Rio de Janeiro, Brasil, 18/6/2012 (TerraViva) – O futuro das fontes de energias alternativas no Brasil são eólica e biomassa, afirmam autoridades brasileiras do setor ao enfatizar que a predominância do país continuará com sua matriz hídrica. O Brasil poderá passar a ocupar, em 2013, a 10ª posição entre os maiores produtores de energia eólica do mundo.
A energia elétrica renovável no Brasil representa 13% da participação mundial renovável. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a fonte de energia eólica já é a segunda mais competitiva no país, perdendo somente para a hidrelétrica.
O plano decenal de expansão de energia 2020 prevê que o consumo energético crescerá a uma média anual de 5% e requer investimentos da ordem de R$ 1 bilhão (U$S 500 milhões). A geração oriunda de fontes alternativas irá dobrar em 10 anos, de 8% para 16%. Só a geração eólica aumentará de 1% para 7%.
Segundo o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, o país tem o maior percentual de energia renovável do mundo na sua matriz tanto elétrica quanto energética. “O Brasil assumiu compromissos voluntários em Copenhague que viraram lei em 2010 e vai continuar priorizando a matriz renovável, o nosso carro chefe é a hidroeletricidade. E ainda temos um potencial grande. Vamos desenvolvendo complementarmente a biomassa e a eólica, que estão dando sinais econômicos para se desenvolver”, admitiu Zimmermann.
Os sinais de que a energia eólica tem mostrado viabilidade vem do preço. Há seis anos o megawatt/hora custava R$ 300 (U$S 150) e, atualmente, chegou ao patamar de R$ 100 (U$S 50) sem necessitar de subsídios do governo. Segundo explicou à IPS o coordenador do grupo de estudos do setor elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Nivalde de Castro, o potencial eólico no Brasil cresceu em competitividade mediante a crise internacional que afetou as economias norte-americana e europeias.
“A crise mundial europeia fez com que a indústria eólica mundial viesse para o Brasil. As 11 maiores companhias no mundo estão se instalando no país. Das fontes alternativas hoje a mais importante é a eólica e, em segundo lugar a biomassa, que vem do bagaço da cana”, afirmou Nivalde.
Divergência sobre Hidrelétricas emergem na Rio+20
Mas quando o tema é hidroeletricidade, as opiniões entre políticos, especialistas e ambientalistas divergem radicalmente na conferência Rio+20 e na Cúpula dos Povos. Para uns, a construção de usinas hidrelétricas não tem uma pegada de carbono expressiva e resolve problemas sociais ao remanejar famílias para áreas com melhores condições de saneamento e acesso à água. Para outros, no entanto, as mega hidroelétricas não tem sustentabilidade e geram um grande impacto ambiental.
Na Amazônia, existem atualmente quatro usinas em construção: duas no rio Madeira, no estado de Rondônia, Santo Antônio e Jirau; Belo Monte no rio Xingu, no Pará; e Tapajós, no rio que leva o mesmo nome no Pará.
O diretor do Centro de Pesquisa de Energia (Cepel), Albert Melo, contrariou o pensamento de muitos ao apresentar o dado de que 0,2% do território da região amazônica está ocupado por hidrelétricas e que, segundo ele, nos próximos 10 anos, a previsão é de que esse número tenha um crescimento de 0,1%.
Segundo Nivalde de Castro, a construção Belo Monte é viável e sua pegada de carbono é baixa. O país hoje fornece energia a um custo mais baixo do mundo, U$S 40 o megawatt.
“Ninguém constrói uma usina e gera energia mais barato que o Brasil. Nada está sendo feito ao arrepio da lei seguindo as exigências ambientais. O Brasil está fazendo a usina de fio d’água que segue o curso do rio e a turbina se move pelo fluxo da água. É uma forma que evita grandes lagos. Belo Monte originalmente teria um alagamento de 1.400 km², com essa solução de construir a fio d’água, o lago passou para 440 km²”, argumentou.
Questionado por IPS se Belo Monte é um empreendimento sustentavelmente viável, o pesquisador garante que sim. “É uma polêmica sem fundamento técnico. As usinas a fio d’água são um vetor de desenvolvimento para uma região pobre”, discutiu.
Como o que menos há na Conferência Rio+20 é consenso, lideranças comunitárias e ativistas se dizem radicalmente contra. O líder indígena do Acre, Sebastião Rodrigues Manchineri, quem preside a União das Nações Indígenas do Acre e, na Cúpula dos Povos, representa as organizações indígenas da bacia amazônica, é um forte crítico ao tema.
“As mega hidroelétricas não tem sustentabilidade. Em algum momento vão ter alguma pane y causar muitos danos ambientais. Optamos por uma energia mais renovável, como a eólica com a participação da natureza”, disse à IPS.
Já o coordenador geral da Organização Regional dos Povos Andinos, Miguel Palacios, indígena quechua do Peru, afirma que rejeita as usinas na floresta amazônica.
“Estes projetos que eram dos governos de direita agora estão sendo implementados pelos de esquerda. São as hidrelétricas, as rodovias, todos os empreendimentos a favor das corporações multinacionais que tem grande apoio do governo do Brasil com banco que financiam projetos a favor das corporações e não dos povos”, criticou.
Palácios defende um retorno a fontes de energia que restaurem a harmonia da terra e da natureza. “Não queremos fazer para alguns em detrimento de outros”.
Já o diretor da campanha da Amazônia do Greenpeace, Paulo Adario, afirma ser favorável à energia de fonte hídrica por ser renovável, porém não defende mega empreendimentos na Amazônia. “Há outras alternativas, não só nas fontes como eólica, mas também é possível melhorar a eficiência energética de algumas usinas que são antigas substituindo turbinas e geradores por mais modernos. As grandes hidroelétricas tem alto impacto social e ambiental. Temos que fazer a opção se queremos eletricidade com segurança energética com ou sem destruição”, ponderou Adario. (IPS/TerraViva)
* Publicado originalmente no site TerraViva.