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Espanha necessita da América Latina

Madri, Espanha, 11/4/2011 – A cooperação entre Europa e América Latina é essencial para a Espanha em vários aspectos, como economia, relações sociais e política internacional, segundo o ministro da economia espanhol, Luis de Guindos. O ministro destacou o papel do Brasil, “uma potência mundial”, cuja influência nas relações internacionais é cada vez maior, “e que para essas relações hispano-latino-americanas é transcendente”.

Nessa linha, Guindos considerou muito importante avançar para uma consolidação da Comunidade Ibero-Americana, integrada pelos países de fala espanhola e portuguesa da América e da Europa, que anualmente realizam uma reunião de cúpula. A próxima será nos dias 16 e 17 de novembro em Cádis, sudoeste da Espanha. Essa Comunidade também deve fortalecer muito mais suas relações econômicas, financeiras, políticas, culturais e científicas, para impulsionar o desenvolvimento e a estabilidade de seus países-membros, disse o ministro.

Um exemplo do que se deve fazer foi dado pela Comissão Europeia, órgão executivo da União Europeia (UE), ao enviar ao Parlamento Europeu e ao Conselho da Europa, no dia 30 de maio de 2007, um comunicado intitulado “Para uma associação estratégica UE-Brasil”. Nela propõe que o bloco de 27 países apoie medidas “flexíveis” necessárias para reduzir a pobreza e melhorar a situação econômica, política e ambiental da agora sexta potência do mundo.

O documento também destaca que “a primeira prioridade consiste em estimular os intercâmbios, os contatos e a transferência de conhecimentos técnicos entre a UE e o Brasil, para melhorar a inclusão social, reduzir as desigualdades e aumentar os conhecimentos mútuos”. As relações da UE e em especial da Espanha com a América Latina e o Caribe também é muito importante para enfrentar a dramática crise econômica e social que afeta este país e outros do bloco europeu, afirmou o ministro, membro do governo do direitista primeiro-ministro Mariano Rajoy, no poder desde dezembro.

Guindos antecipou em uma intervenção ontem, em um ato no Fórum Europa, que o produto interno bruto espanhol se manteve em queda no primeiro trimestre do ano, em um nível “muito semelhante” ao do trimestre anterior, quando a economia se contraiu em três décimos. Também reconheceu que tanto a contração econômica como o desemprego, que afeta mais de cinco milhões dos 47 milhões de habitantes do país, 23% da população ativa, não vai melhorar durante o ano, embora tenha destacado não acreditar que a situação “possa ficar muito pior” do que a atual.

O ministro qualificou de “inevitável” o inédito ajuste fiscal estabelecido para este ano, por causa do “inaceitável déficit” herdado pelo novo governo. Também defendeu a redução do gasto em cerca de 20%, como base para impulsionar o crescimento econômico e as reformas necessárias, além de enfrentar “as atribulações dos mercados”. Sobre a América Latina, o ministro destacou que a região, nesta conjuntura tão negativa para a União Europeia, pode ter um papel especial para que o bloco desenvolva suas relações econômicas, comerciais e financeiras com a China, país que avança para se transformar na grande potência mundial.

Sobre isto, Alfredo Sáenz, conselheiro-delegado do Banco Santander, um dos maiores da Espanha, com presença destacada na América Latina, afirmou que “os laços comerciais e de investimento” que a China mantém com essa região criarão grandes oportunidades de negócio para seu banco. José Galán Zazo, professor da Universidade de Salamanca, considerou que antes de 2015 a China substituirá a UE como segundo sócio da América Latina, atrás dos Estados Unidos.

Diante disso, acredita que “se posicionar na China é ir pisando terreno daquela que será a locomotiva do Século 21 e isto gera tanto riscos quanto oportunidades”. Um exemplo já pode dar a privada companhia Telefonica da Espanha, com forte presença na América Latina e que já estabeleceu uma aliança estratégica com a China Unicom. As duas operadoras contam conjuntamente com 640 milhões de clientes no mundo e oferecem cobertura na Europa, Ásia e América Latina. A Telefonica tem 9,6% do capital da China Unicom, que, por sua vez, possui 1,37% da operadora espanhola.

No entanto, o melhor exemplo da forte presença espanhola na América Latina é dada por seus dois grandes bancos, Santander e Bilbao Vizcaya Argentaria (BBVA), que obtêm nessa região cerca de 50% de seu lucro. Os participantes do Fórum Europa consideraram que um país com a Espanha, sem perspectivas de reencontrar o caminho da recuperação econômica e social até quase o final de 2013, pode melhorar sua situação se intensificar suas ligações com as áreas dinâmicas do Sul, em especial os países latino-americanos. Envolverde/IPS