Bulawayo, Zimbábue, 22/12/2011 – A zimbabuense Duduzile Sibanda descansa um pouco enquanto prepara sua terra para plantar milho. Enxuga a testa suada pelo Sol abrasador e olha para cima. Se preocupa por haver poucas nuvens e se pergunta em voz alta “quando o céu vai chorar?”. Esta mulher de 57 anos vive na rural Mberengwa, na província de Midlands. Agricultora de pequena escala toda sua vida, esta avó está preocupada porque, nesta temporada de semear, as chuvas chegarão tarde. Falharam seus conhecimentos indígenas que sempre usou para estudar as estações.
A época de plantar começava em outubro com as chuvas, mas agora já é dezembro avançado e estas não caíram. “Caminhamos para outra seca”, disse com clara frustração. No ano passado, a colheita foi ruim, e Sibanda não quer outra de rendimento menor. Nestas áreas rurais, os moradores praticam a agricultura de subsistência. “Sempre estudamos o céu para saber quando começa cada estação. Agora já não sabemos”, lamentou Sibanda à IPS.
Sua vizinha, Jennifer Nkomo, disse estar consciente da ameaça de más colheitas, e que teme que as chuvas atrasadas possam significar que tenha de receber ajuda alimentar. “O que sempre quisemos foi podermos nos alimentar, mas sem as chuvas isto não acontecerá, e não podemos enfrentar a maldição dos céus”, afirmou Knomo, expressando a frustração que se tornou palpável entre os pequenos agricultores da região. “Só queremos que os céus se abram”, afirmou. Porém, quando as chuvas chegam, não caem na mesma quantidade que no passado.
Segundo o Departamento de Serviços Meteorológicos do Zimbábue, chuvas “abaixo de normais e normais” começaram na província de Midlands no dia 18, mais de dois meses depois do habitual. A Aliança Clima e Desenvolvimento (CDKN), que trabalha com o governo do Zimbábue para formular uma política sobre a mudança climática, informou que pesquisas recentes sobre o impacto deste fenômeno sugerem que o país terá de enfrentar variáveis padrões de chuva, aumento de temperatura e mais eventos extremos, como inundação e secas.
Segundo a CDKN, secas mais prolongadas e frequentes podem reduzir substancialmente os rendimentos dos cultivos, incluindo o milho, alimento básico neste país africano. Sobona Mtisi, especialista em mudança climática que lidera as pesquisas da DCKN no Zimbábue, disse que a produção está sendo afetada por estas modificações.
A União de Agricultores Comerciais do Zimbábue (ZCFU) disse que os pequenos produtores de todo o país viram seu rendimento cair entre 50% e 75% este ano, em comparação com 2000. Anos de atividades agrícolas interrompidas após o lançamento do programa de reforma agrária em 2000, junto com as modificações climáticas, fizeram com que este país sofresse diversas colheitas ruins consecutivas.
Neste ano, foram colhidas apenas 800 mil toneladas, contra 1,2 milhão de toneladas esperadas, segundo a ZCFU. Isso causou preocupação quanto à necessidade de utilizar métodos agrícolas alternativos para mitigar os efeitos da mudança climática. O Zimbábue é atualmente um grande importador de milho de seus vizinhos. Este ano comprou um milhão de toneladas, pagando por elas US$ 270 milhões.
“Os pequenos agricultores são especialmente afetados pelas mudanças do clima, já que não têm nem ideia de quando plantar e quando não plantar, uma vez que os sistemas de conhecimentos que usam estão se mostrando inúteis”, disse Josh Manyora, da organização ambientalista Environment Africa. “Na falta de programas que ensinem as pessoas das áreas rurais mais afastadas sobre meteorologia, clima e novas técnicas agrícolas que respondem aos desafios da mudança climática, teremos estes problemas a cada ano”, afirmou.
A norte-americana Rede de Sistemas de Alerta Contra a Fome anunciou em novembro que mais de um milhão de zimbabuenses precisarão de assistência alimentar no ano que vem, em meio a sinais de que o país não poderá cultivar alimentos suficientes para se autoabastecer. A segurança alimentar está ligada aos desafios que a mudança climática apresenta, afirma o Grupo de Análise de Sistemas Climáticos da Universidade da Cidade do Cabo, que observou que os sistemas agrícolas que utilizam as chuvas na África são os mais prejudicados.
Segundo a Aliança para uma Revolução Verde na África (Agra), “para centenas de milhões de pessoas” neste continente, a mudança climática não tem a ver com reduzir as emissões nem com apagar lâmpadas, mas se “terão, ou não, o suficiente para comer”. Sibanda e Nkomo sabem isto muito bem. Contudo, representam uma proporção ínfima dos mais de 70% de africanos (na maioria mulheres) que segundo a Agra dependem da agricultura para sobreviver. Envolverde/IPS