Segundo dados da balança comercial brasileira, os bens da indústria de transformação registraram déficit de US$ 35,3 bilhões nos três primeiros trimestres de 2011. No ano, esse déficit pode chegar a US$ 50 bilhões, acima dos US$ 34,8 bilhões de 2010. Nesse déficit, os bens de alta intensidade tecnológica participaram com US$ 23,2 bilhões, aí incluído o déficit no setor de aeronaves; os bens de média/alta tecnologia, incluindo os setores automobilístico e químico, assim como os bens de média/baixa intensidade tecnológica e os bens derivados de petróleo refinado e afins, também apresentaram déficits consideráveis.
Parte do empresariado avalia que esses déficits decorrem da guerra cambial e do diferencial entre as taxas de juros domésticas e as internacionais. Eles também avaliam que as medidas recentes adotadas pelo governo, com o Plano Brasil Maior, apontam na direção correta, projetando uma correção de rumos. Reconhecem que a estrutura produtiva deve ser reforçada, casando a força do mercado interno com o atendimento a padrões de exigência mundial para competir. E que, como o cenário externo é adverso, é necessário pinçar oportunidades, baratear o investimento e incentivar a inovação e a produtividade.
Em outras palavras, esses empresários querem custos menores de investimento e produção e maiores esforços para elevar a produtividade e a inovação. Supõem, assim, que basta a queda dos juros, um câmbio mais favorável e o fornecimento de recursos governamentais para promover a inovação para elevar a competitividade da indústria brasileira. Ou seja, transformam o necessário em suficiente, duas coisas que podem ser muito diferentes.
É evidente que o rebaixamento dos juros, um câmbio mais favorável e o financiamento governamental da pesquisa e da inovação tecnológica são necessários e indispensáveis para elevar a competitividade dos bens intensivos em tecnologia produzidos pela indústria brasileira. Mas eles estão longe de serem suficientes. Para início de conversa, há um forte hiato tecnológico entre nossos produtos de alta e média tecnologia e os mesmos produtos fabricados por outros países.
A escala de nossa produção também é outro empecilho ao aumento da produtividade. Depois, os custos da logística brasileira são uma barreira quase intransponível para a elevação da competitividade nacional. Isto para não falar nos gargalos representados pelos oligopólios que operam com preços administrados e impedem que a competição intercapitalista possibilite o rebaixamento dos custos. No Brasil, maior valor agregado significa, invariavelmente, maior preço, ao invés de preço mais competitivo.
Portanto, enquanto governo e empresários nacionais não atacarem esses problemas de frente, supondo que podem resolvê-los apenas pelas bordas, dificilmente a indústria brasileira conseguirá dar o salto necessário para elevar a produtividade e a competitividade. Por mais inovativos que sejam, continuarão patinando numa infraestrutura ineficaz e numa estrutura produtiva em que a competição não passa de discurso publicitário.
Além disso, parte do financiamento governamental em pesquisa e inovação é destinado não a empresas nacionais, mas a empresas estrangeiras multinacionais que, no processo de crise internacional, tendem a transferir parte considerável de seus lucros para suas matrizes nos Estados Unidos e na Europa. Desse modo, para distinguir o necessário do suficiente não basta apresentar os déficits comerciais das indústrias de alta e média intensidade tecnológica.
É preciso desnudar a estrutura da indústria existente no Brasil e adotar um programa eficaz, que leve as empresas estrangeiras a internalizarem novas e altas tecnologias, e que recrie ou crie empresas genuinamente nacionais que compitam com as estrangeiras tanto no mercado interno, quanto no mercado internacional.
* Wladimir Pomar é escritor e analista político.
** Publicado originalmente o site Correio da Cidadania.