Novo estudo do Climate Action Tracker revela que crescimento maior do que o esperado do PIB chinês pode fazer com que liberação de CO2 seja maior; emissões brasileiras também podem ser maiores que o previsto.
Apesar dos esforços que a China tem feito para reduzir suas emissões de gases do efeito estufa (GEEs), a liberação de CO2 da segunda maior economia do mundo pode ser maior do que a estimada para 2020. Pelo menos é o que indica o novo relatório do grupo de pesquisa Climate Action Tracker, lançado nesta semana na reunião climática do Panamá. E segundo a pesquisa, a situação da China não é única: outros países, como o Brasil, podem ver suas emissões cresceram mais do que o esperado caso não criem ações para combater essa tendência.
De acordo com o documento, as medidas tomadas pela China no seu 12º Plano Quinquenal (2006-2010) para diminuir as emissões de dióxido de carbono, como a redução da intensidade de emissão – quantidade de CO2 liberada por unidade de produto interno bruto (PIB) –, a meta de aumento no uso de energias renováveis e o corte no consumo de energia por unidade PIB, ajudaram o país a atingir as metas do Acordo de Cancún.
“A China deve não apenas atingir seu compromisso de intensidade de energia do Acordo de Cancún, mas provavelmente deve ultrapassá-lo. No entanto, ao mesmo tempo, devido principalmente ao crescimento econômico mais rápido do que o esperado, as emissões em 2020 provavelmente serão maiores”, declarou o grupo de pesquisa.
Isso porque as metas de mitigação das emissões de carbono no país são estabelecidas por unidade de PIB, e não pelo total absoluto. Então, como o crescimento econômico da China chegou a cerca de 11% ao ano nos últimos cinco anos – contra a estimativa de 7,5% ao ano do Plano Quinquenal – , o PIB também cresceu, aumentando também a quantidade absoluta de emissões.
Para se ter uma ideia, a previsão anterior era de que a China chegasse a uma emissão anual de 12,5 a 14 gigatoneladas de CO2 equivalente (GtCO2e) até 2020; agora essa estimativa aumentou para entre 13,5 e 14 GtCO2e anuais, um crescimento de uma gigatonelada por ano.
No entanto, o documento lembra que se a China atingir sua meta de aumento no uso de energias renováveis dos 8,3% atuais para os 11,4% prometidos para 2015, o país poderá reduzir de 500 a 800 megatoneladas de CO2 equivalente (MtCO2e), ou de 6% a 8%. “Está se tornando mais claro que, enquanto a China atingiu muito, ainda há muito que fazer, já que a medida de seu PIB continua a aumentar rapidamente”, explicou Niklas Höhne, do Ecofys.
“O quadro geral nos mostra que uma taxa de crescimento econômico maior do que a esperada traz consigo emissões maiores – e quanto mais rápido for feita uma mudança para as fontes de energia limpa, a fim de evitar aderir às energias prejudiciais ao clima, melhor”, salientou Bill Hare, diretor do grupo de pesquisa Climate Analytics.
“Os números também ilustram os riscos e incertezas de usar cenários ‘business as usual’ como base para os compromissos de redução de emissões”, acrescentou Hare.
Tendência
Mas o aumento na estimativa das emissões da China não vem sozinho. Outros países, como o Brasil, também viram suas previsões de liberação de GEEs crescerem, e o grupo de pesquisa calculou que caso os esforços para mitigar estas emissões não sejam aplicados agora, eles se tornarão cada vez mais caros e difíceis de serem alcançados.
No caso dos Estados Unidos, por exemplo, a redução de 17% nas emissões para 2020 em relação aos níveis de 2005, prometida pelo presidente Barack Obama, poderia ser atingida com uma mitigação gradual de 1,3% ao ano se começasse atualmente. Mas caso o país não opte por fazer tal redução até 2015, a diminuição gradual teria que ser feita a um ritmo de 3% ao ano, e custaria mais.
“Os especialistas estão ficando cada vez mais preocupados com a capacidade dos Estados Unidos de atingir [sua meta]”, lamentou Hare. “E quanto mais os EUA adiarem uma ação, mais custará para atingir sua meta”, concordou Höhne.
Já em relação ao Brasil houve um crescimento na estimativa das emissões em 18%, ou 0,5 GtCO2e para 2020. O país, que em abril deste ano apresentou pela primeira vez um cenário ‘business as usual’ das suas emissões, assumiu um compromisso de reduzir entre 36% e 39% os seus GEEs, meta que pode ficar prejudicada com as novas previsões.
Por tudo isso, o relatório concluiu que é necessário haver mais fiscalização nas emissões. “Estamos caminhando para um aquecimento de bem mais do que três graus Celsius atualmente, a menos que haja grandes melhorias nos compromissos. A série de incertezas acondicionadas nesses diferentes compromissos aponta claramente para uma coisa: há uma necessidade urgente de um sistema claro de monitoramento e reporte”, concluiu Hare.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.