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Eleições venezuelanas são uma encruzilhada para o Fórum São Paulo

O Fórum de São Paulo apoia Nicolás Maduro nas eleições presidenciais da Venezuela. Foto: Raúl Limaco/IPS

Caracas, Venezuela, 3/4/2013 – O Fórum São Paulo, que reúne partidos de esquerda da América Latina e do Caribe, considera crucial para seu futuro, e para poder “conter a direita” na região, que o presidente interino da Venezuela, Nicolás Maduro, vença as eleições do dia 14. Maduro, novo líder do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), e Henrique Capriles, candidato da coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática, disputarão nas urnas o mandato presidencial de seis anos para o qual foi reeleito em outubro o agora falecido Hugo Chávez.

“Para nós, as eleições aqui são fundamentais, porque uma eventual derrota do chavismo na Venezuela significará um retrocesso no processo de integração”, disse à IPS o historiador Valter Pomar, secretário-executivo do Fórum e dirigente do Partido dos Trabalhadores (PT) do Brasil. “Não é a economia brasileira, ou a argentina, que seria afetada caso essa derrota aconteça – o que não ocorrerá – mas toda a economia latino-americana, afetando especialmente os países mais débeis ou atrasados do ponto de vista industrial”, afirmou.

Partidos integrantes do Fórum, criado em 1990 em São Paulo por iniciativa do PT, governam atualmente na Bolívia, Brasil, Cuba, Dominica, Equador, El Salvador, Nicarágua, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. Vários desses Estados se reúnem no pacto integracionista Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (Alba) e são beneficiários do programa venezuelano de cooperação petroleira e financeira, conhecido como Petrocaribe.

O Fórum reivindica que a primeira eleição de Chávez como presidente da Venezuela, em dezembro de 1998, marcou o início da ascensão ao governo de vários de seus partidos filiados da região e desde então não o perderam mediante eleições onde o conquistaram. Essa contabilidade tem como exceção o Partido Socialista do Chile, porque perdeu o governo em 2010 para o direitista Sebastián Piñera, como um integrante a mais da centro-esquerdista Concertação de Partidos pela Democracia, formada em 1990, muito antes do ciclo de vitórias assinalado.

O Grupo de Trabalho do Fórum, com 38 delegados de 27 partidos procedentes de 18 países, se reuniu no dia 1º em Caracas para homenagear Chávez e dar apoio a Maduro. “É um excelente apoio, que expressa aos movimentos populares da América Latina e do Caribe que a Venezuela é estratégica e que a vitória de Nicolás também é a vitória dos povos”, disse à IPS o anfitrião Rodrigo Cabezas, dirigente do PSUV e deputado do Parlamento Latino-Americano.

Maduro, por sua vez, afirmou que “este é o momento de maior expansão das lutas da nova independência da América Latina, diante da hegemonia e dominação imperial norte-americana. O caminho apenas começa nesta nova fase”. Maduro, ao comparecer junto com delegados do Fórum ao mausoléu que guarda os restos mortais de Chávez, em Caracas, fez “um especial reconhecimento à Revolução Cubana, como antecedente deste processo latino-americano e caribenho. Cravou a primeira estaca, libertou o primeiro território e gerou a dinâmica de resistir, lutar e vencer”, declarou

“Sim, estamos preocupados no sentido de que a direita está armando uma operação internacional, não apenas operações nacionais, para nos golpear. Há um processo contraofensivo na região, como se viu em Honduras e no Paraguai, este último um caso de golpe parlamentar”, apontou Pomar. Diante deste cenário, “vemos uma situação de equilíbrio. A direita não consegue nos golpear nos principais países que governamos, mas tampouco conseguimos tirá-los, por exemplo, do México. Este equilíbrio relativo não vai durar para sempre”, acrescentou.

Segundo Pomar, “o que pode nos favorecer é acelerar as mudanças em cada país e aprofundar a integração, tema fundamental, porque, para muitos países da região, não há como avançar nos processos de mudança isoladamente. Por isso, a eleição presidencial na Venezuela é essencial para nós”. E o é, a ponto de o Fórum ter deixado em segundo plano as eleições presidenciais do Paraguai, onde a esquerda participa sem maiores chances diante dos candidatos favoritos, os dois tradicionais partidos, Colorado e Liberal.

A reunião do Grupo de Trabalho também examinou brevemente outros temas da atualidade internacional, em particular as ameaças à paz global derivadas dos conflitos na península da Coreia, na Síria e o desenvolvimento nuclear do Irã. Embora o grupo tenha acordado alertar sobre a provocação norte-americana na península coreana, na reunião houve vozes que reclamaram da conduta da Coreia do Norte por “facilitar a provocação” atribuída a Washington.

No debate sobre a Coreia foi ventilada a tese de que esse conflito aviva o protagonismo norte-americano na região Ásia-Pacífico em detrimento da China e de seus sócios no grupo Brics (Brasil, Rússia, Índia, África do Sul), de potências emergentes. No terreno regional considerou-se que a situação mais urgente é a negociação de paz – que tem como cenário Havana – entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia e o governo desse país, do direitista Juan Manuel Santos, considerado o primeiro beneficiário político do processo.

Como em quase cada reunião do Fórum, os independentistas porto-riquenhos, desta vez pela boca de Héctor Pesquera, do Movimento Nacional Hostosiano, apresentaram a necessidade de não atravessar a luta contra atrasos do colonialismo na América Latina e pediram que se exija a liberdade, por razões humanitárias, de seu compatriota Oscar López Rivera, preso nos Estados Unidos há 32 anos. Envolverde/IPS