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Eleições gregas e francesas pressagiam mudanças na economia

François Hollande em um ato da campanha antes de sua vitória no dia 6. Foto: Ps-soisy/CC-BY-ND-2.0

Berlim, Alemanha, 8/5/2012 – O fracasso eleitoral dos governos da França e da Grécia faz prever o fim dos duros programas de ajustes nesses países e no resto da Europa, e parece marcar uma nova era de políticas econômicas, sociais e de investimentos para restaurar o crescimento e o emprego. Na França, o candidato do Partido Socialista, François Hollande, defensor de estratégias de emprego e crescimento econômico promovidas pelo governo, superou nas eleições do dia 6 o presidente Nicolas Sarkozy, frequentemente considerado o paladino dos programas de austeridade implantados na Europa.

Na Grécia, os eleitores também castigaram, no mesmo dia, os dois partidos tradicionais, Nova Democracia, que obteve apenas 19% dos votos, e o Movimento Socialista Pan-Helênico (Pasok), que conseguiu 13,4%. Juntos, os dois partidos impuseram um severo plano de ajuste que aprofundou a crise de cinco anos e fez disparar o desemprego e a pobreza. Os cidadãos gregos se voltaram aos antes minoritários Coalizão de Esquerda Radical, que teve 17% dos votos, Partido Comunista, com 8,4%, e Nova Esquerda, com 6%.

O partido neonazista Aurora Dourada obteve uma proporção menor de votos, mas os 7% obtidos representam um apoio importante. Antonis Samaras, da Nova Democracia, tem poucos dias para formar o governo e disse que conversará com todos, pois não tem votos suficientes para constituir maioria com seu ex-aliado, o Pasok, salvo com o Aurora Dourada.

Em especial, a vitória de Hollande na França é vista como um ponto de inflexão no modelo econômico da Europa. Durante seu discurso após a apuração, afirmou que sua vitória é vista na Europa como “um alívio, uma esperança, a confirmação de que a austeridade não é um chamado do destino” para a região. Também disse que sua missão será “dar à Europa uma dimensão de crescimento, de emprego e prosperidade” para todos.

Hollande, que vai liderar nos próximos cinco anos a segunda economia da Europa em importância, depois da Alemanha, em seu discurso também anunciou que, nas próximas semanas e na cúpula da União Europeia (UE), no dia 24 de junho, defenderá junto ao governo alemão que as reduções no gasto público, longe de contribuir para resolver a crise de dívida soberana, agravaram o problema das finanças públicas em quase todos os países do bloco.

Nos últimos dois anos, Alemanha e as autoridades da UE, junto com Sarkozy, desempenharam um papel de pivô, desenhando programas de austeridade impostos aos governos de Grécia, Itália, Portugal, Irlanda e Espanha. Caracterizados pelas drásticas reduções no gasto público, nas pensões, nos programas de bem-estar social e nos salários do funcionalismo público, essa estratégia só fez agravar a crise econômica, prolongar a recessão, piorar a pobreza e, inclusive, aumentar a mortalidade entre as pessoas idosas.

O índice do produto interno bruto acumulado desde 2007 caiu 17,3% na Grécia, mais de 7% na Irlanda, 6,7% na Itália, quase 6% em Portugal e 4% na Espanha. Hollande insistiu que em seu governo se concentrará na “justiça social e em restaurar a esperança dos jovens”. Na França, o desemprego alcança 25% dos jovens em idade de trabalhar, enquanto na Espanha esse índice chega a quase 50% nessa faixa etária, uma situação que afeta também outros países do sul do continente.

Esses dados, somados à retórica contra as medidas de ajuste que caracterizaram as campanhas eleitorais na França e na Grécia, suavizaram, de fato, as declarações a favor da Alemanha, da UE e inclusive do Banco Central Europeu. A chefe de governo alemã, Angela Merkel, declarou, na semana passada, que prevê “uma reforma do crescimento” para os programas de austeridade que seu governo promoveu de forma consistente nos últimos dois anos.

Paralelamente, o comissário europeu para Assuntos Econômicos e Financeiros, Olli Rehn, pediu aos governos que aprovem o novo programa de investimentos públicos para “estimular o crescimento na região”. Em um discurso feito no dia 5 em Bruxelas, Rehn chegou a dizer que os programas de ajuste fiscal da União Europeia não são uma “camisa de força” e que dão um “espaço considerável ao julgamento” dos governos nacionais para implantarem políticas de crescimento.

Rehn reconheceu que muitos países da zona do euro e membros da UE sofrem uma “severa recessão e um desemprego crescente”. Em certas circunstâncias, investimentos públicos adicionais nos países com excedentes, como a Alemanha, “podem ser benéficos para reduzir os desequilíbrios macroeconômicos” dentro da UE. Inclusive o presidente do Banco Central Europeu, o italiano Mario Draghi, no dia 4, pediu urgência para que o crescimento “seja novamente colocado no centro da agenda” europeia. É um chamado extraordinário, já que a instituição se concentra unicamente em conseguir uma inflação extremamente baixa, e ignorou em reiteradas oportunidades o desemprego e os déficits de crescimento na zona do euro.

Os partidos europeus de esquerda aplaudem as mudanças. Para Sigmar Gabriel, líder do Partido Social Democrata alemão, o triunfo de Hollande significa que “a Europa tomará uma nova orientação econômica, enfatizando o crescimento e o emprego. São excelentes notícias”. Em entrevista coletiva ontem, condenou “os cortes de Angela Merkel, que afundaram a Europa em uma crise profunda. O que a Europa necessita agora com urgência é uma política coordenada, um plano coletivo contra o desemprego entre jovens”. O resultado das eleições da Grécia mostrou que os programas de austeridade necessitam de “medidas sociais para amortizar o impacto na sociedade”, destacou Gabriel. Esse país precisa de “mais tempo para resolver” seu problema de dívida soberana e a crise econômica, ressaltou.

Por sua vez, o secretário-geral do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), Alfredo Pérez Rubalcaba, qualificou o triunfo de Hollande como uma “grande esperança, o começo de uma nova era”. A vice-secretária-geral do PSOE, Elena Valenciano, concordou e ressaltou que Hollande encarna uma “nova União Europeia, solidária e com direitos iguais para todos”. Com Hollande, a França será um “muro de proteção contra as políticas neoliberais que nos afundaram na crise”, concluiu. Envolverde/IPS