Qual o caminho mais rápido para a transição a uma economia baseada em energia limpa e de baixo carbono? A diversificação da matriz energética, substituindo fontes fósseis por fontes renováveis limpas.
Essa pergunta me foi feita em um debate recente sobre sustentabilidade. Ela tinha um complicador que pode às vezes passar desapercebido: falava em energia limpa de baixo carbono. Tradução energia renovável de baixo impacto ambiental.
Entendida desta forma, ela descarta imediatamente alternativas como as hidrelétricas do rio Madeira e Belo Monte no Brasil e a mega-hidrelétrica de Três Gargantas na China. As hidrelétricas brasileiras têm alto impacto ambiental e devem emitir muito metano, por muito tempo, porque inundarão áreas infestadas de matéria orgânica, águas também cheias de sedimentos orgânicos. Três Gargantas está cheia de problemas ambientais e geológicos, que só agora o governo chinês reconhece: poluição, infestação de algas (que pode gerar alta emissão de CO2), deslizamentos nas bordas, muito risco de desastres de grandes proporções. Após o desastre de Fukushima, a energia nuclear, apontada por analistas respeitáveis como James Lovelock e Stewart Brand como melhor saída para reduzir as emissões de gases estufa, terá que ser repensada. O órgão regulador do EUA concluiu análise recente, pós-Fukushima, mostrando que muitas usinas estão com protocolos de segurança inoperantes e são de alto risco. Os protocolos de segurança, rotinas de manutenção e controle de usinas nucleares e formas de armazenagem do material radiativo usado terão que ser revistos e se tornar muito mais rigorosos. Ainda assim, pode-se dizer que a opção nuclear é de baixo carbono, porém não é limpa.
O melhor caminho é usar uma cesta de fontes renováveis, de acordo com as condições de cada país e região, combinando solar fotovoltaica, eólica, geotérmica, biocombustíveis, principalmente de segunda geração – que deverão entrar no mercado até 2015 – biomassa, biogás (do lixo e de resíduos agrícolas animais e vegetais), baterias para veículos elétricos.
Não há, no momento, uma fonte que possa substituir integralmente o petróleo com seus uso múltiplos. Na geração elétrica, só a fonte nuclear substituiria petróleo e carvão, em grande escala. No futuro, existe a possibilidade de uma economia baseada no hidrogênio, única fonte no horizonte que teria esse potencial de multiuso.
Esse caminho de diversificação e descentralização nos levaria a uma economia sem uma fonte dominante de energia. Se, no futuro, uma fonte limpa que substitua plenamente o petróleo de tornar viável comercialmente, certamente o mundo rumaria para essa fonte e voltaria a ter uma economia de fonte dominante de energia. Nesse caso, as próximas décadas seriam uma primeira fase da transição, para uma economia de baixo carbono. A fase de maturidade corresponderia à dominância de uma fonte energética.
De qualquer forma, o modelo energético mudará e será sempre, daqui em diante, mais descentralizado e diversificado que o atual. Hoje é possível pensar em um modelo que combine soluções locais, “fora do sistema geral”, que supram de energia renovável determinadas necessidades locais – de um bairro, uma cidade – ou específicas, e soluções integradas à rede, com múltiplas fontes limpas.
O desenvolvimento tecnológico nessas fontes renováveis, principalmente eólica e solar fotovoltaica tem sido muito acelerado. Com a elevação do preço do petróleo, sempre há um surto importante de inovação em fontes renováveis. Houve muito avanço em energia eólica, que tem crescido muito. O mesmo tem ocorrido com a tecnologia de geração fotovoltaica.
Os preços dessas energias têm caído muito e devem cair bem mais ao longo desta década aqui, aqui e aqui.
O Brasil devia estar investindo nessa onda de inovação em eólica, solar e biocombustíveis de segunda e terceira gerações, pelo menos. Já devia estar competindo no setor de veículos elétricos, com estão China e Índia. Mas, infelizmente, os lobbies elétrico e automotivo e o governo não querem e são forças poderosas que bloqueiam efetivamente nosso progresso nesse segmento que será decisivo para a competitividade, independência e segurança dos países nas próximas décadas.
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** Publicado originalmente no site Ecopolítica.