O Brasil sempre foi reconhecido mundialmente por ser agraciado com uma enorme diversidade em recursos naturais: temos abundância em rios, florestas, minérios, petróleo, gás, e mais recentemente o vento.
Mas, estranhamente, pouco se fala sobre uma das maiores e mais limpas fontes de energia renovável: o Sol.
Chegam ao planeta Terra 34 milhões de megawatts a cada segundo oriundos do Sol. Isso é dez mil vezes mais do que tudo aquilo que nós humanos consumimos hoje em energia. O Brasil é também um dos países mais privilegiados do mundo em insolação, sendo que em algumas regiões temos o mesmo número de dias de Sol por ano que o deserto.
Nossa região com menos insolação, Santa Catarina, é 30% a 40% maior que a melhor região da Alemanha, um dos países líderes em produção de energia solar. A China, mesmo sem ter toda essa insolação, já descobriu o potencial dessa nova fonte de energia, sendo hoje um dos maiores produtores de painéis fotovoltaicos no mundo.
Por que o Brasil ainda não aproveita essa fonte de energia limpa, sem ruídos, gases, desmatamento e resíduos que nos chega todos os dias? A resposta não é tão simples.
O primeiro fator alegado, alguns anos atrás, era o preço, com alguma dose de razão. Hoje já não podemos mais dizer isso. Além de cair consistentemente nos últimos seis anos devido às novas tecnologias que vêm sendo adotadas na produção de painéis, a expectativa é que venha a cair mais ainda nos próximos anos, enquanto a expectativa da energia convencional é de subir ainda mais o preço. Em muitos Estados do país, se verificarmos os preços pagos pelos consumidores em suas contas de luz, a energia solar fotovoltaica já é mais barata hoje.
Além disso, a energia solar conta com uma vantagem adicional em relação às outras fontes: é gerada exatamente onde é consumida, ou seja, nos telhados das casas, comércios, depósitos, ou edifícios, não necessitando uso de linhas de transmissão, o que se convencionou chamar de geração distribuída.
Outro problema era escala competitiva, praticamente já superado. Só no ano de 2010, já se chegou a mais de 13 gigawatts instalados no mundo, podendo chegar este ano a 25 gigawatts, quase o dobro do ano passado.
Faltaria ainda a questão da regulamentação, também prestes a ser superada. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) está neste momento com uma audiência pública em curso que, entre outras coisas, vai regulamentar, até o final do ano, a chamada “conexão no grid”, ou seja, permitirá a um consumidor final de energia solar fotovoltaica, de até um megawatt, que a energia por ele gerada durante o dia, por exemplo, seja descontada do seu consumo total ao final do mês. Isso facilitará em muito a ampliação do mercado consumidor de energias renováveis, entre elas a solar fotovoltaica. O próximo passo, aguardado pelo mercado com grande expectativa, seria a realização de um primeiro leilão de energia solar fotovoltaica no Brasil, atraindo com isso toda uma cadeia produtiva de alta tecnologia para nosso país.
Esses fatores somados abririam uma oportunidade histórica para um segmento de produção de energia que, além de totalmente sustentável, ajudaria no encaminhamento de problemas que vêm se acumulando no setor energético.
O crescimento da energia hidráulica em grandes usinas está perto do seu limite, enfrentando problemas ambientais e exigindo pesados investimentos e longos prazos de maturação, além de demandar investimento em novas linhas de transmissão.
A região Norte do Brasil, chamada de sistema isolado pelo fato de não ser possível levar energia por meio de linhas de transmissão, é mantida com energia a diesel e carvão, sistema pago por todos nós graças a um adicional em nossas contas de luz. Ora, uma parte considerável desse consumo poderia ser substituída por energia solar.
A água potável de poços artesianos no interior de Estados do Nordeste não pode ser bombeada pelo custo que demandaria levar uma rede elétrica até eles. Alguns poucos painéis solares resolveriam esta demanda. Foram levantados, somente em um Estado, mais de 80 mil poços artesianos com água potável.
As grandes redes de supermercado, em especial no Nordeste, gastam recursos enormes para resfriar suas lojas, quando poderiam implantar em todas elas uma cobertura de painéis solares, que além de resfriá-la naturalmente estaria gerando energia. São milhões de metros quadrados de coberturas desperdiçadas ao longo de todo o país.
Os próprios parques eólicos, que hoje estão transformando a paisagem de algumas regiões do país, poderão ser consumidores de painéis solares nas áreas em que estão instalados. São centenas de hectares de terrenos não aproveitados que poderiam estar gerando energia durante o dia, já que o vento normalmente sopra durante a noite, dando assim mais retorno à linha de transmissão já instalada. É o que poderíamos chamar de energia renovável “flex”, sol durante o dia e vento durante a noite.
Como podemos ver, são imensas as oportunidades que se abrem neste imenso país banhado pelo Sol por todos os lados. O governo está dando os primeiros passos, sinalizando que é o momento de arregaçarmos as mangas para transformar o Brasil em um player mundial no setor de energia solar fotovoltaica. As próximas gerações nos agradecerão por isso.
* Emerson Kapaz é empresário, presidente da Ecosolar do Brasil S/A e sócio da Alek Consultoria Empresarial.
** Publicado originalmente pelo jornal Valor e retirado do site IHU On-Line.