As escolhas femininas do povo brasileiro
Se as recentes pesquisas forem confirmadas, teremos Dilma e Marina no segundo turno das eleições presidenciais.
Se as recentes pesquisas forem confirmadas, teremos Dilma e Marina no segundo turno das eleições presidenciais. Um fato inédito no Brasil em que as mulheres representam a maioria da população; conquistaram espaços importantes no mundo do trabalho e nos direitos sociais, mas ainda são vistas como objeto, sofrem abuso sexual, ganham menos que os homens em funções equivalentes e ainda estão muito distantes dos cargos de direção nas empresas, sejam elas públicas ou privadas.
Dilma, quando foi lançada por Lula, despertou dúvida se conseguiria vencer. Passados quase quatro anos do seu mandato, a presidenta enfrentou preconceitos e dificuldades, mas tem o que mostrar, e sabe o que é necessário corrigir em um eventual segundo mandato. Já Marina, quando aceitou ser vice, embora tivesse melhor perspectiva de votos do que Eduardo Campos, a meu ver, optou por ganhar tempo para se lançar novamente candidata pelo seu partido, a Rede, em 2018. Em função da morte do ex-ministro, e a decisão de encabeçar a chapa do PSB, a ex-senadora Acreana terá que apresentar propostas mais palpáveis e lidar com algumas contradições importantes que são de conhecimento público.
Também vale a pena não esquecer que neste suposto cenário, o PSDB, que nos oito anos de governo FHC caracterizou-se por uma gestão neoliberal do País, ficará fora da disputa, justamente no pleito em que firmou Aécio Neves como candidato, um jovem quadro do partido, que herdou do avô, Tancredo, o gosto pela política.
Muita água rolará nas próximas semanas. O importante é que ambas as candidatas e os seus respectivos partidos ouçam os sinais que vêm das pesquisas e da população e façam uma campanha respeitosa, de propostas claras para a condução do Brasil que já melhorou em muitos aspectos nos últimos anos, mas que precisa enfrentar determinados desafios como, por exemplo, a reforma política, a garantia de justiça social para todos, e a valorização das nossas diversidades e dos nossos ativos naturais e culturais.
Como Dilma e Marina foram ex-ministras na gestão do Lula, pode-se deduzir que há mais proximidades do que diferenças entre as oponentes. Vale destacar, ainda, que até pouco tempo o PSB era aliado ao PT no governo federal.
Nesse contexto político que surpreendeu a todos, é possível considerar que a maioria dos brasileiros apoia os avanços conquistados, mas cobra transformações profundas na forma de lidar com os interesses públicos e com a promoção do bem-comum. Mais: como é sabido, quem vencer o pleito, a partir de 2015 terá que governar para o Brasil inteiro e não apenas para a parcela que a elegeu. Talvez nos quesitos diálogo e sensibilidade para costurar caminhos, duas mulheres tenham mais competência para negociar e inspirar outras condições de governança as quais contemplem as mudanças que emanam da população. Por aqui, fico. Até a próxima.
* Leno F. Silva escreve semanalmente para Envolverde. É sócio-diretor da LENOorb – Negócios para um mundo em transformação e conselheiro do Museu Afro Brasil. É diretor do IBD – Instituto Brasileiro da Diversidade, membro-fundador da Abraps – Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade, e da Kultafro – rede de empreendedores, artistas e produtores de cultura negra. Foi diretor executivo de sustentabilidade da ANEFAC – Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade. Editou 60 Impressões da Terça, 2003, Editora Porto Calendário e 93 Impressões da Terça, 2005, Editora Peirópolis, livros de crônicas.




