de energia solar fotovoltaica, de até um megawatt, que a energia por ele gerada durante o dia, por exemplo, seja descontada do seu consumo total ao final do mês. Isso facilitará em muito a ampliação do mercado consumidor de energias renováveis, entre elas a solar fotovoltaica.

O próximo passo, aguardado pelo mercado com grande expectativa, seria a realização de um primeiro leilão de energia solar fotovoltaica no Brasil, atraindo com isso toda uma cadeia produtiva de alta tecnologia para nosso país.

“Temos o desafio de diversificar as fontes. Para isto, devemos aproveitar o crescimento econômico e a concentração nas cidades para desenvolver uma grande variedade de oportunidades que possam gerar novos negócios e empregos”, afirmou Rui Guilherme Altieri Silva, superintendente de Regulação dos Serviços de Geração da Aneel.