Pesquisa propõe o uso da energia eletromagnétca para o tratamento de pacientes com tumores avançados no fígado. Foto: Gustavo Lourenção

Parece loucura. Recentemente, uma pesquisa internacional foi publicada na prestigiosa revista British Journal of Cancer, demonstrando a utilização de campos eletromagnéticos (CEM) para tratar câncer disseminado no fígado. O estudo foi realizado com esforço conjunto de cientistas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade do Alabama, nos Estados Unidos, e do Instituto Federal Suíço de Tecnologia, liderados pelo oncologista paulista Frederico Costa. Isso mesmo. Os doentes receberam um tratamento totalmente não convencional.

Um instrumento parecido com uma colher era colocado na boca dos pacientes e ligado por um cabo ao equipamento que gera a energia eletromagnética. O paciente fica sentado durante 60 minutos, três vezes ao dia. Pode ficar assistindo à televisão, lendo ou escrevendo. Geralmente não sente nada. Alguns têm um pouco de sono. O tratamento era repetido até que os médicos detectassem sua ineficiência eventual, com o crescimento dos tumores. Surpreendentes resultados. Além da tolerância tranquila, mais de 40% dos pacientes tiveram seu tumor estável, sem aumento de volume, ou tiveram redução do tamanho avaliada por tomografia computadorizada.

Conversamos com o doutor Costa para esclarecer os resultados e o potencial desse estudo.

CartaCapital: Como surgiu a ideia de usar campos eletromagnéticos no tratamento do câncer de fígado?

Frederico Costa: A pesquisa começou em dezembro de 2001, durante um projeto liderado pelo doutor Pasche, na Suíça. Observou-se que pacientes portadores de câncer apresentavam uma resposta autonômica (alterações cardiovasculares) quando expostos a frequências específicas, com precisão de 10-7 Hz. Iniciou-se o processo de identificação de um conjunto de frequências específicas para cada doença. Com o desenvolvimento de um equipamento capaz de expor o paciente a esse conjunto de frequências, iniciou-se um estudo para testá-lo no tratamento de doentes. Com a constatação de resposta tumoral interessante em três deles, iniciamos o estudo em câncer de fígado avançado, cujo tratamento, em 2005, era baseado apenas em quimioterapia.

CC: Quais foram os pacientes incluídos nesse estudo?

FC: Pacientes com tumores de fígado avançados, sem opções convencionais de tratamento.

CC: Como o senhor classifica os resultados obtidos nesse estudo?

FC: Revolucionários. É um campo de pesquisa muito interessante e com potencial bastante promissor.

CC: Quais são as complicações observadas ou esperadas?

FC: Até o momento, cerca de mil indivíduos já foram expostos de forma prospectiva a essa forma de aplicação de CEM, durante os vários experimentos. A única toxicidade observada foi sonolência e em grau leve. Temos pacientes expostos a períodos longos de tratamento continuado, chegando a cinco anos, e não estamos observando efeitos deletérios sérios.

CC: Esse tratamento é caro?

FC: A tecnologia é sofisticada, pois tem de emitir uma combinação de frequências com precisão de 10-7 Hz, e que sejam distribuídos e controlados por plataforma na rede. A terapia é experimental e, portanto, não está disponível comercialmente e seu custo ainda não foi estabelecido.

CC: Como os pacientes reagiram?

FC: Nos estudos que conduzimos, a aderência ao tratamento foi quase universal, apenas um paciente abandonou o tratamento.

CC: Qual foi a reação dos colegas médicos a esses resultados?

FC: De início, até nossa equipe de investigadores estava incrédula. Após a inclusão do terceiro paciente e a constatação de resposta ao tratamento, ficamos animados. Com a publicação do estudo, temos recebido comentários de especialistas do mundo todo, querendo participar das novas fases de desenvolvimento.

CC: Qual será o próximo passo da pesquisa?

FC: Estamos finalizando os estudos experimentais e preparando a abertura de estudo mais extenso em câncer de fígado no primeiro semestre de 2012.

* Publicado originalmente no site da revista Carta Capital.