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Eletrônicos usados prejudicam a China

Pequim, China, 25/7/2011 – Durante décadas, a China foi receptora dos produtos e peças fora de uso da indústria eletrônica mundial. Agora, apesar das novas regulamentações que restringem a entrada desses materiais, o país enfrenta a árdua tarefa de processar milhões de toneladas de resíduos nocivos para o meio ambiente e a saúde.

A China, onde a cada dia aumenta a venda de produtos eletrônicos, gera 2,3 milhões de toneladas de dejetos ao ano, segundo informe divulgado no ano passado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). É superada apenas pelos Estados Unidos, que produzem três milhões de toneladas ao ano que, em grande parte, acabam na China, onde agora está proibido importar dejetos, mas é tolerado.

Este país carece de centros de reciclagem, apesar das melhorias dos últimos anos, e recorre a métodos prejudiciais para o meio ambiente. Alguns dejetos eletrônicos são queimados e uma grande quantidade de materiais perigosos acaba abandonada sem tratamento, segundo informe do China Environment News (Notícias Ambientais da China).

“A China ainda não possui um sistema adequado para reciclar e gerir o lixo eletrônico”, disse à IPS o pesquisador Peng Ping’an, do Instituto Guangzhou de Geoquímica, da Academia de Ciências Sociais. “Grandes quantidades são diretamente queimadas ou desmontadas em locais sem autorização”, afirmou. E os dejetos continuam se acumulando. A previsão é de que, este ano, serão produzidos 3,5 milhões de toneladas, de acordo com um estudo do China Construction News (Notícias sobre Construção da China), do Ministério da Habitação e do Desenvolvimento.

O estudo do Pnuma projeta que, em 2020, os dejetos de computadores na China serão 400% maiores do que eram em 2007, enquanto os de telefones celulares se multiplicarão por sete. O governo começou a tomar algumas medidas. No dia 1º de janeiro deste ano, o Conselho de Estado fixou novas normas pelas quais criou um fundo para subvencionar o tratamento de lixo eletrônico, seja para recuperação ou eliminação.

Entretanto, a legislação ainda está nas fraldas e as leis existentes são inadequadas, disse Peng. Isto faz com que o tratamento dependa dos benefícios que deixar, e esteja disperso e desorganizado. Há cem empresas e institutos dedicados à recuperação e eliminação de lixo eletrônico na China, que carecem de apoio político e de locais de tratamento eficientes, acrescentou. O estudo do Pnuma exorta os países em desenvolvimento a melhorarem suas unidades de reciclagem. Esse setor permite criar emprego, reduzir as emissões de gases-estufa e recuperar uma grande quantidade de metais valiosos como prata, ouro, paládio, cobre e índio.

No entanto, nem tudo é negativo, e houve algumas experiências de sucesso. Em Tianjin, cidade costeira perto de Pequim, o escritório municipal de meio ambiente estima que cerca de quatro milhões de televisores, refrigeradores, computadores, lava-roupas e aparelhos de ar-condicionado foram descartados em 2010, aproximadamente, 38 mil toneladas de lixo eletrônico, informou o Diário do Povo. A Green Angel, uma unidade patrocinada pelo governo de Tianjin, reciclou 70 mil eletrodomésticos no ano passado, bem abaixo de sua capacidade de 200 mil unidades anuais.

O manejo inadequado do lixo eletrônico tem consequências sobre a saúde e o meio ambiente. Metais pesados como chumbo, estanho e bário podem contaminar a água subterrânea e da superfície. Além disso, são queimados fios elétricos ao ar livre para retirar o cobre, espalhando substâncias cancerígenas na atmosfera. Inúmeros países começaram a enviar seu lixo eletrônico para a China na década de 1990, o que significou oportunidades e problemas para essa nação.

Abriu-se uma possibilidade de se obter benefícios econômicos, mas o país carecia de leis para regular adequadamente os locais de tratamento. Na cidade de Guyu, na província de Guangdong, foi registrado o maior índice de toxinas do mundo, substâncias contaminantes prejudiciais para a saúde humana, liberadas pela queima de plásticos e cartões de circuitos para extrair metais, segundo uma pesquisa feita em 2007 pela Academia de Ciências.

O governo procurou impulsionar a reciclagem mediante incentivos para que as pessoas trocassem seus aparelhos antigos por novos. As lojas de eletrodomésticos, como Gome e Dazhong, compravam aparelhos usados que depois vendiam com desconto a empresas de tratamento. Porém, algumas pessoas se aproveitaram do sistema, comprando produtos baratos em locais de reciclagem sem licença, dos quais já haviam sido retirados os componentes importantes, como cobre, ouro ou vidro, e quando chegavam aos centros autorizados já não tinham valor.

“Em reuniões que tivemos com os concorrentes, descobrimos que todos tínhamos o mesmo problema”, contou Lou Yi, da empresa recicladora Taiding Environmentally Friendly Science and Technology Corp. Contudo, o programa continua sendo essencial para a sobrevivência de empresas como as de Lou. “Se o governo revogar esta política, quebraremos”, disse à IPS. Envolverde/IPS