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Erradicar a fome deve ser prioridade para depois de 2015

O produtor agrícola Kindness Paradza (D) com um de seus empregados. Foto Stanley Kwenda/IPS

Roma, Itália, 17/6/2013 – A Organização das Nações Unidas (ONU) se prepara para lançar, no final deste ano, uma ambiciosa agenda de desenvolvimento posterior a 2015, e a mensagem de sua agência em Roma é inequívoca: a erradicação da fome e da desnutrição deve ser uma prioridade nela. Em seu informe anual divulgado na capital italiana, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) reconhece que o mundo fez certos progressos na luta contra a fome e a desnutrição, mas destaca que ainda há um “longo caminho” pela frente para resolver a crise.

O diretor-geral da FAO, o brasileiro José Graziano da Silva, é inflexível: “Devemos lutar por nada menos que a erradicação da fome, da insegurança alimentar e da desnutrição”. A única resposta efetiva para a insegurança alimentar é o compromisso político em níveis nacional, regional e internacional por parte da comunidade de doadores e das organizações internacionais, afirmou Graziano, com vistas à 38ª Conferência da FAO, que acontece em Roma, entre 15 e 22 deste mês.

Como exemplos, Graziano citou o Comitê sobre Segurança Alimentar e o Desafio da Fome Zero, criados pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. Ban destacou o “espetacular” crescimento econômico experimentado em alguns países, que tornou possível reduzir a extrema pobreza pela metade. “Mas a onda de prosperidade não atingiu a todos”, afirmou. “Para ter êxito antes do final de 2015 precisamos de um esforço concentrado, destinado a apoiar os pequenos produtores e garantir melhor nutrição de mulheres e crianças”, acrescentou.

O informe da FAO Estado da Alimentação e da Agricultura indica que os “custos sociais e econômicos da desnutrição são inaceitavelmente altos”. Os números causam impacto: a desnutrição provoca perda de produtividade para a economia mundial e gastos em cuidados médicos equivalentes a US$ 3,5 trilhões, ou US$ 500 por pessoa. “Significa quase todo o produto interno bruto anual da Alemanha, a maior economia europeia”, informa o documento. As deficiências de vitaminas e micronutrientes, junto com a obesidade e o sobrepeso, são os principais responsáveis pela perda de produtividade.

O subdiretor-geral da FAO para economia e desenvolvimento social, Jomo Kwame Sundaram, da Malásia, concorda com a estimativa do Grupo de Alto Nível de Pessoas Eminentes da ONU para a Agenda de Desenvolvimento Posterior a 2015, de que a fome extrema e a pobreza poderiam ser erradicadas até 2030. “Mas isto não ocorrerá por si só. Deve ser aplicada uma série de medidas importantes”, políticas e econômicas, e adotados mecanismos adequados de governança, disse Sundaram à IPS. “Nos referimos à erradicação da fome no sentido estrito: acabar com a insegurança alimentar e com as deficiências de micronutrientes”, destacou.

A FAO define desnutrição como a falta de alimentos suficientes para levar uma vida saudável e produtiva. Isto afeta cerca de 868 milhões de pessoas. O Desafio da Fome Zero procura eliminar o atraso no crescimento devido às deficiências de micronutrientes, garantir uma agricultura sustentável, minimizar o desperdício de alimentos e duplicar a renda dos agricultores. Sundaram também afirmou que os compromissos políticos para erradicar a fome devem ser apoiados com recursos. Em 2011, a FAO estimou que eram necessários investimentos públicos anuais de US$ 50,2 bilhões para que o mundo pudesse erradicar a fome até 2025, quantia que também deve ser complementada pelo setor privado. Envolverde/IPS