Arquivo

Emirados reforçam em Lima uma nova ligação com a América Latina

O vice-presidente paraguaio, Juan Eudes Afara, durante o encontro com o ministro das Relações Exteriores dos Emirados Árabes Unidos, xeque Abdulah bin Zayed al Nahyan. Foto: Natalia Ruiz Diaz/IPS
O vice-presidente paraguaio, Juan Eudes Afara, durante o encontro com o ministro das Relações Exteriores dos Emirados Árabes Unidos, xeque Abdulah bin Zayed al Nahyan. Foto: Natalia Ruiz Diaz/IPS

 

Lima, Peru, 2/5/2014 – O ministro das Relações Exteriores dos Emirados Árabes Unidos (EAU), xeque Abdulah bin Zayed al Nahyan, terminou no Peru uma viagem latino-americana, com um encontro, no dia 30 de abril, com o presidente Ollanta Humala, e a decisão dos dois governos de intensificar e diversificar seu comércio e investimentos. A reunião de mais de uma hora no Palácio de Governo em Lima foi o corolário de dez dias de ofensiva diplomática dos EAU na região, destinada a renovar e reforçar as ligações com uma área onde o rico país do Golfo já tem importantes investimentos.

O ministro Nahyan chegou procedente do Uruguai e Paraguai. Antes, esteve presente na visita que o vice-presidente e primeiro-ministro dos EAU, xeque Mohammad bin Rashid al Maktoum, fez entre 20 e 26 de abril a México, Brasil, Argentina e Chile. Em sua intensa jornada em Lima, Nahyan também se reuniu com sua colega peruana, Eda Rivas, que expressou o interesse do país de potencializar o comércio bilateral, que, entre 2009 e 2013, cresceu sete vezes, até alcançar os US$ 60 milhões.

O Peru é o segundo destino dos investimentos dos Emirados na região, depois do Brasil. O maior investimento corresponde à empresa britânica de capital dos EAU Dubai Port, que investiu US$ 735,5 milhões no desenvolvimento do Molhe Sul do Callao, dentro do Terminal Portuário na costa do Pacífico.

Fontes da chancelaria peruana disseram à IPS que Rivas disse a Nahyan que seu governo tem especial interesse em aumentar os investimentos não tradicionais, em particular alimentos – vegetais, frutas, produtos à base de frango ou queixo – e produtos de luxo em moda, perfumaria e joalheria, além de móveis e decoração para o lar. Este governo andino também deseja aumentar suas exportações de materiais de construção como granito, mármore, tubos e perfis de aço.

Atualmente, as vendas peruanas para o país do Golfo se concentram na mineração, que em 2013 representou 86% do exportado, em uma balança comercial favorável a Lima em cerca de US$ 40 milhões, fundamentalmente pelo aumento da importação de ouro por Abu Dhabi. Antes de seus encontros com Rivas e Humala, Nahyan se reuniu com o presidente do Congresso, Fredy Otárola.

O presidente peruano, Ollanta Humala, durante a audiência com o ministro das Relações Exteriores dos Emirados Árabes Unidos, xeque Abdulah bin Zayed al Nahyan. Foto: Presidência do Peru
O presidente peruano, Ollanta Humala, durante a audiência com o ministro das Relações Exteriores dos Emirados Árabes Unidos, xeque Abdulah bin Zayed al Nahyan. Foto: Presidência do Peru

 

Não houve informação oficial sobre os temas abordados durante a longa audiência do presidente e a delegação dos EAU. Mas fontes da chancelaria disseram que Humala falou a Nahyan de seu grande interesse em aumentar os investimentos dos Emirados no Peru.

Em maio de 2013, durante uma rodada de negociações de autoridades e empresários peruanos em Dubai e Abu Dhabi, o ministro da Economia do Peru, Luis Miguel Castilla, informou que seu governo buscava investimentos desse país para desenvolver um grande centro logístico na costa central peruana, que integraria o porto de Callao e o aeroporto internacional de Lima.

Os dois governos também negociam um acordo para evitar a dupla tributação, que, segundo se informou nas capitais latino-americanas visitadas pelos altos funcionários dos Emirados, é uma solicitação específica do governo do Golfo para incrementar seus investimentos na região. Segundo Castilla, o Peru deseja que a empresa aérea Emirates Airlines Dubai estabeleça voos diários entre Dubai, a maior cidade dos Emirados, e Lima.

É a terceira vez que o chanceler Nahyan visita o Peru. Antes esteve em 2009 e em 2012, ano em que presidiu a delegação dos Emirados que participou da III Cúpula de Chefes de Estado e de Governo América do Sul-Países Árabes, realizada em Lima. Nahyan chegou a Lima procedente de Assunção, onde se reuniu com o vice-presidente do governo, Juan Eudes Afara, e com o presidente da Câmara de Deputados, Juan Bartolomé Ramírez, com os quais abordou temas relacionados à assinatura de acordos de cooperação e a radicação de investimentos dos EAU no país.

Afara recebeu Nahyan, no dia 29, na qualidade de presidente encarregado, já que o mandatário, Horácio Cartes, estava em visita à Europa. Os temas abordados entre a delegação encabeçada pelo chanceler e seus anfitriões paraguaios incluíram o interesse de Assunção no investimento dos EAU no país, nos setores da exploração petroleira e da infraestrutura viária.

“Os Emirados Árabes estão interessados em explorar as possibilidades de investimento que se abrem a partir da promulgação da Lei de Aliança Público Privada”, explicou à IPS o vice-chanceler paraguaio, Federico González, em função de chanceler encarregado. As duas partes decidiram manter novos encontros bilaterais durante este ano, “de maneira a facilitar o avanço das conversações”, acrescentou.

No parlamento, o ministro Nahyan conversou, entre outros assuntos, sobre a situação de “dois acordos pendentes de tratamento, sobre a exoneração de impostos para a radicação de investimentos, algo que se aplica no Mercosul, e outro sobre a garantia jurídica para os investimentos estrangeiros”, detalhou Ramírez.

O Paraguai é parte do Mercosul, junto com Brasil, Argentina, Uruguai e desde 2013 Venezuela, que também é sócia da Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep). Ramírez disse que explicou para Nahyan que, para o Paraguai, é de “interesse nacional” aprofundar as relações econômicas com os EAU, e garantiu que instará o governo, como presidente da Câmara de Deputados, a estabelecer um plano com esse objetivo.

O ministro Nahyan não deu declarações à imprensa nem em Lima, nem em Assunção e nem em Montevidéu. Envolverde/IPS

* Com colaboração de Natalia Ruiz Diaz (Assunção).