Cidade do México, México, 8/6/2011 – O avanço das energias renováveis na América Latina aumentará a demanda por metais como o cobre, que só poderia ser coberta mediante a reciclagem. As tecnologias alternativas, como as células fotovoltaicas, os aerogeradores e os aquecedores solares de água, exigem materiais como silício, gálio, índio, aço e cobre.
“É possível que pressione a demanda. Há uma discussão forte em torno dos materiais. Começam a aparecer outros que se tornam estratégicos. No momento em que os combustíveis fósseis estão acabando e são substituídos por investimentos em tecnologia renovável, o mineral se torna mais importante do que o petróleo, o gás e o carvão”, disse à IPS o presidente da não governamental Energia, Tecnologia e Educação (Ente), Odón de Buen.
A Ente dedica-se a apoiar pequenas e médias empresas, bem como governos municipais, no uso das melhores práticas para a eficiência energética. De Buen é coautor, junto com outros especialistas mexicanos e brasileiros, do informe “Energias Renováveis para Geração de Eletricidade na América Latina: Mercado, Tecnologias e Perspectivas”, patrocinado pela Associação Internacional do Cobre (ICA), sindicato da indústria com sede em Nova York.
O trabalho, focado na América Central, Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México, Peru e Venezuela, assegura um rápido crescimento das energias renováveis até 2020, ano em que a demanda adicional de cobre desses países oscilaria entre 57.850 e 111.820 toneladas.
“A energia eólica e de pequenas hidrelétricas representam 73% da demanda total de cobre. Quando se inclui a geração de eletricidade a partir de biomassa projetada, essas três tecnologias alcançam 86% e 93% da demanda estimada de cobre até 2020”, indica o documento. Em 2019, o Brasil necessitará de 39.940 a 44.440 toneladas adicionais, a Argentina 4.070/29.610 em 2020, e o México 5.860 toneladas no mesmo ano.
“A reciclagem e a alta de preços podem contribuir para reduzir a pressão. Ao colocar mais metal no mercado, a oferta reduz o preço. Se há déficit, os preços sobem, e tem origem a substituição de um metal por outro”, explicou Alejandro Jaramillo, membro do Bureau Internacional de Reciclagem, associação global que reúne mais de 800 empresas e mais de 70 federações nacionais, com sede em Bruxelas. As fontes alternativas, sem incluir as grandes hidrelétricas, respondem por 2,5% a 5% da capacidade total de eletricidade dos países estudados.
O informe indica que a biomassa é a principal fonte utilizada para geração elétrica, pois fornece 50% da capacidade instalada renovável na América Latina, seguida pelas pequenas centrais hidrelétricas (37%) e eólicas (13%). A produção elétrica baseada na biomassa – especialmente cana-de-açúcar e etanol – é forte no Brasil, na Argentina e Colômbia. Já a maior parte da capacidade instalada de eoloenergia está localizada no Brasil, México e Argentina.
No México, 93% da energia procede do consumo de combustíveis fósseis, enquanto o restante é gerado por vento, luz solar, vapor, água e exploração nuclear. Neste país, são produzidos 850 megawatts (MW) de energia eólica, 20 MW de solar e 958 MW a partir da geotermia. Por outro lado, esta nação é pródiga em minerais metálicos, como prata, zinco, cobre e chumbo, entre outros. A extração de cobre chega a 227 mil toneladas anuais. No entanto, importa cobre, alumínio, ferro, estanho e níquel de nações como Canadá, Estados Unidos, Chile e Brasil.
A reciclagem poderia alimentar o setor renovável com os metais necessários, além de desacelerar a atividade mineradora, segundo os especialistas. De fato, o informe “Taxas de Reciclagem de Metais”, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, alerta que alguns metais fundamentais para a fabricação de tecnologias limpas podem escassear por causa de suas baixas taxas de reciclagem. Embora elementos como ferro, aço, cobre, alumínio, chumbo e estanho tenham índices entre 25% e 75% no mundo, outros 34 materiais possuem porcentagens muito menores que 1%, segundo o documento.
“A reciclagem pode enfrentar o crescimento. Há anos, reciclar algumas coisas é muito específico, muito isolado. Mas, hoje, é uma atividade importante da economia. Aqui se recicla pouco. Há roubo e venda ilegal de cobre usado. Tem de haver uma evolução para aproveitar isto. O mundo vai levar a ciclos fechados dos materiais”, disse De Buen. No México são reciclados metais como aço, alumínio, cobre, bronze, zinco e chumbo, embora o majoritário seja o alumínio, devido ao alto consumo de bebidas e alimentos em lata.
“É uma indústria muito jovem e que está em processo de maturação. Lamentavelmente, muito do metal é lançado diretamente nos lixões e já não têm recuperação”, disse Jaramillo, cuja empresa, situada em Tijuana, cidade fronteiriça com os Estados Unidos, processa 1.500 toneladas mensais de cobre, alumínio, bronze e aços inoxidáveis. No México, são gerados 37 milhões de toneladas de lixo anuais, dos quais 3% são metais, segundo o Ministério do Meio Ambiente, cujo Diretório de Centros de Recolhimento de Materiais Provenientes de Resíduos inclui mais de 150 recicladoras de metal.
A ICA calculou que a geração solar fotovoltaica necessita de 8,8 quilos de cobre por quilowatt, a geotérmica precisa de 4 KW, a eólica de 2,5 KW, a hidráulica 2 KW e a de biomassa 1,2 KW. O informe da ICA prevê que a energia eólica e a biomassa serão, na próxima década, as tecnologias mais importantes nos países analisados, e antecipa uma significativa expansão da primeira na Argentina, no Brasil e no Chile, e da segunda no Brasil, Peru, Argentina, América Central e Colômbia. Envolverde/IPS