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Epidemia de diabetes ameaça o desenvolvimento nas ilhas do Pacífico

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O consumo de frutas e verduras e o exercício diário são importantes para prevenir as doenças não transmissíveis nas ilhas do Pacífico. Foto: Catherine Wilson/IPS

 

 

Sydney, Austrália, 13/2/2015 – O rápido aumento das doenças não transmissíveis (ENT) nas ilhas do Pacífico, que causam 75% de todas as mortes, é um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento desses territórios, afirmam os ministros da Saúde da região. O Pacífico ocidental tem a prevalência regional de diabetes mais alta do mundo. A doença é agravada pelos maus hábitos alimentares, pela obesidade e pelo sedentarismo, segundo a Fundação Internacional da Diabetes.

As taxas nacionais de prevalência de chegaram a 25% nas Ilhas Cook, 29% em Tokelau e 37% nas Ilhas Marshall. Essa enfermidade se manifesta quando o pâncreas não produz suficiente insulina para regular os níveis de açúcar no sangue, o que pode provocar problemas de circulação sanguínea e dano ao sistema nervoso, coração, olhos e rins. Isso aumenta o risco de cegueira, acidentes cerebrovasculares e amputação de membros, comumente os pés e as pernas.

Os especialistas estão cada vez mais preocupados com o impacto da doença sobre a taxa de deficiência da população, em particular pela amputação de extremidades e cegueira, que ameaçam afetar os esforços para reduzir a pobreza e a desigualdade.

Em Papua Nova Guiné, um Estado insular com mais de sete milhões de habitantes, “o diabetes aumenta sua prevalência na população geral, inclusive em crianças de 12 anos ou menos, e a amputação de membros é conhecida em adultos de apenas 23 anos”, disse Gerard Saleu, enfermeiro do Instituto de Pesquisa Médica. “Nem todos podem adquirir cadeiras de rodas ou soluções visuais ou para caminhar”, acrescentou.

As ENT aumentaram notavelmente nas ilhas do Pacífico a partir da década de 1970, segundo os especialistas. A incidência do diabetes tipo 2 em Apia, capital de Samoa, aumentou de 8,1% para 9,5% entre os homens e de 8,2% para 13,4% nas mulheres, entre 1978 e 1991. Grande parte da culpa é atribuída ao atraente estilo de vida consumista e à crescente importação de alimentos processados com alto conteúdo de gordura e açúcar.

A dietas locais, que originalmente eram à base de pescado fresco, verduras e frutas, agora incluem alto consumo de macarrão instantâneo, biscoitos embalados e bebidas gaseificadas. Menos de 10% dos adultos em Kiribati, Nauru, Ilhas Marshall, Papua Nova Guiné e Ilhas Salomão ingerem dietas com nutrientes suficientes, e mais de 60% são obesos em Samoa Americana, Tokelau, Ilhas Cook e Tonga, segundo a Secretaria da Comunidade do Pacífico.

A crescente urbanização acelerou a propensão aos fatores de risco das ENT, como a redução da atividade física diária. Um estudo realizado em Fiji, que tem 881 mil habitantes, revelou que o diabetes afeta 11,3% das mulheres dos centros urbanos, em comparação com 0,9% nas zonas rurais.

No mundo, as ENT, como o diabetes, são responsáveis por cerca de 66,5% de todos os anos vividos com deficiência. “Em nossos hospitais do Pacífico são feitas muitas amputações a cada dia e as pessoas perdem a visão constantemente por causa do diabetes”, destacou um porta-voz do Fórum de Deficiência do Pacífico, com sede em Fiji.

Até 47% da população de diabéticos nas ilhas do Pacífico experimenta perda de visão, enquanto 17% passa por amputações, informa o Fórum das Ilhas do Pacífico. De 2010 a 2012, o principal hospital de Fiji realizou 938 amputações de membros inferiores derivadas do diabetes. A maioria dos amputados tinha mais de 45 anos, porém, mais de 100 tinha entre 25 e 44 anos. Já o principal hospital de Tonga, onde vivem cerca de 103 mil habitantes, teve aumento de 400% nesse tipo de amputação na última década.

A consequente perda de mobilidade, a diminuição da participação econômica e o aumento dos gastos médicos da família perpetuam as penúrias e desigualdades, especialmente para aquelas que já passam por necessidades econômicas. Para muitos ilhéus com deficiência, “a maioria dos prédios públicos não é acessível, os empregadores não têm instalações razoáveis nos locais de trabalho e muitos não estão aptos a trabalhar, o que representa uma perda de renda para a família”, destacou o porta-voz do Fórum de Deficiência do Pacífico.

A sensibilização e a vontade política para abordar as necessidades das pessoas deficientes, que são cerca de 17% da população da região, estão crescendo, mas continuam sendo “das mais pobres e marginalizadas de suas comunidades, com acesso limitado a educação, emprego e serviços sociais básicos, o que leva à exclusão social e econômica e perpetua a pobreza”, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).

Em Fiji, por exemplo, calcula-se que 89% das pessoas com deficiência estejam desempregadas. Também escasseiam serviços de reabilitação para ajudar quem tem problemas relacionados com o diabetes, aponta o Fórum de Deficiência do Pacífico.

O custo das ENT nas ilhas do Pacífico representa uma significativa carga econômica para os serviços de saúde pública. A diálise por insuficiência renal derivada do diabetes chegava, em Samoa, a US$ 38.686 por paciente por ano em 2010 e 2011, e o custo total para o Estado representava mais de 12 vezes a renda nacional bruta por habitante do país, segundo o Banco Mundial. Como os Estados insulares da região cobrem os gastos de 90% dos serviços nacionais de saúde, sua capacidade de aumentar o gasto sanitário para enfrentar uma epidemia de ENT é praticamente nula.

Os ministros da saúde da região impulsionam uma estratégia de prevenção e controle, com participação do governo e da sociedade. Isso implica examinar as práticas da indústria alimentar em favor de uma saúde pública melhor. Samoa, Nauru e Ilhas Cook gravaram com impostos alimentos e bebidas com alto conteúdo de açúcar, e 11 países da região desenvolveram planos para reduzir o nível de sal na alimentação. Envolverde/IPS