Energia renovável chegará a 46% no Brasil até 2020

Documento da Empresa de Pesquisa Energética calcula que serão necessários R$ 190 bilhões em investimentos para atingir essa meta para que o país continue a ter “uma das matrizes energéticas com menos emissão de carbono”.

Não é novidade que o Brasil é um país rico em fontes de energia renovável, mas que estas fontes ainda são subaproveitadas. Felizmente, esse cenário pode estar mudando, de acordo com o Plano Decenal de Expansão de Energia de 2020, lançado recentemente pela Empresa de Pesquisa Enérgetica (EPE). Em pouco tempo, o país poderá deixar de ser reconhecido apenas por suas belezas naturais, e se tornar uma nova potência das energias renováveis.

Segundo o relatório da EPE, a rápida expansão da população brasileira e o consequente crescimento no consumo de bens farão com que o país tenha que aumentar sua capacidade energética. Para se ter uma ideia, entre 2010 e 2020, a população brasileira vai passar de 195 milhões para 205 milhões, enquanto o número de residências vai subir em 15 milhões chegando a 75 milhões.

Por isso, o Brasil pretende investir em energias renováveis para suprir parte do aumento da demanda energética. Em 2010, 44,8% da demanda energética do país era abastecida a partir de fontes renováveis, e em 2011 espera-se que esse índice chegue a 46,3%. Em termos de eletricidade, o número é ainda mais alto: 83% das necessidades do país são atingidas pelo uso das renováveis.

Para isso, o país pretende investir RS 190 bilhões no setor. Destes, R$ 100 bilhões serão para projetos ainda não contratados, sendo 55% para centrais hidrelétricas de grande porte e 45% para biomassa, energia eólica e pequenas centrais hidrelétricas. Desta forma, o Brasil poderá atingir seu compromisso de redução de emissões dos gases do efeito estufa (GEEs) de 36% a 39% até 2020.

Hidrelétricas

Atualmente, a hidrelétrica é a principal fonte de energia do Brasil, e a capacidade instalada do país aumentará de 85 GW para mais de 115 GW até 2020. Apesar disso, porcentagem de energia gerada a partir das grandes hidrelétricas deve cair de 75% em 2010 para 67% em 2020.

O principal projeto hidrelétrico atual, a usina de Belo Monte, que terá mais de 11 mil MW de capacidade e que deveria começar a funcionar em janeiro de 2015, ainda é alvo de controvérsias, pois a construção da usina, que será instalada no rio Xingú, na Amazônia paraense, poderá acarretar sérios danos para a população local e para os ecossistemas da região.

Por isso, as fontes que devem aumentar sua participação no fornecimento energética são a biomassa, a energia eólica e as pequenas centrais hidrelétricas, que devem ter suas capacidades aumentadas dos atuais 9 GW para 27GW em 2020, elevando a contribuição destas de 8% para 16% da matriz energética nacional.

Bioenergia

Segundo o documento, um dos pontos fortes do Brasil na corrida das renováveis é o etanol. Com o aumento da frota de veículos no país, que deve passar de 29 para 56 milhões na próxima década, a demanda pelo álcool deve subir de 27 para 73 bilhões de litros. “O etanol é mais competitivo e consumidores com carros flex preferem usar etanol”, declarou Mauricio Tolmasquim, presidente da EPE.

Isso não significa, no entanto, que o país reduzirá a produção de petróleo; pelo contrário, esta deve triplicar, chegando a 6,1 milhões de barris por dia até 2020, embora o consumo de energia pelo petróleo deva diminuir de 38,1% para 31,9% nos próximos dez anos. A questão é que, de acordo com o relatório, o país se tornará um grande exportador do item.

“Primeiro, o Brasil será um exportador de petróleo importante e segundo, o país terá uma das matrizes energéticas com menos emissão de carbono. O Brasil será um parceiro estratégico para os países do ocidente que precisarem de muito petróleo. É um país democrático com bom quadro regulatório. Acho que será muito importante em termos de estabelecer o fornecimento de petróleo”, explicou Tolmasquim.

Eólica

O Brasil tem uma capacidade potencial eólica muito grande, de 350 GW. Apesar disso, o país só conseguiu atingir a capacidade instalada de 1 GW em maio deste ano. Para 2020, Plano Decenal prevê que essa capacidade chegue a 12 GW, mas Pedro Perrelli, diretor executivo da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), acredita que o número aumentará ainda mais.

“Na verdade, estamos esperando quase o dobro disso, cerca de 22 GW. O que a indústria está pedindo ao governo, a fim de se consolidar como uma indústria autossustentável, é entre cerca de dois mil a 2,5 mil MW em contratos por ano. 12 GW [até 2020] não é suficiente para sustentar uma indústria inteira. A energia eólica no Brasil tem menos de cinco anos, na verdade. Em 2005 tivemos apenas 29 MW instalados e agora temos 1.070 MW”.

A maioria das usinas eólicas atuais e previstas está e será instalada no Nordeste, devido à forte concentração de ventos no litoral nordestino. “A eólica está transformando áreas do Nordeste que estavam importando energia do Sul. Elas começarão a produzir mais energia do que podem consumir, então terão capacidade de criar economias mais fortes e exportar energia”, afirmou Perrelli.

Solar: empreendimento futuro

Apesar do grande potencial solar do país, os especialistas acreditam que esta fonte energética deverá se desenvolver no país posteriormente às outras renováveis, principalmente por causa do preço das instalações. “O potencial solar para o Brasil é enorme. Temos que explorar fontes eólicas, que são mais baratas em primeira instância, e pensar a respeito da solar em quatro ou cinco anos”, esclareceu Lauro Fiúza, vice-presidente da Abeeólica.

Tomasquim concorda, e crê que até 2020 essa fonte já terá ganhado importância no Brasil. “Provavelmente não usaremos todo o potencial hídrico da Amazônia porque temos que balancear o potencial com o meio ambiente. O custo da energia solar está caindo muito rápido no mundo, então provavelmente depois de 2020 ela será bem importante no Brasil”, acrescentou.

Muito a fazer

Mas para que esse potencial energético se desenvolva plenamente, o país deve contar também com mecanismos de eficiência energética, que reduziriam a perda de eletricidade que acontece atualmente e que atinge entre 15% e 17% do total de energia produzido.

Na próxima década, o Brasil deverá investir R$ 46,4 bilhões para aumentar suas linhas de transmissão, que devem sair dos 100 mil km de 2010 para 142 mil km em 2020, ligando as fontes de energia a diversas áreas do país.

“Sabemos muito bem o que aconteceu nas décadas perdidas, nos anos 1980 e 1990, quando nada foi feito e então a indústria começou a sofrer porque não havia energia suficiente disponível. Isso tem que chegar a um fim. Ainda temos espaços abertos na rede entre as linhas de transmissão que são tão grandes que você poderia colocar um país como a França dentro”, concluiu Tolmasquim.

* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.